quinta-feira, dezembro 21, 2006

NAtal é a coisa mais bizarra que existe (depois da Páscoa)

ah o Natal! todas aquelas luzes coloridas, musiquinhas de celular muito antes de celular existir, e aquele tumulto pra comprar presente.
contrariando meus grupos de amigos de jovens, eu não sou nem ateu, nem meio-comunistinha-meio-ambientalista, nem gay, nem anti-família, e portanto continuo achando o Natal um barato. mas de uns tempos pra cá, conforme foram crescendo pêlos no meu corpo e eu só fui ganhando cuecas de presente, o Natal foi ficando bem sem graça.

após o esfalecimento do meu encanto mirim, pude reparar na bizarrice natalina: aqueles pinheiros, aqueles alces de enfeite, neve (!) e outras coisas mais que passam longe do sul do Equador. debaixo da minha árvore tem um boneco de neve, com gorro e cachecol. posso contar nos dedos quantas vezes na minha vida vesti gorro ou cachecol, menos ainda os dois juntos. Isso porque Jesus nasceu na terra mais quente e seca possivelmente habitável na Terra. Natal é muito gringo, não faz o menor sentido tupiniquim.
confesso que a única onça pintada (nosso símbolo mor) que eu vi na vida foi na abertura de Pantanal, mas alce é demais. não sei nem aonde vive esse bicho, acho que nem sei escrever direito o nome dele. a coisa mais brasuca por perto é alface. de nada, foi minha piada sem-graça de NAtal para vocês.

falando em bicho que não se sabe as origens, a gente ainda janta um peru e um chester. peru com certeza deve vir do país vizinho da galinha, ok. agora, chester, não está nem nossos livros de biologia do segundo grau. a origem do chester é a maior incógnita do mundo desde o assassinato da Odete Roitman. minha sorte que não caiu nenhuma pergunta sobre chester no vestibular, senão estaria até hoje lavando prato.

portanto o Natal se configura numa festa bizarra, sem sentido e vínculos nacionais, com coisas estranhas ao nosso dia-a-dia, que ninguém sabe a origem, mas como todo mundo quer ganhar um celular novo, a gente vai mantendo.

as únicas coisas que a gente sabe a origem no NAtal são os presentes (que é só ver a etiqueta) e o protagonista: dizem que veio de Nazaré. de fato, Jesus é o cara mais solidário do mundo: ele nasceu pra gente ganhar presente. no dia que eu nasci, só eu ganho presente, e olhe lá.

a real é que Natal sem criança na casa é muito sem graça. fui montar a àrvore só hoje (na verdade só supervisionei, vocês me conhecem). ia pedir pro Papai Noel uns sobrinhos, mas daí só ia servir pro Natal do ano que vem. e como dizem aqueles meu amigos delinquentes que vivem no bar "vai saber o dia de amanhã se vou estar vivo". então não vou pedir se não sei se vou usar.
e o pior é que sem criança ninguém faz questão de criar aquele clima (mágico, diga-se de passagem), mas também como é uma data religiosa as pessoas ficam sem graça de encher a lata.
ora, sem emoção, sem cerveja, e tem que ficar acordado até meia-noite? qualé, vou assistir pela enésima vez Jesus Christ Superstar no conforto da minha nova cueca.

um sincero bom Natal pra todos.
repensem suas atitudes, evitem aquela lavação de roupa suja e todos aqueles constrangimentos familiares, sorriam quando abrirem seus presente, e não devolvam que é feio.
que o novo Motorola de vocês tenha uma câmera embutida com milhares de pixels e me convidem pra fazer um curta. ou filme seu tio bêbado e ponha no Youtube.

se eu não voltar a escrever até o ANo-novo é porque Papai Noel prestou atenção no meu pedido, mesmo com todo o meu peso no seu colo, e me deu uma vespa vermelha, e eu saí por aí em busca da origem do chester (eu poderia usar o Google, mas francamente...aí a vida ficaria muito sem graça).

ciao!

PS: Natal passado fui dar uma de culto e pra todos que me perguntavam o que eu queria ganhar, respondia: livro, me dê algum livro interessante. bom, passado um ano, dois deles ainda estão na fila de espera, ao lado de mais dois que adquiri no percurso. chega de ser culto, da próxima vez eu vou pedir só aquele oclinhos preto de armação grossa e quadricular.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Pinochet e outras inutilidades

Tudo começou com o Brizola; depois veio o Papa. e agora, superando todas as expectativas (falavam em pacto com o demo, ou como eu prefiro, um acordo em famiglia), foi a vez do Pinochet. Se continuarmos nesse ritmo, titio Fidel não comemorará o 50º aiversário da Revolução Cubana, Oscar Niemeyer deixará os projetos de prédios descolados públicos para outros arquitetos, e Ariel Sharon, o cara mais mau do mundo com um nome ambissexual, deixará criancinhas palestinas brincarem em paz. e por favor, Deus, eu, que nunca te pedi nada (desde do frustrante presente de Natal de 94, que se o se senhor não se lembra eu tinha dito SuperNintendo, e não quebra-cabeça do Mickey), por favor, não se esqueça da Thatcher. só isso que eu te peço: não se es-que-ça da Tha-tcher. se bem que, com sua útlima declaração (Thatcher, não Deus) de "profunda tristeza" com a morte do Pinochet, ela conseguiu alcançar o sétimo sentido espiritual da sensibilidade humana, quase um nirvana da solidariedade, o que pode aumentar, uns trinta anos ainda sua permanência na Terra.
Ok, ok, desde de que, de fato, exista um Inferno, pior que a balada (tô brincando, sem qualificar baladas aqui, deixamos isso pro Guia da Folha) e que eles queimem dolorosamente lá, tá limpo (exceto Fidel e Niemeyer, e outros velhos comunistas como Saramago, porque eu ainda tenho um projeto de conhecer eles, e quem sabe casar com a filha.. não, não.. filha já foi.. então com alguma neta deles e herdar alguma coisa da hora). daí eu ganho um broche da União Soviética! ah, me poupe... já mudei de idéia.

...

Segundo Marilena Chauí, "quando procuramos a origem das palavras pensamento e pensar, descobrimos que procedem de um verbo latino, o verbo pendere, que significa: ficar em suspenso, estar ou ficar pendente ou pendurado". daí eu disse isso pro Genildo, o dono do bar: penduro, logo existo; devo não nego, pago quando puder.
aí ele me mostrou a louça suja e a conversa filosófica acabou por ali.

...

franquista jamais (senão meu pai me mata, ou meu avô ressuscita e ele sim, me mata), mas sou franco o bastante pra dizer: 'não é nada pessoal, mas você enche o saco'. ou, 'não é por nada não, mas você é um puta de um bundão'; ainda não apanhei porque sou um franco com consciência de segmento de mercado: evite os fortes e ignorantes. andei treinando com meu priminho: "Lipe, você tá chato hoje. desce daí que já tá doendo. quem é o meu chatinho? quem é o meu chatinho?" com aquele jeito que a gente fala com cachorro "quem é o meu garotão?" sabe? "quem é o meu garotão?" "quem é o meu garotão?" não sabe? aonde você estava nos últimos quinze anos de filmes americanos na Sessão da Tarde?

...

São Paulo não chega a ser o túmulo do samba porque vive tendo sambinhas espalhados pela cidade. Ainda que copie o estlio carioca de tocar, está mais próximo de ser um negativo do Rio. negativo, negativo, aquele de revelar foto. nas suas devidas proporções, no último fim-de-semana, eu e mais, literalmente, meia dúzia de brancos num contigente de mais, bem mais que cem pessoas, em qualquer samba-de-roda do Rio contrastam com o sambinha de ontem na Vila Madalena. Contados, num ambiente de pelo menos cem pessoas, cinco negros: meu amigo, um músico, uma moça e um rapaz, e o garçom. samba-pó-de-arroz ou samba-macarrônico, como preferir.

No Rio, eu estava pensando romanticamente (porque tirando meu lado grosso e cafajeste, eu costumo ser romântico): a senzala venceu. as manifestações negras, segregadas, perseguidas e proibidas, se deu de uma forma tão intensa e importante pra constituição de uma identidade cultural pra grande massa que insurgiu, de um tal modo, que extravasou a 'cozinha' e hoje domina a 'sala', principalmente o televisor. por outro lado, se deu uma apropriação branca e capitalista (indústria fonográfica e do entretenimeto) que corroeram alguns vínculos mais culturais baseados em relações concretas de experiêcias sociais, religiosas, que sustentavam todo o processo de criação e realização do samba, desde seus instrumentos, ao modo de tocar e à temática das letras, transformando, aparentemente (pelo menos em São Paulo, na classemédiolândia), num produto chamado "cultura nacional de diversão, à venda na próxima balada, aproveite enquanto é cult".
uma visão crítica da coisa.
ou não (viva Caetano!).
acho que falei um monte de besteira, até porque eu não tenho nenhum embasamento teórico, musical, não sou estudante de Sociais, e definitivamente não tenho compromisso com a verdade.
às vezes ( e só às vezes ok?) eu me engano, mas daí eu fico insistindo um pouco pra ver se o engano, que pra mim faz tanto sentido, não vira verdade. geralmente não.

o plausível já me basta mesmo.
eu avisei que era franco.
diferentemente (olha como é a vida) do Pinosheet, que admitiu que mentia às vezes, por isso usava óculos escuros. sério, saiu no Estadão. esclerosado é pouco. minto, logo uso óculos escuros. qualé? aonde está o sentido disso?
se fosse assim ninguém acreditaria em cegos.
e nem no Chico Xavier.
...

ouvi dizer, que um americano médio (tamanho GG), ao saber da morte do Pinochet, perguntou à esposa: e agora querida, quem vai ser o presidente da Bolívia?

sábado, dezembro 09, 2006

agora vai. cortei o cabelo, fiz a barba, e porque não, escovei os dentes.
tô brincando. só cortei as unhas. é bom pra não ficar espremendo cravos-que-inflamam-e-viram-espinhas-contrangedoras-anacrônicas.
o cabelo cortaram por mim (da outra vez que eu mesmo tentei pareci com um mendigo) , agora a barba foi eu que fiz mesmo. isso explica pontilhos de sangue, fazia tempo que eu não treinava.
barba-cabelo-bigode. fala isso três vezes e mentaliza um desejo.
barba-cabelo-bigode-barba-cabelo-bigode-barba-cabelo-bigode: plim! pra mim? obrigado, não precisava. te amo deus. opa, Deus, perdão. é assim que se deve falar com Ele. ou, se me permitem a capciosidade, Ela?
puff! um braço a menos.
definitivamente Ele não tem o menor senso de humor e ainda por cima é rancoroso.
eu entendo, todo órfão é assim. ou filho único. mimado, não aguenta brincadeira. vai lá então bater bola sozinho na parede.
daí me perguntaram: mas porquê a mudança radical? preciso arranjar um emprego, uma namorada e regastar toda minha dignidade social, para que as pessoas voltem a me dar bom dia no hall de espera do elevador. ou que pelo menos comentem sobre o tempo.
olha, tá quente, e não é culpa minha, juro. nem tenho carro, não fumo, não poluo e não voto no bush. então, se enquanto estamos indo do décimo pro tê você queira comentar alguma coisa comigo, sou todo ouvidos pra ahãss, pois és, é-é-mesmoss.
só por isso? não, tem mais a ver com dinheiro e mulher mesmo. assim não dá? dá dá não dá, mas fazendo bico vai dando né.
aí ele me perguntou: mas porque você é zuado assim? quer dizer, o que aconteceram com seus dentes da frente?
pois é, rapaz, foi um incidente numa festa com muitas long-neks e nenhum abridor de garrafa.
era só abrir com a mão. põe um pano e gira.
não sabia dessas modernidades...[momento pensativo] isso explica porque mesmo sem som a festa tava tão animada;
aí ele me perguntou: mas porque você é zuado assim? quer dizer, o que aconteceram com seus dentes da frente?
pois é, rapaz, foi um incidente envolvendo uma par de seios comprometidos com um orangotango com um par de neurônios, nada modernos diga-se de passagem. um era possessivo e outro era machista. daí já viu né...
aí ele me perguntou: mas porque você é zuado assim? quer dizer, o que aconteceram com seus dentes da frente?
guardo no bolso. no almoço só uso os de trás mesmo. menos coisa pra limpar depois né?
eu gosto de ficar passando a língua na gengiva, como se eu estivesse sexualmente provocando alguém. às vezes eu chupo um dente como se estivesse palitando sabe? chuap, chuap, faz o barulinho da língua-saliva-dente.

cortei o cabelo, fiz a barba. cortei o açúcar, fiz dez abdominais.
cortei o cabelo, fiz a barba, troquei meu Bukowsky por outra Pessoa.
outra pessoa sou eu. solidariedade é meu sobrenome: fiz o bulso da minha vó por gentileza, tirei o pulso da minha vó por gentileza, apresentei minha vó pro gentileza e disse: vó esse é aquele doido que escrevia aquelas parábolas bíblicas promovendo o nascimento de um novo homem enquanto assassinava o português. como a senhora pode ver, ele já está morto, e se você não colocar meu nome (completo dessa vez, e não vale apelidos constrangedores de infância) no teu testamento, provavelmente ficarei pobre, cabeludo, sujismundo, e viverei de profecias malucas escritas em viadutos de uma grande cidade.

já estou preparado pra próxima festa: cortei o cabelo, fiz a barba, passei bicarbonato de sódio nos dentes (agora globais), e decorei umas dez músicas do Chico caso apareça uma rodinha de violão e belas-cultas-sensíveis garotas. claro que eu não esqueci da camisinha, pra não repetir meu pai, e dessa vez tenho um abridor de garrafa no bolso. e também estou levando um sachê de maionese caso tenha dificuldades. droga, pensei que tinha parado com Bucowsky. então vou penhorar meu canivete suíço, minha castanhola espanhola e minha cafeteira italiana.
vou comprar um gravata azul. piu bella. combina com o vulcabrás que eu herdei do meu vô.
daí é só cortar o cabelo, fazer a barba e decorar aquela parte, do Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peitoExijo respeito, não sou mais um sonhadorChego a mudar de calçadaQuandoaparece uma florE dou risada do grande amorMentira.
tudo isso num sol sustenido, sob a lua num sereno be-mol.

larguei a rodoviária e a vida de cafajeste. não como mais frango com a mão.
fiz o bigode, guardei o ray-ban, e de camiseta ninguém mais vê meu colar dourado de SãoJorge.
e nem aquela tatuagem amor-só-de-mãe que eu fiz com uma bic quando passei pela cadeia.
aí ele me perguntou: mas porque você é zuado assim? quer dizer, o que aconteceram com seus dentes da frente?
pois é, rapaz, foi um incidente envolvendo jogo-do-bicho, cadeia, uma tatuagem amor-só-de-mãe, e um delinqüente pensamento alto: só se for a tua.

ainda dói pra sentar.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

e agora, uma daquelas minhas poesias, que depois eu me arrependo de postar, lá vai:

me distraio da vida
colorindo
me distraio do que vejo
de verdade
me distraio ocupando
o vazio
me distraio esvaziando
a ansiedade
me distraio fugindo
do meu tempo
me distraio correndo
ao mercado
me distraio bebendo
mais um trago
e eu me estrago pra me distrair
e eu me destruo enquanto me distraio

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Ipanema: projeto de vida

outro título seria: meu reino, meu reino por um caladril.
se você não é branquelo jamais entenderá (nada contra, sou corinthiano, não faço piada racista).
é que nós, ilustres netos de europeus civilizados, herdeiros da cultura clássica grega, e que vieram com uma mão na frente e outra atrás fugindo da fome para o Brasil (com piolho e muita cárie), não podemos, nas praias e lugares a céu aberto, travar um diálogo muito duradouro com o Rei Sol. tive a pachorra de tirar sarro dos gringos em Ipanema, que davam um show de branquelice em mim, torrando num Sol de dar dó. foi suficiente: fui dar um pulo n'água e me exibir pras cariocas que agora só consigo dormir de barriga pra cima, bezuntado de hidratante. até sorrir dói!

nas minhas visitas ao samba carioca, legítimo (porque nenhum foi na Zona Sul), percebi a diferença entre cultura popular carioca e balada de classe média paulistana. e percebi que calor somado à pressão atmosférica ao nível do mar me dá um leseira, uma preguiça, uma vontade de dormir, que de fato, seria impossível pra qualquer ser humano naquela terra manter o mínimo de compromisso com o Deus-Trabalho. talvez isso também explique o povo baiano.

desempregado é quadro. desocupado é aquela função ridícula que a gente faz quando 'trabalha'. eu prefiro o termo 'não é que eu não trabalho, é que eu prefiro fazer uma coisa mais útil pra mim mesmo'. um empenho narcísico. mas cult: ver filmes, exposições, ler livros, ver tua família, ver a luz do dia, evitar tendinites e faniquitos de pessoas que não gostam dessas atividades que eu citei acima.

após largar essa vida de estagiotário, pensei sobre minhas atitudes e fiz uma auto-crítica, numa segunda-feira, lá pelas duas da tarde, deitado, embaixo de um guarda-sol em Ipanema.
daí tive a uma idéia pra ajudar nossa humanidade-xaropeta. é o que eu chamo de Ipanema:projeto de vida.
no meu próximo governo eu juro uma Ipanema em todas as cidades com mais de quinhentos mil habitantes, para melhorar a sociabilidade e lembrar que a vida é boa, e trazer alegriapra alma-amarela-de-crachá.
e o que eu mais gosto mais de Ipanema nem são aqueles gringos irremediáveis, que acham que só porque a meia tem comprimento até a metade canela, significa que ela tem que estar erguida até a metade da canela, e nem é a água (que sempre que eu vou está absurdamente gelada), e nem tanto as cariocas de biquini (tenho uma tese que explica as cariocas não gostarem de paulissstas), mas é a paz de espírito pra ficar deitado dormindo, sem pensar em nada, só soltando grunidos de 'não, brigado' para os ambulantes-constantes injustiçados pelo neo-liberalismo.
eu também gosto bastante do Leblon, como bairro em geral, pena que tudo tem preços orbitantes. mas antes que isso vire novela da Globo, só queria deixar claro, que sim, existe vida pós-trânsito-enchente-patrão-vidinha-de-ser-um-número-na-catraca-e-pagar-impostos.

existe um povo, que anda sem camisa até no metrô e mija em qualquer canto.
um povo que não gosta de placa de rua, solta tiros à noite, e faz um samba-de-roda à cada esquina.
um povo que trabalha também, mas não acha isso o sentido da vida.
um povo negro pra ca-ra-lê-o, pra lembrar que a faculdade ainda é lugar da elite branca.
(engraçado se sentir elite, quando você não faz idéia da onde vai tirar dinheiro pra cobrir tua conta depois do último fim-de-semana)
esse é o povo carioca: uma mistura engraçada de um certo provincianismo numa cidade grande, com um jeitão brasileirão, que no meu ingênuo otimismo juvenil, vejo como uma digna resistência cultural, de legítima nacionalidade, de forma a evitar uma pasteurização do seres humanos naquele babaquinha ocidental que exerce sua cidadania fazendo compras e se distraindo com acessórios coloridos pro seu novo-carro-velho.

vocês perceberam que agora que minha fonte de renda bruta foi 'dispensada' eu meto o pau em quem tem dinheiro. isso se chama, num bom português, de inveja.
mas como eu sou aquele que nem estuda Ciêcias Sociais mas vai fazer um estudo antropológico no Rio de Janeiro em plena 'segunda-feira ao sol', acho que não é minha vez de ter inveja. hihihihi.

e agora uma clamação-de-desabafo:
me amem e eu vos amarei.
me odeiem e ignorarei-vos até voltarem a me amar.
me liguem, me chamem pra sair, passem caladril nas minhas costas.

beijo-tchau.

PS: no Samba do Trem (que lá eles chamam de Pagode no Trem) conheci o Nelson Sargento, lenda da Portela. vou contar pros meus filhos. mas antes vou baixar alguns cd's deles na internet só pra saber o que ele canta e porque é uma lenda. isso se chama ignorância-paulisssta.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Eric Hobsbawn, uma vez, disse que a história da humanidade é cíclica ascendente.
se ela anda pra frente, eu não sei, mas dar voltas ela dá.
eu por exemplo, larguei a tanga de estagiário e voltei ao meu melhor cargo: bon-vivant de plantão.

tô indo pro Rio pra 36 horas de esbórnia-total com muito samba e uma criaturagem-10.

se eu não voltar é porque me envolvi com uma nega lá.
(ou porque gastei todo meu dinheiro em cerveja)
tchau.

sábado, novembro 25, 2006

tá ok.

UOL me disse: morreu ontem o último panda marrom e branco. Neste momento, uma lágrima escorre pelo meu rosto.

...

No começo, ser enganação é ótimo: você faz uma média, constrói um personagem, faz um pout-pourri de esteriótipos, alguns trejeitos, e uma ideologia bonita-ecológicae-ou-anacrônica também ajuda. as pessoas compram a idéia e daí você vai alcançando o seu objetivo social-local. Só que vai passando um tempo, e vai ficando perigoso quando você mesmo começa a acreditar na sua própria enganação e começa a esperar que você tome atitudes conforme aquilo que você mesmo projetou ser. Aí vem uma certa frustração, e um lembrete: é mesmo, eu não sou assim, era só brincadeira. daí você levanta do chão, reconstituí os fragmentos da sua cara, passa um durepox, toma um chá de humildade (pode ser de saquinho) e começa a bolar outra enganaçãozinha.

Fui no meu SAC psicológico reclamar que o conteúdo do produto que eu tinha adquirido não constava com as promessas da embalagem.

...

Outro dia caiu um pé d’água aqui em casa, tão forte, com os maiores e mais fabulosos trovões que eu já vi na minha vida. Era cada barulho de explosão impressionante. Juro. Pensei comigo mesmo: pra quê tudo isso? Deus deve estava com raiva de alguém. Aposto que alguém no bairro anda cometendo o incesto.
O pior que raios e trovões são imprevisíveis (se alguém sabe prevê-los com certeza não sabe me explicar), então você acaba de levar um susto com um e vai ficar sempre na tensão de levar outro susto, que a qualquer momento cai mais um. A qual-quer mo-men-to! Coloca um violino no fundo e temos um filme de terror.

Fiquei imaginando na nossa época pré-tribal-tribalista. Claro que não existia civilizações antigas atéias. Como explicar a fúria do raio e do trovão? Não dá nem pra dormir. Daí imaginei um pré-histórico, numa dessas tempestades elétricas-magnéticas-que-queimam, dando bobeira num lugar descampado e levando um raiasso na cuca e lógico, batendo as botas. Daí, no dia seguinte, naturalmente acabaram-se o raios e a tribo encontra o sujeito morto. O ser humano não costuma ser muito inteligente quando anda em grupo, portanto deve ter sido fácil associar ‘fim-dos-raios’ com o ‘martírio-sacrifício’ do desatento que vacilou. Pronto, tivemos nosso primeiro santo-totem-mágico responsável, ainda não pela colheita, mas pelo fim das trovoadas-relampejadas. E este foi o princípio dos sacrifícios e dos cultos malucos. Nossa primeira autoridade religiosa e conseqüentemente política, foi um mané distraído na chuva.
Por isso eu não confio em autoridades. Está em sua gênese o seu caráter estúpido.

...

Partindo do pressuposto que preciso passar uma idéia de culto, tive que ir na Bienal.
Ainda mais que se o meu projeto de fazer um vídeo descoladex, colocar no YouTube e esperar a MTV me contratar não der certo, virarei artista, daqueles incompreendido por anos, e por isso já preciso ir me atualizando.
Não farei críticas, pois sei que réles mortais não entendem a Arte contemporânea, e como grandes vanguardas injustiçadas, só lá na frente vão reconhecer seu valor. Por isso quero ser da turma pra-frentex, que ignora o saudosismo, e acho tudo ‘bár-ba-ro’.
Fala sério, as fotografias estão ótimas, mas o que mais me impressionou foi uma ‘obra’ no meio da Bienal, estilo playground infantil, questionando o quanto crianças podem atrapalhar um pai numa exposição e portanto vou deixá-la nesse pula-pula se distraindo.
Sem contar o vídeo do gato comendo um rato.
Foi lindo. Quase fiz uma performance:
O gato.
O gato come.
O gato come o rato.
Como o gato come.
De fato, o rato.
De novo, o gato.
De fome não morro.
No morro tem churrasco de gato.
O gato comeu o rato
Da-rou-pa
Do-Rei
De- Ro-ma.

Sou fã de arte conceitual. Mas às vezes faço ridículo. Perdi dez minutos absorvendo todo o conjunto sígnico-semiótico da questão das queimadas nas florestas, dos atentados terroristas, das explosões deliberadas. Mas daí minha irmã me puxou e disse: “não Rafa, isso é apenas um extintor; faz parte do sistema de segurança do prédio.”
Ah bom. Alguma coisa eu entendi de lá.

tá ok.

UOL me disse: morreu ontem o último panda marrom e branco do mundo. Neste momento, uma lágrima escorre pelo meu rosto.

...

No começo, ser enganação é ótimo: você faz uma média, constrói um personagem, trejeitos, ideologia, faz um pout-pourri de esteriótipos, as pessoas comprarm a idéia, se emocionam e você alcança algum objetivo social-local. Só que vai passando um tempo, e vai ficando perigoso quando você mesmo começa a acreditar na sua própria enganação e começa a esperar que você tome atitude conforme aquilo que você demonstra ser. Aí vem uma certa frustração junto com um lembrete: é mesmo, eu não sou assim, era só de brincadeira.

Fui no meu SAC psicológico reclamar que o conteúdo do produto que eu tinha adquirido não constava com as promessas da embalagem.

...

Outro dia caiu um pé d’água aqui em casa, tão forte, com os maiores e mais fabulosos trovões que eu já vi na minha vida. Era cada barulho de explosão impressionante. Juro. Pensei comigo mesmo: pra quê tudo isso? Deus deve estava com raiva de alguém. Aposto que alguém no bairro anda cometendo o incesto.
O pior que raios e trovões são imprevisíveis (se alguém sabe prevê-los com certeza não sabe me explicar), então você acaba de levar um susto com um e vai ficar sempre na tensão de levar outro susto, que a qualquer momento cai mais um. A qual-quer mo-men-to! Coloca um violino no fundo e temos um filme de terror.

Fiquei imaginando na nossa época pré-tribal-tribalista. Claro que não existia civilizações antigas atéias. Como explicar a fúria do raio e do trovão? Não dá nem pra dormir. Daí imaginei um pré-histórico, numa dessas tempestades elétricas-magnéticas-que-queimam, dando bobeira num lugar descampado e levando um raiasso na cuca e lógico, batendo as botas. Daí, no dia seguinte, naturalmente acabaram-se o raios e a tribo encontra o sujeito morto. O ser humano não costuma ser muito inteligente quando anda em grupo, portanto deve ter sido fácil associar ‘fim-dos-raios’ com o ‘martírio-sacrifício’ do desatento que vacilou. Pronto, tivemos nosso primeiro santo-totem-mágico responsável, ainda não pela colheita, mas pelo fim das trovoadas-relampejadas. E este foi o princípio dos sacrifícios e dos cultos malucos. Nossa primeira autoridade religiosa e conseqüentemente política, foi um mané distraído na chuva.
Por isso eu não confio em autoridades. Está em sua gênese o seu caráter estúpido.

...

Partindo do pressuposto que preciso enganar com uma idéia de culto, tive que ir na Bienal.
Ainda mais se o meu projeto de fazer um vídeo descoladex, colocar no YouTube e esperar a MTV me contratar não der certo, virarei artista, daqueles incompreendido por anos, e por isso preciso ir me atualizando.
Não farei críticas, pois sei que réles mortais não entendem a Arte contemporânea, e como grandes vanguardas injustiçadas, só lá na frente vão reconhecer seu valor. Por isso quero ser da turma pra-frentex, que ignora o saudosismo, e acho tudo ‘bár-ba-ro’.
Fala sério, as fotografias estão ótimas, mas o que mais me impressionou foi uma ‘obra’ no meio da Bienal, estilo playground infantil, questionando o quanto crianças podem atrapalhar um pai numa exposição e portanto vou deixá-la nesse pula-pula se distraindo.
Sem contar o vídeo do gato comendo um rato.
Foi lindo. Quase fiz uma performance:
O gato.
O gato come.
O gato come o rato.
Como o gato come.
De fato, o rato.
De novo, o gato.
De fome não morro.
No morro tem churrasco de gato.
O gato comeu o rato
Da-rou-pa
Do-Rei
De- Ro-ma.

Sou fã de arte conceitual. Mas às vezes faço ridículo. Perdi dez minutos absorvendo todo o conjunto sígnico-semiótico da questão das queimadas nas florestas, dos atentados terroristas, das explosões deliberadas. Mas daí minha irmã me puxou e disse: “não Rafa, isso é apenas um extintor; faz parte do sistema de segurança do prédio.”
Ah bom. Alguma coisa eu entendi de lá.

domingo, novembro 19, 2006

Homenagem ao malandro

da Hollanda o mais perto é um bisavô na Itália. Buarque-quem? ninguém mesmo. e de Chico só meu bicho de estimação. minha ligação com o Chico passa do vinil pela agulha que vai pro amplificador, chega aos meus ouvidos, e num dia mais sensível (nunca direi isso na frente dos meninos, portanto não espalhem) toca meu coração. eu sou um cara muito sensível e quem discordar disso eu espanco até sangrar, dou bica na costela e de quebra encoxo a mãe do otário.

eu, no mais completo sentimento de inveja, conformado e inconformado, poderia até dizer que o 'burguesinho nasceu em berço de ouro, de família de intelectual, que tinha tempo e dinheiro pra estudar e conhecer um monte de coisa que propiciou uma fertilidade criativa de qualidade", como se qualquer um que estivesse no seu lugar teria feito o mesmo. mas não posso atacar com meu jargão de comunistinha-mal-amado. simplesmente porque, além de tudo que o Chico faz, ele realmente ganha minha admiração com o empenho que ele tem em ser jogador de futebol, ter um time, uniforme e levar a sério um aspecto tão forte da nossa cultura. e ai de quem discordar de que futebol é cultura.

detesto fazer elogios rasgados para homens (a não ser pro meu pai), mas é impressionante a capacidade que o Chcio tem de ser talentoso e fazer bem feito em todas as áreas. para me livrar do perigo, passo a peteca: nas palavras da minha mãe e tias, "ele escreve bem, faz lindas músicas, é sensível, é inteligente, culto e como se não bastasse, é lindo", "é, é lindo", confirma uma amiga delas.
ok. eu não caso enquanto o Chico estiver vivo. sou narcisista mas sei que é meio difícil competir com unanimidades.

malandro é o gato. o cara se auto-projetou de uma forma que não tem nenhum aspecto que desagrada. já no meu caso, ou é um ou é outro: quando eu consigo ser bonito, consigo proporcionalmente ser estúpido, quando dou uma de culto não fico muito atraente, e quando jogo bola daí nem presto atenção em outras coisas.

o Chico agrada a todos. malandro, não se contentou em cantar, resolveu ser poeta; não se contentou com música fez livro; não se contentou em ser bonito ainda resolveu ser jogador de futebol; só pra me agradar, aposto.

sorte que eu não sou amigo dele. se fosse, todas as pessoas perderiam a graça.

como eu não pensei nisso antes? sensível que joga uma bola e entende as mulheres. perfeito.
a fórmula é ótima, e eu bem que tentei, mas no caminho topei com uns criaturas, e no lugar da poesia e daquele olhar angustiado-romântico-pronto-pra-criar-arte, eu acabei indo pro bar esquematizar as táticas dos hedonistas f.c.
e eu também entendo as mulheres: ampliei meu cheque especial e já consegui um cartão de crédito.

Freud disse uma vez que a capacidade de um artista de 'tocar' o espectador, é que este último, reconhece, talvez indiretamente, um conteúdo e uma expressividade do inconsciente do artista naquela obra. e como em nossa sociedade reprimimos nossos desejos e os deixamos em quarentena no inconsciente, acaba gerando um certo prazer, ao 'ver' numa obra uma possível identificação dos nosso desejos do inconsciente com os do exposto pelo artista.

com isso concluí que minha possível vida de artista está fadada ao fracasso, já que eu extrapolo meus cri-cris do inconsciente nas mais puras e tenras criaturagens da vida. ou seja, eu gasto tudo no rolê, não sobra pra pôr numa 'obra de arte'.

eu só precisava de uns 30% do mel do Chico e uns 10% da conta bancária. e o pior que ele não teve filho homem pra herdar o principado. que coisa. único!

mas um dia ele morre e a Terra volta a ter homens 'normais'.
amém.
(ainda bem que já tenho um monte de mp3 dele)

sábado, novembro 18, 2006

aaliás, e que me sirvam todos os aliás e sua capacidade etmológica de voltar no tempo, o intuito era começar assim: por favor, estamos na pós-modernidade, me poupe de falsos moralismos, aliás, me poupe de moralismo algum.

e descartamos todos os padrões afim de podermos utlizarmos todos de uma só vez.

e de uma só vez engulimos, sem mastigar, até porque mastigar perde um tempão, e tempo é dinheiro, ou tempo é alguma coisa relativa que importa pra alguma outra coisa. na verdade ele, o tempo, é uma abstração futurista, sempre adiante, tentando alcançá-lo, correndo e correndo e sempre avante, não sei o que faria se o pegasse de fato, venderia, ou displicentemente deixaria escorrer pelas minhas mãos, atônito, pasmo, olhando alguma coisa colorida-animada-interativa, e o tempo voltaria a si, correndo e correndo e se distanciando, e deixando pra trás a gente e nossas preocupações, e aquele pé-de-galinha, e aquele diploma, e aquela chance, e a hora de decidir enquanto ele some no horizonte.

o tempo volta amanhã. logo de manhã com o barulho do despertador.
e enquanto nos espreguiçamos, lavamos o rosto, e pensamos sinceramente, se, de fato, vale a pena levantar e fazer de novo tudo aquilo que já fizemos e fazemos e não sabemos aonde vai, daí o malandro dispara na nossa frente, quieto, na surdina, e quando olhamos no relógio, não temos tempo de pensar que ele já fugiu de novo.

uma vez eu peguei uma gaiola velha, uma ratoeira e um pega-mosca, daqueles grudentos mesmo, e fiquei de plantão pra ver se eu pegava e aprisionava o tempo.
enquanto armava a armadilha, o tempo passou e passou e passou e eu não percebi. passou que cansou, grisalhou. perdi um tempão.

na segunda foi fantástico. tive certeza que ele, em sua façanha ardil, seja lá o que isso signifique, deu, de leve, um passo pra trás. cara-de-pau, na minha frente. depois da quarta ele é mais disciplinado, na segunda, me provoca, ao melhor estilo governamental, dois passos pra frente, um passo pra trás.

ficar velho não é o problema. o problema é a contínua existência de pessoas mais jovens. engraçado pensar que eles vão continuar mesmo depois que o tempo espalhar por aí que eu já fui, e fazer com que me esqueçam.

tem tempo pra tudo. tem tempo passado, tempo fresquinho. o meu tempo é na chapa junto com uma média.

o Paulo me deu bom conselho. amanhã não existe. coloco um dia de cada vez no meu calendário. por isso me atrapalho com datas festivas e feriados. meu calendário só fica pronto no último dia do ano, quando o ano acontece e surge ali no seu próprio fim. um dia de cada vez. e o ano nasce simbolicamente pra acabar. e é pra isso que eu uso tempo, pra acabar com ele. gasto na hora, pra não deixar ele sair na frente, e eu voltar a correr atrás;
franca mania de doido: correr atrás do tempo é se situar pra trás.
e no atrás,do tempo, está o passado.
nunca acreditei em Papai Noel mas sempre fui ingênuo.
até um tempo atrás jurava que o John Lennon era comunista.
eu escutava aquela música "Instant Karma", e com meu inglês pra-lá-de-Marrakesh, ao invés de compreender "we all shine on", entendia "we all share all". ou seja, vamos compartilhar tudo, como a Lua, como as Estrelas, como o Sol. achava que ele era uma espécie de comunista hippie (estilo minha mãe), que descarta o velho bordão da distribuição de renda, e evoca a humanidade no compartilhar dos "bens da natureza", como a Lua, as Estrelas e o Sol.
buenas. como na verdade é apenas "brilhar" ao invés do romântico "compartilhar", ele perde completamente a insígnia comunista, e Sir John Lennon volta a ser, pra mim, apenas um hippie bem sucedido em Nova York. uma espécie de yuppie do bem.

...
vida engraçada. eu ia escrever na semana passada uma pseudo-crônica com seguinte título:
A difícil arte de ser um irresponsável ou como eles estavam corretos quando me chamaram de lúmpen.
eu até tinha esquematizado na minha cabeça um princípio norteador da crônica (coisa que eu não faço), e até esboçava o parágrafo final onde explico como eu perdi minha carteira com meus documentos dentro, depois de quase 24horas de esbórnia-total, realizando minha meta de ser indigente. mas daí, não deu tempo, fiz um começo que não ficou bom e desisti.
e de fato, concluo minha irresponsabilidade: para com meus documentos, para com meus leitores e meu futuro literário.

...
minhas histórias mais legais eu não posso contar por uma questão ética.
só o círculo mais próximo sabe. aliás, só é legal pros meninos, daqueles bem criaturas.
o que sobra é aquela velha história sobre trabalhar, perder tempo, perder as coisas (ao total foi meu primeiro RG, meu estojo e agora minha carteira, sem contar minha reputação na faculdade ao longo desse ano).

...
se tem uma coisa admirável na PUC é o seu caráter público. além de dividir o espaço da van do yakissoba com alguns mendigos (ou habitantes da calçada pra eufemizar na amizade aê) que enventualmente comem por lá, descobri agora, que um meio-mendigo que fica lá no entorno da faculdade usa o banheiro da PUC. e exatamente o do meu prédio. como se não bastasse, no momento em que eu estava lá. pois é, o que os olhos não vêem o coração não sente. podia ter passado sem essa.
é uma disputa acirrada com os cachorros da FFLCH.

...
ah tá. a pseudo-pseudo sobre ser irrsponsável era porque eu tinha uma visita a fazer a Bienal, ler um livro, fazer um trabalho, e todo, sinceramente mesmo, todo fim-de-semana eu prometo que vou fazer alguma coisa acadêmica útil. e impressionante como todo fim-de-semana eu faço a mesma coisa: vou pra esbórnia e volto em coma. o pior é a minha capacidade de auto-enganação perpétua. eu sempre me convenço que, antes, sou um intelectual, estudioso e aplicado que 'se dá ao direito de uma esbórniazinha, já que sou filho de Deus também' do que um quase alcoólatra inveterado, que de vez em quando abre uma página da Cult, tenta entender patavinas daquele povo que fala tudo 'embasado', com seus conteúdos e literaturas de difícil assimilação, faço uma careta de "sim, claro, eu estendendo. foi em mil novescentos e quarente e três, logo depois de de mil novescentos e quarento e dois, acho que estou pegando" e depois compro uma "Piauí" numa banca bem pop pra me sentir a par do que se passa com os modernets.

sorte que eu não sou cristão pra acreditar em inferno. porque de longe, no mais longínquo e distante, sou a maior enganação de todos os tempos. acho que só perco praquele Andy Kaufman. mas só.

é porque vocês não viram meu Curriculum Vitae. quem lê pensa que eu sou um designer poliglota, que desistiu de fazer uma pós-pós em Harvard pra tentar a vida como estagiário em algum puleiro, como experiência sociológica na pós-modernidade.

...
eu achava que eu era um jovem bem pós-moderno. repararam como sou distraído e narcisista?
mas daí explicaram que eu sou mimado e que tenho DDA. faz sentido.

...
só pra não falar que só falo de mim. e essa meninas modelos que morreram? que coisa né...?
tanta gente passando fome e elas cuspindo comida. vomitaram tanto que morreram. que o diga Jimi Hendrix. elas queriam ser mega-magricelas, estilo raquíticas. é estilo do anti-Botero de ser. quem disse que só terceiro mundo copia a estética do primeiro?

ai, quanta maldade.

sexta-feira, novembro 10, 2006

no primeiro dia, de vida, era aquela bolinha rosa;
no segundo dia, de trabalho, me sugeriram morar no Rio;
no terceiro cruzamento, de carro, consegui explodir a tampa de alguma coisa lá dentro;
na quarta vez, ouvindo, eu enjôo da música;
na quinta, a feira, pensei seriamente em falar com ela;
na sexta, agora é sério, eu prometo pegar leve;
a sétime, boca, em geral, é fogão;
no décimo sétimo, aniverário, dei um perdido na família;
às oito, eu levanto;
à uma, peço a pseudo-saideira;
às duas, pago a verdadeira;
no vigésimo terceiro, outono, eu me formo;
aos trinta, vou querer minha própria bolinha rosa;
aos quarenta e cinco, consegui virar o jogo;
às vezes penteio o cabelo, mas é só pra ver como é que fica;
no último dia, quero jazz, churrasco, e por favor, sem tulipas, todos sabem que minha flor predileta é a de maracujá, interpretada pela Gal.

respostinha rápida

não posso deixar meus leitores falando sozinho. dos últimos recados:

1- rivotril? é genérico barato que dá barato? agora só quero saber de drogas que me façam alcançar meu inconsciente. me falaram em Dalí e heroína. bem, por enquanto vou continuar na cerveja-em-demasia e papelões em público. sei lá, tenho medo de dorgas pesadas. vai que me dá um piripaque e eu morro. minha ia ficar puta comigo.

2- querido anônimo. se você não leu minhas últimas pseudo-blá-blá-blá, é basicamente isso: eu sinceramente já me conformei que eu sou um cara desinteressante, e eu não tenho nada contra troféus, eles que tem contra mim, e a minha incapacidade heróica de conquistá-los. se o que vale é uma coisa brilhante acumulando pó pra mostrar pras crianças, então eu vou bezuntar minha sogra de purpurina e acho que resolve.

3- pois é. alguém, além dos mendigos morimbundos e barmans frustrados, têm que me dar atenção. responder era o mínimo que eu poderia fazer.

4- eu te conheço. e sim, no meu troninho reino como ninguém. desde os tempos que eu tinha minha vassala: "mãeeeeee... termineeeeeeei". hoje já atuo como autônomo no meu reinado.

5- realmente, quanta bobagem. toda vez que eu faço uma bobagem eu ponho a culpa no meu pai, no complexo de Édipo e na falta de atenção que ele me deveu. no caso de outras pessoas, eu ponho a culpa na pós-modernidade anuladora de caráter substancial subjetivo. no seu caso Gustavo, a culpa é do seu timinho amarelão. se destrua, use drogas, faça tatuagens artesanais com a gilette do teu pai, mas evite morrer por favor, que ainda tenho planos pra gente. agora, se morrer, pra você, for algo imprescindível, então pelo menos posso ficar com aquela tua camisa da seleção alemã? prometo ir no seu enterro.

terça-feira, novembro 07, 2006

respondendo ao Gustavo (o azarado da última mensagem)

Querido Gustavo,
não, minhas pseudo-qualquer-crônicas não decaíram, justamente porque elas são como o Governo Lula: não decaiu porque nem chegou a evoluir.

sobre seu triste recado, confesso que me conforta, pois contava com o BIFE pra fechar o ano da criaturagem-geléia-geral. meu feriadão também não foi um 'daqueles', mas isso eu explico na próxima pseudo-blá-blá-blá.
ao contrário do seu desabafo disfarçado de crítica, ainda não atingi o nível de "literatura messenger", primeiro porque é absurdamente contraditório, já que uma anula a outra, segundo, porque ando evitando coisas do tipo, "kd vc?", ":) :( ;)", "naum" e outras coisas ininteligíveis, que essa "moçada" anda fazendo (eu também gosto de gíria de velhos).

o pior de perder ns Jogos Universitário (sou um cara experiente nisso) é se dar conta que aquele era o teu maior projeto dos últimos - no mínimo - três meses. daí é uma boa hora pra refletir o que a gente anda fazendo da vida, quais são as nossas prioridades, e se dar conta da nossa juventude hedonista futebol clube, da qual faço questão de ser o capitão.

ainda não sei porque você não jogou o futsal, mas perder sem dar raça não é coisa da nossa 'famiglia'. explique-se.

um conselho? desiste do futebol, volta pro vôlei e pensa que existe outras maneiras da gente se exibir pras menininhas da faculdade. ah, mas você namora. então deixa. melhor ler um livro bem cult e pensar que "não precisamos dessas insígnias arcaicas que glorificam empenhos coletivos, que são douradas, brilhantes, e ficam pra sempre guardados na nossa memória como um símbolo da nossa conquista e valor, popularmente conhecido como troféu de campeão".

sobrou um pouco de anti-depressivo comigo, depois daquela última vez. se quiser, me liga logo, que a última cartela já estou consumindo junto com meu cereal matinal pra ver se eu ainda aguento trabalhar.

abraço
RAfa!

quinta-feira, novembro 02, 2006

respondendo aos anônimos II

1- querido anônimo de retórica de dar inveja (ooops, de novo): se tem uma coisa que eu não faço, com absoluta certeza, na vida, é optar pelo trabalho. é uma obrigação financeira-social. nada como terminar uma sexta-feira praguejando, sentando praticamente com as costas, e, depois de respirar fundo lançar uma: "essa semana foi fogo". é o resmungo da dignidade. outra coisa, eu não passo momentos solitários na frente do computador, eu apenas abro uma lata de cerveja e venho escrever.

2.1- ele mereceu.
2.2 - não sou nenhum expert em Bíblia, Alcorão e nem manual de etiqueta, mas sei que a inveja não matou Caim. Caim, com inveja, matou Abel! a inveja fez Caim ser expulso por Deus, lá da terra onde ele estava, sabe-se lá pra onde. (salve o google, minha enciclopédia eletrônica de pequenas coisas rápidas e inúteis!)

3- meu feriado começou com uma premissa (e um dia uma promessa): conhaque nem com limão.

4- não, não arranjei uma namorada. meu namorado não deixa. uhauahuahuahauhauha.
já falei que parei com essas coisas de namorar. trabalhar já dá trabalho e acaba com seu tempo. se eu arranjar uma namorada, daí abro mão de qualquer possibilidade de emancipação e produção sígnica subjetiva. minha vida social se resumirá aqueles barzinhos, com aquele cara tocando uma MPBzinha de leve no violão, e depois um filme. ponto, fim da vida.
sem contar que eu tenho aquele problema, daquela paixão platônica pelo meu próprio ego.

não sou negligente, não tenho tempo, e quando tenho, não tenho idéias.

***
Diário de um desinteressante: um desabafo coerente

a banda mais esquisita que eu conheci foi os Tribalistas.
meu cabelo mais radical foi aquela vez que eu pintei com papel crepom.
filme europeu só os do Mr. Been.
meu salário mínimo responde ao meu sucesso profissional.
não tenho nenhuma viagem incrível nos meus planos.
meu time está fugindo do rebaixamento.
só apareci no jornal aquela vez no reveillon na Paulista.
meu sobrenome não tem um monte de consoantes difíceis de pronunciar parecendo que tenho ascendência nobre.
a melhor idéia que eu já tive foi andar por perto das pessoas que têm as melhores idéias.

***
sobre o futuro: ninguém mais escreve à mão. é a morte da caligrafia!
msn, email, scraps... a próxima geração será a geração adulta com a letra de mão mais feia que já existiu. aquele estilo infantil de escrever será o padrão. se ninguém pratica, não evolui.
que vergonha. não dá pra levar a sério um adulto com aquela letra 'insegura' e arredondada de criança.

***
falando em criança, será que uma criança que tem pais gays anula o Complexo de Édipo?
olha só, a pós-modernidade passando a perna no Freud.
droga de pais caretas que eu tenho...

quarta-feira, novembro 01, 2006

respondendo ao anônimo

invejoso sim. assumido. invejoso e olho grande: se não oferece, cai no chão!

pra entender meus resmungos: eu até queria escrever sobre o meu vacilo de não ter avisado-lhes que eu votei nulo nessa eleição, desencanei do Lula. eu sei que estagiários não costumam ser formadores de opinião, (e sinceramente, hierarquicamente, 'opinião' é assunto que passa longe), mas mesmo assim, me senti no dever cívico de avisá-los que anularia de novo. tarde demais: nosso candidato só fez 4%, tipo a Heloísa Helena... (vejam só, então já podemos montar um partido do voto nulo).

além disso, pensei em comentar mais alguma coisa sobre o fim-de-semana e a banda finlandesa que eu jurava que era argentina.
mas acontece que está tarde e preciso dormir pra acordar e trabalhar e todo aquele blá blá blá repetitivo que eu gosto tanto de 'comprtilhar'.
não tem como eu escrever mais: culpa do Trabalho, o deus mór da dignidade humana.
fim.

sábado, outubro 28, 2006

quando você pensa que segunda-feira de manhã, a caminho do serviço, é o pior momento para se estar consciente da vida, chega teu chefe, às 17h50 na SEXTA e te pede pra vir no sábado trabalhar. realmente, sábado de manhã, a caminho do serviço, consegue ser o pior momento para se estar conciente da vida.

se o Allan Sieber não tivesse feito aquele quadrinho "vida de estagiário" eu descorreria todo um diário aqui das peripécias emocionantes de ser um estagiário, ou, como eu prefiro, auxiliar de tarefas que não precisam ser feitas.

patrão: "precisa pintar a parede?"
qualquer pessoa da firma que com certeza você é subordinado: "acho que não, pintamos ano passado, a aparência ainda está conservada"
patrão: "então chama o estagiário e pede pra trazer o rolinho de espuma"

é mais ou menos assim.

pessoas interessantes x pessoas desinteressantes (ou 'normais', no eufemismo nosso-de-cada-dia), round 2:

outro dia revi um amigo, do tempo de colegial, que tinha acabado de voltar do Machu Picchu, passando pela Bolívia e Argentina.
meu professor e amigo já morou em três estados diferentes e ele ainda nem tem trinta anos.
meu pai, 'na minha idade', fazia qualquer coisa mais interessante que escrever pseudo-crônicas.
pessoas interessantes. ponto.

se os estados do brasil que você já conheceu (não vale passar só pela rodoviária) limitam-se aos dedos de uma mão só, você é desinteressante.
se o único estrangeiro que você já chegou mais perto, foi quando criança numa festinha com o Ronald McDonald, você é desinteressante.
se você não sabe tocar nenhum instrumento (ou sabe mais de um, mas nenhum bem), você é desinteressante.

se você tem só uma boa história pra contar pros amigos, mas o sujeito principal é aquele seu tio alcoólatra, você é desinteressante. teu tio não.

e se você é desinteressante, então, bem, junte-se à mim, estarei sentado num bar próximo falando mal das pessoas interessantes com suas vidas interessantes. até porque, 'eles', os interessantes, sempre estão fazendo alguma coisa nova, então nosso assunto nunca se esgota.

Deus salve os interessantes, que servem (como se não bastasse!) pra eu me ocupar de alguma coisa na vida.

outro dia me perguntaram, com os olhos brilhando: "nossa, você sabe cozinhar?"
detesto decepcionar as pessoas, mas mentir é coisa de criança; "bem, eu sei fritar um ovo, fazer um arroz". olhos opacos: "ah tá..."

à milanesa, parmeggiana, putanesca... bah... quem dera.
outro dia tentei fazer uma cebola empanada, mas coloquei muita farinha, e nem cortei a cebola muito fina. resultado, virou uma rosquinha de cebola com uma camada tão espessa empanada quem nem conseguiu fritar a cebola, que com seu caráter cru, gerou um certo desentendimento com meu sistema digestivo. tive uma conversa séria com o troninho.

e pra finalizar, porque sou muito ocupado pensando em alguma coisa interessante pra fazer, venho por meio desta frisar que, não, eu não tapeio feinhas, o escuro que me tapeia (pra sorte delas) e o álcool tapeia meu superego regulador de bons modos e pudor.
e é muito mais legal ficar do lado de uma feinha pra se sentir bonito, do que de uma mina interessante e ficar bodiado ouvindo suas histórias de viagens, piratas e tesouros, e uma foto com o Mickey Mouse. Odeio o Mickey Mouse!

se inveja matasse, o mundo seria um marasmo.

terça-feira, outubro 24, 2006

eu já comentei aqui, que a idéia desse blog (ai que vergonha!) era pra colocar minhas teses e não pra fuxicar sobre beber cerveja, resmungar do trabalho e aprontar no samba? (se bem que eu poupo bastante vocês).
pois é... quando menos eu leio, menos eu penso e menos teses eu faço. e quanto mais eu trabalho, menos eu leio. logo: .

enfim. primeiramente, meus sinceros cumprimentos ao Freud que é muito mais subversivo que MArx. E vejam que este é um comentário de um leitor que nunca leu nenhuma obra inteira de nehum dos dois! hahahahahaha.... só li o Manifesto do Partido Comunista, mas nem achei graça. Já disse que entre os comunistinhas meu predileto é Lafargue, pela sua condição trabalhista pós-moderna; e Sartre, que eu tenho certeza que por algum motivo, quando eu lê-lo, vou gostar dele.
pois bem. Muito do que disse MArx faz bastante sentido até hoje. ok, mérito do homi. agora, Freud, chutou o pau e incendiou a barraca. enquanto você se olha no espelho e tentar se identificar conforme sua classe, muitas angústias surgirão e pouco você conseguirá entender. agora, se freudianamente você se compreender como um neurótico, como condição ontológica do ser, tudo faz muito mais sentido. aceite sua neurose, permita teus pensamentos insuportáveis, reconheça sua fragilidade no teu equilíbrio psico-emocional. procure um psicólogo, em outras palavras.

outro dia eu conheci uma pessoa bem interessante. você até pode dizer: "que bom! uma pessoa interessante, no meio desse mar de marasmo, no festival do senso comum".
não, não é nada interessante, conhecer alguém interessante. simplesmente porque eu me senti um completo desinteressante do seu lado.
meu monólogo:
- ah, que legal você faz isso? não, nunca fiz...
- sério? e você não ficou com medo... nossa...
- não acredito... sempre quis conhecer ele... como é que ele é?
- um dia vou fazer isso também... só estou esperando a hora certa...

pois é. tem gente incrível, que nasce com uma capacidade perspicaz de compreender o modo como a sociedade se organiza, e como há as ideologias de classe submetem as outras. tem outros, que com o mesmo talento, identificam um caráter neurótico, como pressuposto natural (isso sem falar do inconsciente, que já é demais pra minha cabecinha).

daí no campo do seres humanos 'normais' sobram aqueles, que, sabe-se lá como, desenvolveram, geralmente desde a infância, uma série de atividades legais, extremamente legais, que os tornam hoje super interessantes: pró-ativos, multi-culturais, habilidosos e talentosos na produção de alguma coisa.
por outro lado, vem caras como eu, puxando o bonde da simpricidade, do é que é feito de "coração", e bem, depois de duas horas de conversas num bar, percebe que acabaram suas histórias interessantes, sendo que metade delas são sobre seus amigos, e a outra metade (as suas) tem um leve exagero nas emoções.

ok. não sintam pena de mim. tem dois engradados de Itaipava na geladeira. sintam pena da feinha que eu vou enganar...
hahahahahahahahahahhahahahah

:(
eu sou sem graça.

domingo, outubro 15, 2006

Respondendo aos comentários últimos

1- olha, ser o cara da "conversa-mole-pedinte-pedante" não foi a coisa mais agrádavel que já disseram sobre minha pessoa, porém, relevo, e compartilho da tua postura ambiciosa de obter o mínimo necessário para beber no final do mês. ah, e os meninos do farol não são desnutridos e remelentos, são profissionais. uns, perto aqui de casa, deixam uma sacola com os tênis deles encostado/escondido junto do muro, e vestem uma sandália pra parecer mais necessitado. é puro circo, tem até figurino.

2- porque eu não adoto o look Fidel? primeiro, para não me confundirem com comunista. segundo, porque a idéia de aparentar oitenta anos e supostas doenças não combinam muito com minhas camisetas coloridas cheias de vida.

3- querida, dia das crianças não existe mais pra mim, desde aquela vez em que eu roubei os "comandos em ação" do meu priminho, só de inveja, porque minha mãe achava que com "treze anos eu já estava muito grandinho pra essas coisas". (toda vez que eu disser "meu priminho" estou mentindo, porque eu não tenho primos menores, na verdade surgiu um há uns quatro anos atrás, mas mora em outro Estado, portanto só reproduzo uma idéia generalizada de uma família-cotidiana-comum, com priminhos pentelhos, tias alcoólatras, avós precoces e ex-presidiário cunhado de alguém)
no dia doze eu só ganhei mais uns dígitos vermelhos depois do cheque que eu dei no samba. nada digno de uma pseudo-crônica, talvez as gringas com seu visual "eu corto meu próprio cabelo" que me fez pensar, de início, que eram um casal sapata, mas depois que eu vi que elas sambavam com o mesmo critério da história do cabelo, vi que eram de fora e que portanto "elas são assim mesmo..."

4- querida Mira, não, não sou míope ainda. no meio da esculhambação falta-me um óculos discreto, nem do tipo "ora-por-favor" muito menos do tipo "godard no cinusp é bárbaro", para aparentar o mínimo de cultura que minhas camisetas manchadas de qualquer coisa fazem questão de negar. a idéia do distúrbio é muito boa. primeiro me apeguei ao meu distúrbio bipolar, depois que eu vi que era moda, abandonei, e fiquei só com minha pseudo-epilepsia-laborial, que insiste em me atacar em momentos próximos à atividade operária. me disseram que o modo como eu me relaciono com meu ego é uma espécie de distúrbio, mas sei que isso é ciúmes, daí saí com ele pra jantar, peguei um cinema e me esqueci.

5- pode ser. talvez pintar algo bem banal reforce a produção sígnica-insignificante (godard é bárbaro no cinusp) que permeia e conduz nossos prognósticos. vou pintar um "Nissin Cup Noodles", isopor sabor camarão sobre tela. obrigado pelo incentivo.

6- pós-moderno demais pra minha mentalidade humilde do campo. próxima.

7- a idéia era competir com o blog do Kfouri, e estabelecer uma média de cem, cento e cinquenta recados pra poder postar outra coisa. hoje em dia dei uma guinada literária onde eu foco no microambiente, e a partir de um "bom dia" do porteiro eu acho que já posso escrever outra pseudo-crônica.

8- sou péssimo com números. já me perdi nos primeiros trezes. mas obrigado pela informação inútil (o que é contraditório). fui perceber que era sexta-feira treze lá pelas sete da tarde, e nem me sensibilizei. como dizia Verissimo, o filho: "mau presságio. não sou supersticioso, apenas espalho amuletos pelo meu corpo pra afastar o mau-olhado."


espero ter respondido tudo certinho que eu faço muita questão.
o feriadão já está acabando e eu percebi que eu não sou muito criativo; acumulei muita cerveja, samba e dívida. minha única tentativa de estabelecer algum diálogo mais profundo, foi sobre política com uma petista, que me resumiu como um "lúmpen com discurso pequeno-burguês".
eu disse que eu conhecia uns comunistinhas... se eu ganhasse um real pra cada vez que alguém me chamasse de lúmpen ou discursor pequeno-burguês, eu compraria um Pegout, turbinado e insulfilmado e daria um altíssimo cavalinho-de-pau às três da manhã na porta da casa dessas pessoas só pra confirmar que de fato eu sou um lúmpen com discurso pequeno-burguês.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Depois da minha tentativa frustrada de ser artista (alguém me avisou que pra ser artista, tem que, pelo menos, saber quais são as cores primárias, e na hora não tinha nenhum computador conectado no google pra eu poder perguntar), resolvi me assumir naquilo que faço de melhor: ser um belo vagabundo. criaturas-bon-vivant, como já dizia um amigo. e da pior raça, como diria Bornhausen: vagabundo petista.

Depois do debate de ontem, assistir aquela cara nojenta do Alckmin, representando toda aquela elite branca paulista, burguesinho-quero-ir-a-miami, que chamando o garçom pelo nome acredita superar quinhentos anos de exclusão social (parafraseando Antonio Prata), me obrigou a votar no Lula só pra ele não ganhar. gosto muito de SãoPaulo mas aqui se cultivou um povinho meio europeu, meio conservador do interior leitor de veja que é nojento.
A gota d'água foi dizer que a Bolívia humilhou o Brasil, e o Lula foi bastante sensível dizendo que os caras são miseráveis e o único patrimônio deles é o gás. isso me tocou. sou um eleitor emocional, compro meus produtos conforme sua capacidade de atingir o campo filosófico-emocional. isso é puro "top of mind", branding... e outros blá blá blá em inglês da publicidade.

não tenho nada a comentar sobre a capa da época e da veja dessa semana. muito menos sobre seus leitores.

ando repetitivo... nada de novo... já falei que, depois da bomba atômica, trabalhar é a coisa mais estúpida do século XX?

ou eu começo a decorar as cores primárias ou eu aprendo a fazer malabarismo em farol.
como eu tenho mais memória do que coordenação, vou dar um talento naquela cortina velha na minha última tentativa de me tornar um artista.

(tudo isso não passa de obra ficcional, de um brilho eterno de uma mente leviana, plagiadora,
viciada em mate, que definitivamente não tem nada mais interessante pra fazer. até porque quem me dizia isso "você não tem mais nada interessante pra fazer" são exatamente aqueles que acham "interessante" trabalhar)

achei o VHS de Twin Picks por um real. adoro uma barganha. e uma fofoca também!
então se souberem de fofocas e barganhas me contem:
rafael_o_mentiroso@paroquiadalorota.net.pum


antes que eu me esqueça: fora Alckimin, Discman, Ipod e qualquer coisa que substitua a vitrola. viva o Lula e o saudosismo revolucionário.

PS: estou deixando a barba crescer, e aqueles boatos sobre o câncer terminal do interminável titio Fidel é pura intriga da oposição (daquela que conseguiu sobreviver).

segunda-feira, outubro 02, 2006

Pollock e o Lula

Depois que eu entendi que trabalhar, de fato, não é o meu forte, e até compreendo se eu receber uma carta em casa me convidando pra receber o prêmio "the worst employee awards 2006" (já que faço tudo devagar e errado), resolvi, então, investir na minha carreira de artista. Porém, após assistir "Pollock" e seu final trágico, digno de "artista angustiados mal-resolvidos além de seu tempo", pensei seriamente em parar de beber. mas daí lembrei que eu não sei dirigir, então tudo bem.

jamais faria campanha pro Lula, mas acho essa história de segundo turno um saco. primeiro que eles deveriam fazer a eleição numa segunda, não num domingo (não tem nem jogo de futebol pra gente se distrair). segundo porque depois que eu votei eu não faço idéia onde eu deixei meu título de eleitor, já perdi meu rg, e como já disse que não sei dirigir, obviamente não tenho carteira de motorista.

essa eleição está parecendo a copa do mundo: bem sem graça, sem clima, com um pouco menos de bandeira do Brasil, e alguns santinhos espalhados nos colégios eleitorais. essa coisa de votar é tão démodé, tão revolução francesa e seus sufrágios universais; coisa da modernidade antiga.
não vejo a hora que inventarem um serviço terceirizado de votar. pela internet, talvez pelo celular.

acho que as pessoas estão percebendo que não faz muita diferença em quem votar ou ganhar a eleição. como se já estivesse subentendido que existem outras partes poderosas e de influência no campo político-econômico que vai além do representante oficial das eleições.
eu por exemplo, apertei os botões da urna com a mesma displicência que eu aperto botão do elevador ou escrevo essas crônicas.

pra quem já teve Maluf como prefeito, deputado federal tá de bom tamanho, analisando a conjutura corrupta-política geral. e enfim, o mais legal de votar é tomar um caldo-de-cana, ver o povo do seu bairro, comer um acarajé. pra isso funciona.

voltando à história do Pollock, eu tava pensando que se ser artista-artista é estar em contato com sua complexidade subjetiva, sensível ao modo da construção simbólica-comunicativa de sua época, e sofrer com a angústia da pressa e incompreensão, bem, me deu uma certa preguiça de ser assim. porque, se você consegue ser sensível às mazelas, à bomba atômica, à fragmentação e às significações banalizadas, talvez seja uma boa, o cara canalizar a sensibilidade dele pra umas coisas mais animadas, como o samba por exemplo, o futebol, e essas coisas confraternas que fazemos. mas será que aí, com a alegria da espontaneidade e irreverência, anulamos ou pelo menos amenizamos significativamente a angústia-motor artística, e não teremos grandes impulsos de expressão? nada na tela, a vida é muito boa;
ou seja, sofra bastante e ponha isso num quadro, ou busque a alegria e fique conformado.
ou seja novamente, porque o meu pai não é rico?

se bem que se meu pai fosse rico eu não deixaria de trabalhar pra ser artista, mas provavelmente gastaria tudo em cocaína, ou me candidataria a algum cargo público, ou talvez os dois ao mesmo tempo.

deixa eu ver: pra ser um artista eu preciso, ser angustiado, ter tinta colorida, tela, pobre no começo, angustiado pra sempre, imconpreendido, muitas mulheres, e dependendo da época, envolvido com o partido comunista.
acho que estou quase lá. tem umas tintas sobrando no quintal, uma cortina velha pra pintar, o corinthians me deixa angustiado, arara na minha carteira é tão rara quanto na floresta, e eu conheço um monte de comunistas. além disso ninguém me compreende direito que só pensar e fazer as coisas que você gosta já é trabalhar.

enfim, o Lula só precisa de mais uns dois ou três porcento de votos válidos no segundo turno pra se reeleger. e com o provável segundo mandato-bravata dele, fica claro pra mim que o povo é quem nem pomba: é só você dar umas migalhas que ele se aglomera em torno de ti.

:(

hahahahaahaha, como se eu realmente estivesse ligando.
estou muito concentrado me angustiando e pensando além do minha época pra perder meu tempo com eleições-fast food-péssimo-cardápio. nossa, como eu ando crítico. se eu não conseguir ser artista, pelo menos me tornarei aqueles críticos amargurados e frustrados que metem o pau geral. "isso é arte? aonde?"
não me importa fazer arte, importa só ser "artista".
- oi, você é o quê?
- eu sou engenheiro.
- puxa, legal. e você?
- eu sou advogado.
- ótimo. e você?
- eu sou médico.
- opa, sempre bom. e você com a túnica laranja na cabeça fumando um cachimbo bizarro?
- eu sou um artista ué.
- e como você faz pra se manter montado num tamanduá-bandeira e fazer essa expressão de "tudo é tão previsível e entediante"?

é mais ou menos este o ponto.

quinta-feira, setembro 28, 2006

detesto falar de política (menos nos bares que o povo de sociais vai, que aí preciso fazer minha média anti-alguma coisa), mas preciso comentar que tudo indica que o Lula, no probabelíssimo próximo mandato, irá governar estilo pequeno príncipe: uma mistura de ingenuidade e solidão.
cada dia que eu abro jornal sem ser o de esporte (uma média de uma vez a cada três dias) eu vejo alguém do PT sendo cassado, acusado, ou se demitindo pra facilitar as coisas.
quem vai sobrar, é a pergunta que se faz.
isso se chama, freudianamente de "repressão sexual voltada para o gozo". depois de vinte anos, com aqueles discursos, bravatas e greves, se segurando na ética, de repente, ver todas aquelas possibilidades de trambiques, vários outros políticos deitando e rolando ("porque eles podem e eu não?") a partir desse princípio infantil, os caras explodiram de uma vez só. pum!
todo mundo alucinando em fazer algo que não presta; é muito tentador.
isso conclui que, tirando aqueles políticos ligados ao Bob Dylan, o resto é uma raça nojenta mesmo, absurdamente corruptível, o que justifica minha campanha político-zoológica: "não alimente os animais. vote nulo"

falando em raça, o coronel do PFL que disse que aquela "raça" petista acabaria, ao contrário do que pensa a Carta Capital (se bem que eu nem li), acertou em cheio. acabou-se, numa auto-extinguição petista. os que acreditavam, estão numa vergonha, numa língua mordida, que suas bandeiras vermelhas hoje enfeitam o abajur e compõe uma cortina pós-neo-nada.
os que ainda acreditam, e levam a sério até greve de estagiário, foram pro PSOL, e o resto que ficou, foi cassado ou foi "convidado a se retirar". até os malufistas duraram mais tempo. tem que roubar no migué, na cadência. os caras fora com muita cede ao pote. estilo adolescente. corrupto precoce, dançaram.



dizem que no jogo de dardo, vence quem fizer mais pontos. e quanto vale acertar, em cheio, o pé de uma juíza distraidíssima? um milhão de pontos? pensa bem, é um alvo que se move. nunca mais vou dizer que sou azarado. nada, absolutamente nada, ganha de levar um dardaço atravessado no pé.... ela merece um prêmio "não sou distraída, apenas tenho um distúrbio de défcit de atenção estilo autista" ou " não sou distraída, sou uma juíza de jogo de xadres e estava fazendo um frila".


enfim, meu trabalho extenuante de ser eu mesmo, poda minhas chances de ser/fazer/escrever coisas interessantes. ser interessante dar muito trabalho na medida em que tem que ser bom.
minha última tentativa é: parecer ser interessante negando a vontade de ser interessante.
juro que quando eu aprender a ser engraçado compulsivamente (sem ser com uma platéia bêbada que nem aquela vez que eu saí me sentindo o tal) eu vou escrever todo dia uma crônica "deiz" !

enquanto isso, eu continuo acreditando nos passarinhos: são únicos que conseguem cantar numa segunda de manhã.

quarta-feira, setembro 27, 2006

detesto falar de política (menos nos bares que o povo de sociais vai, que aí preciso fazer minha média anti-alguma coisa), mas preciso comentar que tudo indica que o Lula, no probabelíssimo próximo mandato, irá governar estilo pequeno príncipe: uma mescla de ingenuidade e solidão.
cada dia que eu abro jornal, e não é o caderno de esporte (uma média de uma vez a cada três dias) eu vejo alguém do PT sendo cassado, acusado, ou se demitindo pra facilitar as coisas.
quem vai sobrar, é a pergunta que se faz.
isso se chama, freudianamente de "repressão sexual voltada para o gozo". depois de vinte anos, com aqueles discursos, bravatas e greves, se segurando na ética, de repente, ver todas aquelas possibilidades de trambiques, vários outros políticos deitando e rolando ("porque eles podem e eu não?") a partir desse princípio infantil, os caras explodiram de uma vez só. pum!
todo mundo alucinando em fazer algo que não presta; é muito tentador.
isso conclui que, tirando aqueles políticos ligados ao Bob Dylan, o resto é uma raça nojenta mesmo, absurdamente corruptível, o que justifica minha campanha político-zoológica: "não alimente os animais. vote nulo"

falando em raça, o füher do PFL que disse que aquela "raça" petista acabaria, ao contrário do que pensa a Carta Capital (se bem que eu nem li), acertou em cheio. acabou-se, numa auto-extinguição petista. os que acreditavam, estão numa vergonha, numa língua mordida, que suas bandeiras vermelhas hoje enfeitam o abajur e compõe uma cortina pós-neo-nada.
os que ainda acreditam, e levam a sério até greve de estagiário, foram pro PSOL, e o resto que ficou, foi cassado ou foi "convidado a se retirar". até os malufistas duraram mais tempo. tem que roubar no migué, na cadência. os caras foram com muita sede ao pote. estilo adolescente. corrupto precoce, dançaram.



dizem que no jogo de dardo, vence quem fizer mais pontos. e quanto vale acertar, em cheio, o pé de uma juíza distraidíssima? um milhão de pontos? pensa bem, é um alvo que se move. nunca mais vou dizer que sou azarado. nada, absolutamente nada, ganha de levar um dardaço atravessado no pé.... ela merece um prêmio "não sou distraída, apenas tenho um distúrbio de défcit de atenção estilo autista". ou então "não sou distraída, sou uma juíza de jogo de xadrez, e estava fazendo um frila".


enfim, meu trabalho extenuante de ser eu mesmo, poda minhas chances de ser/fazer/escrever coisas interessantes. ser interessante dá muito trabalho na medida em que você tem que ser bom. vou fazer que nem o Wood Allen e se utilizar da auto-depreciação como forma de agradar. minha última tentativa é: parecer ser interessante negando a vontade de ser interessante.
juro que quando eu aprender a ser engraçado compulsivamente (sem ser com uma platéia bêbada que nem aquela vez que eu saí me sentindo o tal) eu vou escrever todo dia uma crônica "dez"!

enquanto isso, eu continuo acreditando nos passarinhos: são únicos que conseguem cantar numa segunda de manhã.

terça-feira, setembro 19, 2006

e no dia em que papai me pagar aquele curso pra ser poeta, queimarei tudo isso;

falo coisas um pouco inteligentes e talvez aparentemente complicadas, só para fazer uma média;
deixei meu cabelo crescer e a barba mal-feita só para fazer aquela média;
fico deprimido sazonalmente-definitivamente para fazer uma média.

votei no Lula pra fazer uma média e vou votar nulo também pra fazer média.

finjo desinteresse pra suportar minha média,
caretas, trejeitos, roídas, é média, média, média.

não gosto de aniversário só pra fazer uma média,
agradeço os parabéns 'só por educação' pra fazer uma média.

reclamo daquilo que é bom reclamar, mas com um toque particular, pra fazer uma média.
elogio de vez em quando o pouco inusitado, como parte da média que pretendo fazer.

encorporo o cool-but-not-cool-for-everyone, porque isso sim é a média pra caramba.

reproduzo o plausível-periférico como a mais única média.

volto a pé pra fazer uma média.
não como carne pra fazer uma média.
escrevo com sentido o que parece sem sentido, frisando a média.

bem média é a vida que eu levo.
.
.
.
.
.
.uma vez me disseram que média é café-com-leite

domingo, setembro 17, 2006

devaneios, devaneios

salsicha, salsicha, salsicha. às vezes esqueço de como se escreve.
mortandela não existe. é que nem o ene de muito. só existe pelo nosso nariz.
pelo nariz é normal, pêlo no nariz é bizarro, mas acontece.
cem o menor conpromiço con a limgua portugueza.
quero mais é que se dane-se.
o inglês é muito mais persuasivo.
é roots, é style, se faz presente numa happy hour depois rush, e os mais hypes que já passaram por uma bad trip, só esperam uma outra vibe. no shopping.

de fato, démodé, é falar francês.

a publicidade, coitada, vive de jobs, briefings, copy and paste, layers, gettyimages, photoshops, e estagiários conformados e dedicados. ah claro, e não podemos nos esquecer do uísque.

***

detesto bater na mesma tecla, hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
(tá certo, às vezes eu gosto), mas trabalhar continua sendo a atividade menos interessante que se possa fazer durante oito horas seguidas.

***
Tem uma garota, jovem, que eu vejo todo dia de manhã quando vou ao trabalho. quase sempre no mesmo horário, em lugares diferentes do bairro. ela se veste bem, e seu trabalho é passear com os cachorros dos outros.
isso é um serviço, e esta, segunda uma psicanalista brasileira que não me recordo o nome, é a era dos serviços. tem um pacote feito para tudo, inclusive (se não principalmente) para o lazer.
agora procuro no google um serviço de pacotes para trabalhador-substituto. passeie com meu cachorro, faça minha comida, transe comigo, cuide do meu filho, que seja, mas principalmente: trabalhe por mim.

***

o problema do capitalismo é que, além de gerar miséria, tristeza e comunistas panfletários, é que para o capitalista tudo é dinheiro, e dinheiro é tudo.
(olha meu saudosismo) ninguém respeita mais nada, nem pai, nem mãe, nem o sol, principalmente.
no dia em que o sol cochichar no teu ouvido 'meu filho, deite na grama, esqueça-te e deixe-me fazer uma massagem revigorosa', deveríamos obedecer. é justo. o sol tá lá, a vontade tá aqui, todo mundo sai ganhando. o sol é o responsável por tudo, qualquer doida-esotérica sabe disso. deveríamos levá-lo mais a sério. o "deitar sob o sol" é um componente ontológico da saúde mental. sem contar que faz bem pra pele e pros ossos. e principalmente (deve ser esse o problema) é de graça.

***
outro dia eu tava pensando qual seria o efeito de um avião ser desviado pra se jogar em cima de uma mesquita. um onze de setembro oriental. aí eu me dei conta do ridículo: se você quer ofender um oriental estilo islâmico, vá ao seu âmago, a religião. agora, no nosso caso, se você quer ofender um ocidental-burguer-king, quebre um prédio financeiro-econômico.

nosso totem é aquele 24hs que nunca nos deixa na mão, vermelhinhos, que aceita a maioria dos bancos, e que cobra uma pequena taxa por isso.
nossa missa de domingo é num templo enorme e fechado, com seguranças e cheio de vitrines.
nossa religião é essa: compre e seja louvado.
"ir para o céu" é acumular pontos de milhagens e "ir para o inferno" é ter o nome no SERASA.

ofenda um islâmico: faça uma caricatura do Maomé.
ofenda um ocidental: diga que sua camisa não combina com a calça, ou que seu cachicol é da coleção passada.

sorte que essa religião maluca não aceita fiéis que vivem do cheque especial.
bah... eu nem queria mesmo.

domingo, setembro 10, 2006

bobagem


alargador de pênis, manual do orgasmo feminino, como anular multas de trânsito (pera lá, os outros dois até vai, sou filho de Deus, mas multa de trânsito? eu nem dirijo) e umas frases de caminhão pelo Orkut. Esse é o cotidiano de um email que eu tenho (na verdade foi forçosamente tornado) só pra isso.
sabe que (lá vem eu e meu lado piegas) eu vejo esses spams como uma metáfora da vida.
porque no meio das porcarias, tem umas frases de Orkut que fazem bastante sentido.
ok, quando a religião não está presente no seu dia-a-dia, sua família é de alguma forma fragmentada e, pessoal ou profissionalmente existe algum tipo de entrave no seu desenvolvimento, então horóscopo e coisas esotéricas costumam fazer bastante sentido. até sorte do biscoito chinês tá valendo.
aí vem a metáfora. tinha uma frase piegas do orkut que fazia bastante sentido numa determinada situação. ora, no meio de tanta porcaria dá pra achar algo bom. e a vida é assim quando a coisa tá russa. e acredito que isso seja um condicional insuportavelmente-estimulante da vida: mesmo na lama, se você for sincero o bastante pra fazer uma auto-crítica você encontra uma coisa positiva, que vai contribuir pras coisas melhorarem. ok, chega de conselho do 'senhor Myang', ou seja lá qual for o nome do mestre do Karete Kid.

outra possiblidade é que, quando você não é poeta, artista, ou um cara com talento e sensibilidade suficiente pra fazer uma interessante (porque não tocante?) metáfora da vida, você faz metáforas de situaçõs ridículas e corriqueiras como esta que eu fiz. talvez seja uma metáfora da sua própria vida. hum? me perdi... mas enfim, não é a minha vida que é ridícula e corriqueira. ou você vai me dizer que sair do samba, encontrar a Elke Maravilha no ponto de taxi e ganhar uma bitoca dela é corriqueiro (sem comentar o ridículo)?

mas a vida tem dessa. tem que curtir muito ser deprimido pra só encontrar "dessabores" (pra utilizar jargões do samba). pois bem, vou apagar meu incenso, tomar um floral de Bach antes de dormir, meditar um mantra, e canalizar positivamente minhas energias pra da próxima vez escrever algo mais interessante que essa bobagem de hoje.
bah! todo mundo sabe que eu só escrevi essas besteiras pra dizer e frisar, que a Elke Maravilha me deu uma b-i-t-o-c-a-n-a-b-o-c-a.
e a próxima é de língua!
vou até roubar a maquiagem da minha irmã pra entrar no clima.

"o samba é alegria, falando coisas da gente
se você anda tristonho, no samba fica contente"
Paulito da Viola

ps: não, a Elke não é travesti, é que ela costuma guardar o pente dela no meio das calças. uahuahauhauhauhauhaua. tô brincando, ela usa peruca mas não é travesti. até porque, se vocês querem uma história envolvendo travestis, daí tem aquela, da vez que eu entrei bêbado no Vegas, e nem sabia direito da 'fama' de lá, e bem... foi uma situação delicada, foi por pouco.
ufa, sem mais supresas!

sexta-feira, setembro 08, 2006

confere botas. ok.
contagem regressiva.
fiuuuuuuuuuuuuuuuuuu
tchau chão. oi teto.

...........................................

olhar blasé. cigarro aceso. um tragada, o olho fecha um pouco, um sopro de fumaça pro lado (educação). o modo que segura o cigarro é displicente (até porque tudo é tão natural) .
as sobrancelhas se levantam, uma expressãozinha de espanto ("que absurdo"), seguido de um sorriso, uma risada, uma leve inclinação pra frente. rindo sempre como uma justificação de que, sim, sou uma pessoa super bem resolvida, portanto vivo feliz. reparem como sou feliz. tá bom, estou reparando. feliz e segura. impressionante. fraqueza nenhuma, sem titubeação. boa demais pra tudo isso.
blasé, blasé, blasé; assisti aquele filme daquele cara; fui ver aquela banda que é a banda; mais uma tragada. exagerar alguma situação, como aquele cara deu em cima de mim, como ele me liga. me cansa a beleza.
tadinha.
-- tá apaixonado?
-- tô puto.

.............................................

daí quando caiu no chão foi aquela confusão. foi rolando, rolando, rolando...machuquei o nariz, ralei o queixo, tudo com os olhos bem fechados. quase caiu num bueiro. sorte que eu puxei o narigão do meu pai, e ficou encalhada.
o corpo-torto-decapitado-desnorteado fazia qualquer coisa, menos ajudar. quando ela virou a esquina não tinha mais ângulo pra ver.
ela só foi parar atrás de um pneu de um carro estacionado. na frente de uma oficina: "do diabo, martelinho de ouro, pintura e reformas. aceitamos cartões. não fechamos domingo nem aspas.
foi um divórico mesmo. o corpo agora trabalha como boneco de posto, mexendo esquizofrenicamente seus braços. e a cabeça, coitada, a coisa mais útil que conseguiu se prestar foi de peso de papel, numa escravaninha aí.

.............................................

um gestinho obrigação-social-constrangedora-de-ter-que-cumprimentar-pessoas.
ora, ora, senhorita olhar blasé-estou-muito-ocupada-no-celular-combinando-resolvendo-articulando-algo-se-não-emociante-no-mínimo-marcante-vivencialmente não pode no momento fazer mais que um sinal. afinal, vocês sabem, bom, na verdade (se é que existe uma)não sabem.
(um suspiro). uma leve franzida na testa. uma cara de "é, é foda conduzir essa minha vida ocupada e atarefada-in-te-res-san-tís-si-ma". um degrau de cada vez. pronto, senta no trono, puxa o chicote, e (não sei qual é a onomatopéia do barulho do chicote, mas é isso agora) nas costas do seu empregado, que (com a ajuda de outro atrás) levantam o altar, e a conduzem pra sabe-se-lá-aonde.
aí eu grito: Cleópatra, eu sei que você é careca!
sorte que ninguém repara em mim no meio do arbustro.

....................................

engato a segunda. morreu.
desço e empurro.
-- não, não, tá oquei. já resolvo isso.
po-ponto-morto-to.
primiera, priimeeira, priimeeiraa, priiimeeeiraaa
segunda. morreu.
na terça foi enterro.
teve uma jazz big band, assim como ele desejava.
tocaram aquela, e todos dançaram.
e o caixão foi descendo vazio.
o dono da festa não conseguiu chegar.
ligou dizendo que o carro não conseguia engatar a segunda e que vivia morrendo,
e agora tinha empurrado até uma estranha oficina com uma cabeça como peso de papel.

terça-feira, setembro 05, 2006

sorte que minha auto-estima não depende dos comentários que me deixam, mas sim da quantidade de cerveja que tomo no fim-de-semana. é impressionante como é proporcional.
enfim, na verdade minha pseudo-ausência (já que mantenho uma regularidade nunca dantes mantida) se dá porque a única idéia que tenho pra escrever é sobre o meu simpaticíssimo patrão, sobre o real significado do trabalho na sociedade, sobre a nova classe de peão que se emancipou do canteiro de obra e foi calhar na frente de um computador e enfim... mas não posso porque o meu patrão, querendo se 'atualizar' queria saber sobre blogs e perguntou se eu tinha um, e bem, eu não pude negar. eu não minto mais desde aquele incidente em Copacabana envolvendo um gringo, uma falso aleijado e um câmbio-financeiro ambulante.

pois bem, a minha tese sobre uma busca etimológica de patrão como "aquele que detém a razão ad eternum' não poderá mais ser desenvolvida.

e todas as coisas engraçadas que acontecem lá na 'firma' serão negligenciadas.
a não ser que eu faça um outro blog só pra isso! mas ter mais de um blog é demais. daqui há pouco vou estar fantasiado fazendo plantão em fila de estréia do Star Wars III ou quem sabe numa feira de nano-tecnologia-galática (seja lá o que signifique 'nano').

mas eu penso que até pode ter sucesso um blog, onde as pessoas usem pseudônimos (ninguém merece perder o emprego por causa de blog) pra falarem mal de seus chefes e compartilhar frustrações e etc, mas sem o tom de auto-ajuda, lógico. eu escreveria várias engraçadíssimas.
então combinado, se alguém fizer eu já tenho uma coisa pra escrever.
não precisa ser umas coisas enormes, só umas coisas bestas do cotidiano, só um parágrafo, tipo:
"De como meu chefe consegue se contradizer em em apenas dois minutos" ou,
"Porque o meu chefe insiste em usar termos em inglês, com uma pronúncia ridícula em momentos inapropriados?" ou,
"Porque os corinthianos reclamam do Kia?" ou ainda,
"Como ele conseguiu ser dono disso tudo se ele ainda não aprendeu a mexer no mouse".
ou esse "Será que pelo fato dele ser meu pai eu também posso falar desse jeito com os outros?"


sei lá, usem a criatividade e desenvolvam, e me avisem.

a gravidade da situação é tanta, que faz umas duas semanas que não vou ao samba.
tá certo que eu até iria na outra semana, mas encontrei um velho amigo, apliquei aquela desculpa que eu comentei aqui já, e explodi a largada e fui dormi.

ah, falando em patrão, lembrei do meu professor (e se Deus quiser, meu futuro orientador da minha i.c.) enquanto meu chefe, bem, age como meu chefe, meu professor-orientador foi tomar uma cervejinha de sexta à noite comigo e no final das contas fui deixar ele em casa lá pelas quatro ou cinco da manhã (não lembro), depois do terceiro bar. acho que estou revendo meu conceito de intelectual. e quem sabe faço essa i.c., emendo uma pós-qualquer coisa, um doutorado mais migué da história, e enfim largo o serviço braçal e me retenho a ficar na beira de uma piscina, bebendo uísque e analisando "porque o Brasil não anda efetivamente pra frente" ou qualquer bobagem assim. estilo Arnaldo Jabor.

imagina minhas pseudo-crônicas no meio do Jornal Nacional? eu, com a maior cara lavada, inventando várias histórias, buscando uns absurdos do dia-a-dia pra justificar e fazendo metade da população fielmente acreditar em mim. a outra metade vai ficar ressabiada até eu dar uma entrevista nas páginas amarelas da Veja, e me tornar um "não-candidato" que não faria propaganda e ... desencana...
meu complexo de inferioridade de estagiário me faz viajar de vez em quando.
eu tenho que parar com essa mania de escrever umas coisas pessoais... era para eu escrever minhas teses sem apreço científico-acadêmico, de "vida" mesmo... uahuahuah
parei então.
tchau-tchau-tchau-tchau
vou demorar muito pra voltar a escrever, a não ser que aconteça algo engraçadíssimo no feriadão. tipo uns anões de farda desfilando no sete de setembro...

PS: lembrei o que eu ia dizer no Jornal Nacional. explicaria como "emendar" o feriado foi a base constitutiva da miscigenação brasileira, tão rica e frutífera. com mais tempo de folga pudemos aproveitar bem mais em festas e confraternizações do que trabalhando. e vocês sabem como festas são estimulantes. no final das contas sugeriria que o MinC tombasse a emenda de feriado como patrimônio cultural, sendo passível de cadeia o patrão que inventasse de pôr funcionário pra trabalhar no feriadão. Emendar o feriado é cultura, e cultura é bom. basicamente isso. vote em mim.

sábado, setembro 02, 2006

motivo de ausência, meu desenvolvimento do meu projeto da i.c.

1. Delimitação e Problematização do tema

1.1. Individualidade e produção massiva de artefatos culturais
A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente. Assim sentenciam Theodor W. Adorno e Max Horkheimer (1985) sobre a conseqüência da produção massiva de artefatos culturais no início do século XX. A ênfase no domínio da razão humana Iluminista, contribui para a sustentação, quase doutrinária, da razão técnica. A ascensão das relações capitalistas de produção, através da implementação da produção fordista alienante, com um único objetivo de tornar tudo e a todos coisas vendáveis, tem como resultado um embrutecimento da sensibilidade, onde o original é descartado e reduzido à mediocridade padronizada. Nas palavras dos autores da Escola de Frankfurt:
“A técnica da indústria cultural levou apenas à padronização e à produção em série, sacrificando o que fazia a diferença entre a lógica da obra e a do sistema social. Isso, porém, não deve ser atribuído a nenhuma lei evolutiva da técnica enquanto tal, mas á sua função na economia atual.” (Adorno & Horkheimer, 1985: 114)
Neste contexto de homens-objetos, a ação individual, dissociada de nexos de sentido mais profundos, emerge como a marca característica do comportamento humano no último século.
Adorno ainda salienta que o próprio lazer se torna uma extensão do trabalho e da ideologia dominante vigente (sustentada por esta Indústria Cultural), onde se divertir é estar de acordo com este sistema de caráter fugidio, e uma forma de idiotizar-se. Se a humanidade sempre foi guiada por fortes sentimentos religiosos, patrióticos ou familiares, agora se vê imersa num auto-engano produzido em escala massiva, exigindo a emancipação de seu valor-de-troca mediante o consumo aprazível e destituído de reflexão – ao menos à moda Iluminista.
Como o Capitalismo convive com a ameaça de uma superprodução (como a crise de 1929), o estímulo ao consumismo é imprescindível. Para tanto, o processo social de produção de auto-significação da existência, mediante o consumo individual dos valores e princípios norteadores da existência, vai acontecer na relação da comercialização de produtos, o que inevitavelmente gera uma crise no desenvolvimento de identificação. As tradicionais instituições que costumavam nortear a sociedade não se adaptam às transformações ocasionadas pela produção em massa e pelo “aqui-agora” postulado pelo Capitalismo. O vazio que fica vai sendo preenchido pela comunicação massiva e a mídia em geral, que como uma indústria qualquer, produz para a venda um produto: o comportamento, resultando na instituição do que Guy Debord chamou de Sociedade do Espetáculo (1997): isto é, uma sociedade cujas relações interpessoais são mediadas por imagens que se apresentam como algo superior à própria experiência empírica e material.
Essa condição produz e é produzida pela evolução tecnológica dos meios de transporte e comunicação, as quais diminuíram as distâncias geográficas, possibilitando a globalização da ideologia capitalista de consumo instantâneo, cuja forma de cultura é pasteurizada e homogeneizada. A sociedade já não sustenta suas significações baseadas em relações concretas, mas sim, em marcas. Como bem disse Debord (1997: 21-2), o espetáculo produzido pela mídia é o “totem” e a consciência religiosa de um mundo não-religioso,
“ele é seu próprio produto, e foi ele quem determinou as regras: é um pseudo-sagrado. Mostra o que ele é: o poder separado desenvolvendo-se em si mesmo, no crescimento da produtividade por meio do refinamento incessante da divisão do trabalho em gestos parcelares, dominados pelo movimento independente das máquinas; e trabalhando para um mercado cada vez mais ampliado. Toda comunidade e todo senso crítico dissolveram-se ao longo desse movimento, no qual as forças que conseguiram crescer ao se separar ainda não se encontram.” (Debord, 1997: 21-2)
O que se costuma chamar pós-modernidade é a crise generalizada que se vê a partir desta pseudo-autonomia que o ser humano possui, não mais controlado por valores ligados às tradicionais instituições, porém, absorto num imediatismo e num ritmo frenético de uma sub-locação produtiva, fragmentada, que vem aumentando as desigualdades sociais. Segundo Dany-Robert Dufour:
“Na tendência à dessimbolização em que presentemente vivemos, não é mais, com efeito, o sujeito crítico, colocando prioritariamente uma deliberação conduzida em nome do imperativo moral da liberdade, que convém, também não é o sujeito neurótico preso numa culpabilidade compulsiva, é um sujeito precário, acrítico e psicotizante que é doravante requerido – entendo por ‘psicotizante’ um sujeito aberto a todas as flutuações identitárias e, conseqüentemente, pronto para todas as conexões mercadológicas. O cerne do sujeito progressivamente dá lugar ao vazio do sujeito, um vazio aberto a todos os ventos.” (Dufuor, 2005: 21)
Impotente e narcísico, sem controle de seus desejos, este “novo” homem mediado por imagens e pelo acúmulo significativo de valores-de-troca, negligencia o passado, desprezando o futuro e consumindo o presente. É órfão de uma representatividade político-social, e submete-se àquilo que é estimulado e não questionado: a individualização no processo de criação de uma identidade própria, que por sua vez é comprada, usada e descartada, conforme a última tendência.

1.2. Publicidade e espetáculo: o caso do Banco Real
Esse consumismo desenfreado e sua conseqüente construção das referências unicamente individuais geram mal-estar com as condições de existência construídas – fato esse assinalado por vários pensadores, e mais diretamente por Zigmunt Bauman (1998). No entanto, os indivíduos podem “responder” a essa situação consumindo referências que denotem demandas éticas mais amplas, menos auto-centradas e politicamente corretos, como é o caso dos produtos e serviços ecologicamente corretos.
Vale notar que se trata de uma resposta que agencia alguns dos instrumentos de reforço à ordem social vigente, com as características predatórias e acima mencionadas, contra outros tantos elementos dessa mesma ordem. Mas não só isso, pois se trata também de uma estratégia de posicionamento de mercado, buscando chamar a atenção da opinião pública para sua marca/serviço através de medidas pertinentes ao desenvolvimento sustentável, por exemplo. Assim, muitas empresas socialmente responsáveis aplicam medidas para lidar com a inevitável degradação do meio-ambiente e simultaneamente reforçam aspectos das relações sociais – a busca pela obtenção ampliada de lucro, por exemplo – que contribuem para o incremento desse mesmo processo destrutivo.
O Banco Real foi pioneiro entre os bancos no Brasil a agir dessa forma. Sua missão é contribuir para o desenvolvimento econômico e social, formalizando um compromisso com a sociedade. Seu atual slogan, “fazendo mais que o impossível”, pressupõe uma empresa engajada na sustentabilidade dos recursos naturais, vinculadas à projetos sociais, e que em suas próprias palavras busca “uma relação mais equilibrada entre o lucro, as pessoas e o planeta.” Além da utilização de papel reciclado em larga escala e investir no uso inteligente dos recursos naturais, o Banco Real ganhou o prêmio World Business Awards por integrar a sustentabilidade nos negócios, associando assim a idéia de uma empresa preocupada com o futuro.
Assim, a questão que surge é a do alcance dessas medidas em termos de construção de imagem institucional – as campanhas publicitárias bastam para sedimentar essa imagem? – e de seus alcance em termos de modificação das atitudes por partes das pessoas atingidas por essas imagens.

domingo, agosto 27, 2006

duas teorias, um maluco e nenhuma conclusão

eu sempre quis falar sobre a minha teoria da exceção, que tava acabando com qualquer tipo de projeto meu de sucesso social-profissional. Ela vem acompanhada da teoria dos 15 minutos, que no lugar de me reconhecer como um enrolado que vive atrasado, eu prefiro entender como um reforço social da brasilidade em sua essência mais anti-britânica, ou seja, pra tudo na vida, em suas devidas proporções de sazonidade e importância social, acredito que há uma tolerância recíproca de 15 minutos. pontualidade é mania de relógio, digital ainda, porque o meu da cozinha começa atrasar quando a pilha vai acabando. exatidão é coisa de máquina, mas deixa meu cabelereiro errar na simetria pra ver o escândalo que eu faço! uahuahuahauahuah
sério, depois da industrialização, da produção em massa, do modus operandi que a humanidade assumiu, a gente pegou a mania (mania mesmo, daqui há pouco passa, se Deus quiser!) de querer imitar as máquinas. bater cartão? só se for no centro, de um magnata distraído. parei com essas coisas, agora eu trabalho.

das últimas entrevistas que eu tinha feito, 4 de 5 eu apliquei a teoria dos 15 minutos. pensei comigo mesmo, "é Brasil, trânsito caótico. eles vão compreender, afinal, se eu trabalhar aqui vou com certeza chegar 15 minutos atrasados." bom, talvez eles não sejam tão brasileiros quanto eu. azar o deles, na minha rede do quintal só cabe uma pessoa mesmo. Curiosamente este estágio que eu consegui agora não houve uma combinação militar do horário pra entrevista. foi mais um "passa aqui daqui uma hora".

agora, a teoria da exceção é quase infalível. seja criativo e pense num motivo pra você fazer algo muito mais prazeroso ( e despendioso $$$) do que normalmente você faria. é simples, abuse de alguma situação explicando pra sua consciência (que provavelmente está sendo enviada pra cama mais cedo pela álcool. sempre tem cerveja a história.) que "faz tempo que você não via ele", "só hoje", ou "tô confiante que vou conseguir aquele trampo, depois eu pago".
Depois da terceira cerveja, de fato estamos quimicamente mais confiantes pra fazer qualquer coisa. foi assim que a minha mãe casou com o meu pai e o Lula deixou de ser operário pra virar político, mas no caso dele era pinga. brincadeira.

eu por exemplo já usei pra mim mesmo todos argumentos possíveis pra justificar baladas de segunda-feira, cheque especial e minas feias. uahuahuahauhauha... tô brincando, nada de minas feias. (perco a própria moral mas não perco a piada! humor antropofágico!)
e assim eu fui minando as possibilidades de uma evolução técnico-intelectual, já que me atrasava pra tudo, quando não, deixava de fazer o mais "ponderado" no momento. rotina e responsabilidades são jogados pra escanteio. pode ser um complexo Peter-Pan. opa, mas criança não bebe! então esquece...

o pior que é uma mania quase intrínseca. com o trabalho e a faculdade você não tem tempo nem pra fazer bobagem (além da própria atividade de trabalhar) nem mesmo energia. você entra "nos eixos" à força. imaginando que meu comprimisso com o estudos, que está ligado à uma atividade prazerosa, seria mantida nos fins-de-semana, pareceu-me, momentaneamente o fim da tese da exceção. pouco tempo, muitos compromisso. fazendo uso daquela cadernetinha pra fins de compromissos chamada a-g-e-n-d-a.

pois é, mas como a vida é interassante exatamente por não ser lógica-racional -- como o Henry Ford gostaria que fosse -- a tese continua em pé. semana passada driblei os deveres e aplique a tese com um argumento fácil "aniversário do cara, pô. uma vez por ano". agora esse sábado que até o meio-dia, uma hora, tinha uma programação cultural, se resumiu a passar vontade em ver incríveis e coloridos tênis de futsal e se contentar comprando um simplão, pra uma pelada meia-boca no fim da tarde com grandes amigos. ah, eu usei esse argumento também "pô Rafa, os caras são como irmãos pra você. aproveita o tempo que você tem com eles". uahuahuauaha usei mesmo. e fui terminar meu trabalho da facul lá pela meia-noite.

é justo. já tinha bebido a cerveja do sábado numa exceção na quinta. nesse dia o argumento foi "ah, já que estou aqui mesmo...", emendando um "você trabalhou a semana inteira, você merece vai...".
e assim vou levando a vida. David Harvey fala da nossa sociedade da acumulação flexível e desregulamentação do processo produtivo. faz sentido, sou bem flexível na acumulação de coisas e acredito que levo a sério a desregulamentação. até porque o que é regulamentado geralmente não é a meu favor.

falando em pós-modernidade, tem essa rapidinha.
tudo te estimula a ser o primeiro ou o melhor. se é que existe algum "número 1" por aí, evidente que não sou eu. desencanei de ser o the best. tentei o caminho contrário: ser o anti-melhor-anti-herói (estilo Jean-Paul Belmondo no Acossado); o importante é ser (ou aparentar ser, já que estamos no século XXI) o "mais" em alguma coisa. buenas, depois de naufragar alguns relacioamentos pessoais, comecei a questionar a minha razão, e em alguns momentos, pensei na possibilidade de eu ser meio doido mesmo. daí, numa bela manhã, eu abro o jornal e leio uma matéria sobre um cara que seqüestrou uma menina de 10 anos e a trancou no porão por oito anos. mano, eu sou o louco? impossível competir com uns caras desses.

é, é isso mesmo. esse é o problema dessa sociedade pós-moderna refém das grandes corporações: competição desleal.

então tá. todos os comentários chulos são brincadeiras, e todos os argumentos de exceção são verdadeiros mesmo. é uma conversa difícil que eu tenho que ter com a minha consciência. antes do primeiro copo é preciso de bons argumentos aristotélicos pra persuadi-la.
é possível uma revogação da lei teoria da exceção, porém, a teoria dos 15 minutos, continua intacta.
só não páro de beber porque senão não teria mais nada pra escrever aqui.
isso que eu poupo vocês das piores histórias. (sei lá, meu irmão lê isso aqui, e vocês sabem, ele conhece minha mãe).
já dizia a carroceria de um caminhão:
"todo mundo vê as pingas que eu tomo, niguém vê os tombos que eu levo."