domingo, março 25, 2007

aforismos

pulsando, seguindo o som do tantã - um surdo ansioso -, eu tenho dito:
sapeca nêga. sapeca até doer nas ancas, como dizia minha vó.
sapeca sem pensar em mais nada e conduz nosso cordão do irreparável, do improvável jeito já previsível, mas sempre excitante da possibilidade, apenas da chance de tocá-la, lá bem alto, e colocá-la no bolso e sair correndo.
o problema é o pouco que já alegra. pouco e barato, que nem os almoços do meu pai.
não dá nem tempo de ficar triste. quando eu vi, já tô no meio da pavunça.
glacê é bom mas não enche a pança, já dizia aquele ditado carioca.
a gente fica lambendo a tigela do bolo de chocolate, e esquece do arroz com feijão. depois dá gastrite, asia e até diabete. se eu tivesse uma Tia Bete com diabete seria um eterno trocadilho redundante. eu ia enlouquecer a velha. mas quem sabe avisa: almoça menino, saco vazio não pára em pé. é verdade, não pára em pé. a gente cai mas levanta depois, na dialética do joão-bobo. glacê, glacê, glacê. às vezes enjôa. mas demora...
comigo é assim, o Paulinho falou tá falado: "que tal felicidade, sempre tão fulgaz, a gente tem que conquistar". o problema é quando a gente confunde felicidade com estar contente o tempo inteiro. aí dá no que dá. o bloco 'dos que não aconteceram' engrossa suas fileiras; basicamente defasados em relação ao bloco 'do não pergunte minha opinião, eu apenos sigo', que já dobra a esquina lá na frente, num carro zerinho, da hora. o momento agora é de plantar, depois a gente colhe, com calma. essa história de querer colher antes de plantar está tornando meus domingos impossíveis de qualquer tipo de aproveitamento físico-intelectual.
fui mirim: joguei biribinha na largada achando que estava só me aquecendo. quando vi explodi ela! pois se "não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar", a gente vai indo, indo e quando vê, já foi. seguindo essa linha de raciocínio, que a grosso modo quer dizer, "enfim, a culpa não é minha", tem uma poetisa, da pegada, que diz: "a vida é que nos tem: nada mais temos".
ou seja, essa experiência momentânea, imediata de submersão sígnica de fenômenos que nos envolvem e atingem, na produção racional-emocional de uma compostura de ser e estar, na realização da consciência humana em sua plena condição efêmera e mortal que entendemos como vida, é muito mais abrangente de possiblidades que nossa percepção objetiva, ingênua em sua megalomania, postulando assim, a essência de viver, que é se entregar na sua impossibilidade de equacionar, possuir ou delimitar o que virá, e sendo assim, apenas como espectadores ativos e agentes do agora, de um mundo de possibilidades que podemos ou não obter, dependendo de quanto estamos nos poupando, sabe-se lá pra quê. mas, o tentar já é incrivelmente divertido, seja lá o que for que estamos tentando.
e assim, precisando de apenas um mês na esbórnia pra jogar no lixo as resoluções do ano inteiro, ampliando verticalmente a capacidade de fazer as coisas equivocadamente num tempo excessivo, a gente vai enrolando.
sapeca nêga, sapeca que o carnaval só acaba quando Paulinho mandar.

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