terça-feira, maio 15, 2007

eu juro que o plausível me basta.
e o repetitivo também me cansa.
caso encerrado.

quarta-feira, maio 09, 2007

me surpreendo com a minha capacidade me atrasar em todos os compromissos que eu posso. todos. mantenho uma margem de atraso que varia de 10 a 20% do tempo total do comprimisso. é um relógio-interno-britânico de atraso. não falha.
daí, numa insubordinação à minha natureza, consigo chegar, ingenuamente, meia hora antes do show gratuito (isso diz tudo) do Zimbo Trio no Teatro Municipal.
como bom paulistano, eu nunca entrei no Teatro Municipal. só no de Porto Alegre há uns cinco anos atrás, mas o ingresso mais barato pro espetáculo era de umas quase-poltronas lá em cimão, meio inclinadas, que era tão ruim de ver o palco, que a gente se revezava na ponta pra enxergar alguma coisa. se eu estivesse pendurado na clarabóia estaria melhor.
daí aqueles lanterninhas, muito gentilmente, perguntaram se a gente não queria sentar num andar abaixo, mais civilizado, por um trocado módico. tchau sótão, olá espetáculo.
adiei o dia de ver o Municipal Paulista quando reparei num rocambole de seres humanos em volta do edifício, numa fila que não dava nem pra supôr onde começava ou onde terminava.
cheguei a suspeitar que estivessem distribuindo cesta básica de graça.
ainda bem que colocaram um telão do lado de fora. com som, claro.

se eu sou ingênuo de pensar que conseguiria entrar no show do Zimbo Trio, o que dizer do espertão que colocou os Racionais pra tocar na Sé lá pelas 3h da matina, depois que todo mundo já tinha passado o dia inteiro, pelo menos, enchendo a lata.
todo show estava lotado. o centro movimentado, bem família. isso me fez pensar que, tirando doar sangue, tudo que é de graça é altamente cobiçado. até o show da Zélia Duncan, vulgo abajur dos Mutantes, foi bem procurado (pelo menos nos cinco minutos que eu fiquei por ali).

inacreditável, o Papa é bem mais popular que o Corinthians. desde o show dos Flinstons que o Pacaembu não colocava 40 mil neguinhos lá dentro. e agora o Frei Galvão é o primeiro santo brasileiro, o que significa que é o primeiro santo que dá um migué, e a gente nem precisa pagar promessa, a gente põe na conta.

quarta-feira, maio 02, 2007

fora 1
quando eu descobri que o André Laurentino tinha um blog com suas crônicas, assim como eu, e ele não é nerd, ele é cult, assim como eu, resolvi deixar um singelo comentário. escrevi algo do tipo "seu livro foi muito elogiado por um publicitário reconhecido no meio, e bem, realmente deve ser bom, porque você sabe, publicitários não costumam elogiar mais coisas que o próprio umbigo". buenas, estava eu achando que era o supra-sumo do estudande crítico-sarcástico quando um amigo meu me avisa: cara, o André Laurentino é publicitário.

aprendi uma lição: mesmo que um publicitário faça um trabalho de merda pra qualquer empresinha-nojenta, provavelmente o cara terá uma veia criativa de escape, e isso faz dele um ser-humano melhor, principalmente se ele plantar árvores por aí. assim como eu!
eu, por exemplo, gosto de escrever com a mão esquerda (sou destro) em guardanapos. um dia aquelas formas grotescas vão ganhar o mundo nos principais salões da alta classe artística. nem que seja no second life.

fora 2
alguém algum dia me falou pra descolar uns ídolos e se espelhar neles. ídolos são bons quando em doses homeopáticas. nada de idolatria, mas faz parte da relação que temos com os mitos. o problema (e aí é que bate uma certa depressãozinha) é quando você se dá conta que seus ídolos ou se suicidaram ou beberam até morrer precocemente vivendo na casa de seus pais. ou mantinham relações sexuais com o cachorro.
eca...

fora3
Fernando Meireles, o cineasta de "cidade de deus", aproveitou-se, em sua juventude universitária desvinculada de organizações políticas (ao qual, eu suspeito que deviam ser bem sacais) mas em plena ditadura militar, para restaurar a escultura do apreciadíssimo Flávio de Carvalho, roubando-a dos depósito de sucata da prefeitura e instalando-a em praça pública.
fazendo os cálculos, eu, na minha atual juventude universitária, que sempre quis ser o cara do "curtindo a vida adoidado", o máximo que consegui foi roubar uns copos de vidro de uns botecos da vila, e por sinal, não tinha nenhum fim cultural ou solidário. foi só pra somar minha coleção de copo americano tradicional de beber cerveja.
enfim, daí você já pode tirar algumas conclusões sobre o futuro.
o fracasso não é um destino, é um estilo de vida.

sexta-feira, abril 27, 2007

pero-pilo-pscia

tá legal, a lei de transformar a cidade de São Paulo num ambiente minimamente mais agradável proibindo outdoors e totens megalomaníacos, abandonando a impressão de que a nossa cidade parece um capacete de motoboy é ótima.
fechar os bingos, mesmo encerrando de vez com as minhas tentativas de fonte de renda alternativa ao patronato, mesmo que as velhinhas da cidade entrem em colapso de tédio, é ainda uma boa proposta.
agora, inventar que com dezesseis anos o moleque deve ser tratado como maior de idade é babaquice pura, digna da nossa bancada conservadora, branca e burra.
além de um problema social, de falta de alternativas, de um projeto econômico que de fato desenvolva a nação em sua plena capacidade, um menor de idade ainda é vítima de sua própria condição biológica de ser um adolescente, ou seja, uma criança com pêlos no corpo, cheio de hormônios que o induzem a se comportar como um macaco no cio, numa rebeldia gratuita, caracterizando a babaquice generalizada que é o comportamento padrão nessa época da vida.

eu por exemplo, com dezesseis anos, achava que jogar uma pedra numa vidraça do McDonald's era "avisar" pros capitalistas americanos que se eles quisessem roubar a Amazônia da gente enfrentariam uma resistência violenta.
achava que o punk rock era um movimento legítimo dos jovens inconformados com a imposição de um comportamento consumista e de uma aparência bonita.
achava que minhas acnes era sinal de que Deus não gostava de mim e por isso eu rompi com Ele!
achava pagode pobreza de espírito e Ramones o balaustre da música boa.

enfim. coitado. eu tinha dezesseis anos. ainda bem que não existia essa lei na minha época.

eu tinha um time de futsal no colégio chamado "the junkies". nossas referências eram o Iggy Pop e o Transpotting. modéstia à parte, bem à parte, como eu era o único boleiro da turma, eu levei o time nas costas pra gente ganhar do outro time da sala, composto pelos dançarinos de axé. e eles dançavam mesmo, sabiam coreografia e tudo. eles eram malhados, gel no cabelo, roupa de surfista. eu, praticamente, era um padre perto dos caras do meu time, que realmente levavam a sério essa história "the junkies". imagina, era um time perdidaço, fora de forma, um bando de cheirador de benzina, sem pontaria nenhuma: dois caras perdidos lá na frente, eu e um outro amigo que jogava futebol de calça social e sapato(!), e um goleiro que, por mais que fosse grande, não deixa nada a desejar a mulher do Tapa na Pantera. e o "the junkies" ganhou por um gol de diferença, com uma raça descomunal.

dezesseis anos é o fim-da-picada. ainda bem que é só uma vez na vida.
eu acho que eu era muito burro. li um livro do Bukowsky, não entendi porra nenhuma. li um livro do Lênin, não entendi porra nenhuma. tentei aprender a dar um "oli" no skate, abri o pulso duas vezes e desencanei. só aprendi mesmo a fazer uma linha de baixo pra tocar as músicas do Ramones.
enfim, essa lei só serve se for pra prender os muleques durante uns dois anos pra depois soltar. e de preferência dar um emprego pra eles, senão vão ficar vadiando por aí escrevendo crônicas infundadas...

terça-feira, abril 24, 2007

agora eu tenho uma parceira: www.sequandorimaalforria.blogspot.com

quinta-feira, abril 19, 2007

de dia faz calor, tem trânsito, barulho, telefone tocando, gente na porta, alguém te perguntando, alguém te oferecendo, música ao lado, música alta, tem helicóptero, tem motor de moto, furadeira, construção, suor, confusão, pessoas com pressa e uma alta carga de informação-poluição-distração dispersos no ambiente.

claro que eu me atraso. pra qualquer compromisso.

agora, a noite é bem mais agradável.
só escuto os ponteiros dos segundos. temperatura amena-ótima.
sem telefone. sem barulho. sem pessoas te passando tarefas ou pedindo favores.
ou simplesmente te interrompendo avisando que estão saindo ou chegando.
não tem latido, grunido, pisadas pesadas, programas péssimos de tv, ou barulho da louça sendo lavada ou da porta do armário das panelas que não fecha, range e sacode a lataria.

a noite é o melhor horário pra pensar, refletir, concluir e deixar o dia, com o seu trio elétrico social, atrapalhar, atrasar, entorpecer e fazer esquecer. se dependesse só da noite eu já teria me desculpado geral com a galera, seria mais ponderado, sóbrio (num sentido lattu sensu), aberto a processos mais humanos de evolução e quem sabe vegetariano. acho que até teria uma religião.

de dia se trabalha, pelo amor de deus, já começa por aí.

já dizia um amigo meu que pra dormir a gente terá a morte inteira pra isso.
e se pensar que em média dormimos oito horas por dia (ah, qualé trabalhador-do-brasil, pode contar com aqueles domingos-ressaqueiros que o seu café-da-manhã é a sobemesa da casa), ou seja, um terço do dia, não é difícil concluir que dormimos um terço da nossa vida. vivendo até o sessenta, mais ou menos vinte anos se passaram dormindo. vinte anos! quanto tempo passou a bela adormecida? pelo menos ela tinha aquele príncipe... pra me acordar eu só tenho o mini-system da minha irmã em alturas obscenas em momentos absurdos.

seria ótimo associar qualquer tipo de atividade produtiva ao sono. sono remunerado é a definitiva extinção do trabalho de dia e o meu projeto de vida (além de jazzista em re-new orleans). tenho know-how ontológico e mais de sete anos de experiência. trabalho aos fins-de-semana e feriado. trabalho até em horário de almoço!
isso me lembra aqueles spams que te sugestionam: emagreça dormindo!
como? contraia dengue e cheire um pano bezuntado de éter. por uns três meses. ou entre em coma com hepatite que também funciona.
me poupe. depois dos evangélicos, os gordinhos são a categoria mais fácil de ser enganada...
"use um broche ridículo. pergunte-me como"
não, obrigado. de noite não tem essas coisas.

domingo, abril 15, 2007

eu, Romário e dois vaidosos...

bola, chute, arquibancada. bola chute, arquibancada. bola, chute, sistema de eletrecidade do ginásio.
nove em cada dez chutes meus fazem o goleiro bocejar. a metáfora, coerente, alerta pra dada situação de desacordos, desarranjos e desajustes pessoais em geral, que culminam num mês antes do seu próprio aniversário. desnecessário e inexplicável, senhoras e senhores, nosso amigo inferno astral.

inferno astral?

sempre achei o PAulo Coelho, o alquimista que tranforma auto-ajuda em ouro, lero-lero pra recém-divorciada (nesse caso o homem bebe). "escute sua voz que vem do seu interior, mas sem desrespeitar o sotaque". me poupe.
nunca fui muito católico e nunca compreendi bem a diferença entre astronomia e astrologia. daí dá pra concluir que não faz sentido pra mim essa história de inferno astral. bom, até acontecer comigo... você percebe que está perdendo o controle e a autonomia sobre sua própria vida e destino quando começa a ler a coluna do Quiroga no Estadão.

insatisfeito com a atual situação, e com as complexas metáforas na análise de Touro, resolvi pular uma casa e só ler o de Gêmeos, que eu me idenfico bem mais.
aí sim fica interessante ler o zodíaco: quando é um serviço self-service. você vê, dá uma lida, e "pega" o signo que você achar melhor. a vida já é injusta mesmo. a gente não escolhe nosso nome, nossa altura e principalmente, nossos parentes. portanto, nada mais justo que se apropriar de um signo que você ache mais adequado.

isso me lembra a história de um filho de um preso político argentino, que tendo os pais presos e mortos, os militares deixaram o nenê ser criado por uma empregada doméstica. vinte anos depois ele descobriu a verdade, e se arrependeu de ter lido a vida inteira o horóscopo, já que a certidão dele era datada dois meses mais tarde do seu nascimento verdadeiro.

meu quarto ainda não tem incensos e cristais da boa energia, e não faço numerologia pra sair de casa, até porque, passou de quatro dígitos já me complico (por isso não consigo pagar minhas contas).
mas confesso que até o dia de São Jorge, estarei resignado na segurança (psico-física-finaceira) do meu lar.

acho até, se me permitem a presunção, que o Romário ainda não fez o milésimo por culpa minha.
aliás, nessas minhas andanças por essa vida errante, concluí que quanto mais sem-graça é uma pessoa mais vaidosa ela é.

sim, foi uma auto-crítica.

inferno astral...tsc,tsc.
o que vem depois do aniversário? o limbo dos prazeres?
espero muito.

sexta-feira, abril 06, 2007

páscoa, gravata e um teco de presunto

numa das primeiras pseudo-crônicas que eu escrevi tentei ser engraçado dizendo que a páscoa é a data festiva mais surreal que existe já que junta coelho, ovo e chocolate. e bem sabemos, coelhos não botam ovos, chocolate vem do cacau e o ovo vem da galinha (ou vice-versa). apelando pra outra data festiva quis ser engraçado de novo (sou brasileiro ué!) dizendo que o papai noel era comunista já que vivia de vermelho, era barbudo e distribuía presentes por aí. chego a mais uma páscoa insistindo, novamente, numa piadinha temática. mas qual? datas festivas cada vez mais fazem menos sentido no nosso dia-a-dia esvaziado de vínculos sociais-culturais, dispersos num tsunami de dispositivos eletrônicos de prazeres instântaneos. me chama que eu vou!


sei que voltei hoje cedo da sapecada-noturna e comi um misto sei-lá-o-quê, xis-delícia, que tinha presunto no meio. esqueci que não podia, era páscoa. qualé, ninguém lembra que é páscoa às seis da manhã, depois da festa.
quer dizer, na verdade, eu nem ligo muito pra isso desde daquela fatídica páscoa de 97, quando uns orientais estavam lá em casa e meu pai, tão católico quanto o muhamed ali, resolveu fazer um churrasco de boas-vindas. daí percebi que era a várzea total.
churrasco na páscoa! aí foi pegar a bíblia e guardar do lado do 'manual de escoteiro do tio patinhas', perto de algum fascículo 'culinária cláudia', numa estante esquecida.
isso foi só uma metáfora, nossa bíblia de verdade a gente usa de calço na escrivaninha do computador que anda capenga.

desde então só como óstia com um salaminho em cima. e se deixar pingo um limão.
dizem que a igreja tá preocupada com a 'fuga' de fiéis. começa a oferecer óstia recheada que vai ter mais gente na igreja do que no último jogo do corinthians.

eu até queria ser mais católico, se não fosse o fato de igrejas, em geral, serem assutadoras. contando com o Kasper Hauser, já somam dois com medo de igreja.
e também me desanima os comentários literalmente brochantes do papa: não transem.

- então papa, eu sei que é sacanagem dizer isso pra você, dada suas condições e seus votos, mas transar é bom. bom pra caramba. principalmente quando não precisa ligar no dia seguinte. então, por favor, dá um tempo com essa história de proibir a camisinha. pelo menos libera a pílula, vai... nem terminei de pagar minha faculdade, vai que dá uma zica.

brincadeira. tirando o fato de eu parecer um anti-cristo machista, na verdade, é o meu jeitão de falar bobagem pra pessoas rirem, mais ou menos como o... papa!
olha só, sou mais católico do que eu pensava!

o legal de falar mal da igreja é que tirando minhas avós ninguém mais é católico. então eu não ofendo ninguém. tipo chutar cachorro morto.
mas imagina se eu começo falar daquele rabino, o Sobel. porque se você fala qualquer coisa de judeu já invocam um campo de concentração e te acusam de anti-semita.
- anti-semita? eu? mas eu nem sei extamente o que é "semita" como vou ser "anti"? nem sei qual é a diferença entre semita, sionista, judeu, hebraico e banqueiro.

depois dizem que judeu é mão fechada. só até entrar numa loja de gravata grã-fina!

a real é que eu estou mais mobilizado pra ver o gol mil do romário do que pra chegada do papa em aparecida; achei o episódio do Sobel mais engraçado que ver o palmeiras perder nos pênaltis pro conceituado ipatinga e, aproveitando o ensejo do politicamente incorreto, eu queria ter um amigo mulçumano só pra perguntar:
- ô meu, você não entra em banco porque detesta judeu ou porque sempre te pegam no detector de metais?

pronto. foram as três.

feliz páscoa. e por favor, não siga ícones, apenas use de atalho.

sábado, março 31, 2007

cinco cachorros correndo em círculo

aquela quentura por dentro, saliva seca, uma preguiça que se mistura com uma mal-estar num quarto quente e abafado. eu sinto o álcool rondando no sangue, circulando pela cabeça, mal-tratando meu fígado. eu suo álcool. do tipo, se alguém fumar perto de mim eu explodo. bum!

levanto, olho meu pé esquerdo, e penso, porque será que ele, só ele, o esquerdo, tá tão imundo?
por onde eu andei, atolei, me eslamacei? e o direito limpinho, aonde estava a essa hora?

de manhã tinha carne moída. a mais gostosa que eu já comi na minha vida.
eram seis e qualquer coisa.
nem percebi o velho se aproximar. cabelos ralos e grisalhos, e um nariz igual ao meu. camisa azul abotoada e pra dentro da sua calça jeans. sapato. limpo e apressado. pergunta aflingindo questionando condenando ou quem sabe até ironizando 'isso são horas de chegar?', e o tico, abandonado pelo teco, ainda conseguiu fazer a sinapse necessária, da conecção química neural-neurônica, e responder sem defasagem de tempo, ' e isso são horas de sair?'.
não se faz mais bom humor matinal como os de antigamente. não se faz reunião sábado de manhã. só com o travesseiro, cama e edredon, discutindo a pauta 'por hoje morri'.

alguém me liga. definitivamente não escuto tocar. não escuto nada. nem a música lá fora, nem os passos pesados do quarto ao lado, nem meus pensamentos.

doer, doer, não dói. sinto só um calor por dentro, quente, e um suor etílico.

não lembro da música, nem da última conversa. com certeza não lembro o nome. perguntei duas vezes a mesma coisa. sempre faço isso. esqueci. só lembro do que me interessa. depois que consegui, saí e deixei lá. os melhores momentos se dão lá fora. quando não dá pra fazer mais nada e se pode tudo.

cinco cachorros correndo em círculo. obina é melhor que o pelé. thiaguinho é melhor que o eto'o.
minha vida minha história meu amor.
claro que não ia dar certo. não podia jamais. era um sinal.
a lenda abençoou, pedi a benção.
o sábio aconselhou, pedi conselho.
só não ajoelho porque não levo jeito pra tietagem.

alguém falou em espanhol comigo e eu só concordei com a cabeça.

carne moída pão pai cama cerveja nêga amigos telefone música carona sujeira pé esquerdo suor

quinta-feira, março 29, 2007

cappuccino, urubus e gol mil.

é fato que quando se estuda Publicidade você acaba desenvolvendo um "olhar" diferente pra avaliar um anúncio. até sua postura passiva muda pra um olhar ativo buscando entender conceitos, técnicas e qualquer outra coisa que você possa incorporar num próximo anúncio seu. quero dizer que quando a coca-cola faz um anúncio, eu sou mais influenciado pela tipografia e linguagem usada do que pelas gotículas sensualmente refrescantes que cobrem a garrafa.
mas como tudo na vida, existem exceções, claro. eu que só bebo café quando estou morimbundo e precisando urgentemente ficar acordado ou quando faço um charminho tomando um cappuccino depois de um PF aqui perto, fiquei realmene sensibilizado em adquirir a Cafeteira Espresso Digital Dolce Aroma, "a melhor desculpa para ficar até tarde no escritório". Tá certo que custa seus R$2,639 (o que inviabilizaria meu sonho de lambreta, de Machu Piccu, e de umas reformas no telhado que está precisando) mas peraí, aqui diz que "guarda na memória o jeito exato como você prefere seu café espresso". eu sou fascinado por tecnologias que remetem à coisas tradicionais. não é uma máquina que inventou um café com chá verde ou água gaseificada sabor limão acompanhando as última tendências. estamos falando do velho cappuccino, mas numa máquina di-gi-tal, que guarda coisas na memória. imagina se tocasse mp3 durante o processo! adoro as coisas antigas: cafeteira, vitrola, baú, meu pai...

***
a natureza é bem coerente: deitado na cama, levo em torno de uma meia hora perdido em pensamentos pra conseguir dormir. quando eu acordo (que coisa!) não é que eu também levo uma meia hora pra levantar?? (depois de uma relação dialética com o despertador, numa negociação duríssma de adiamento).

***

O Romário, como todo bom jogador craque e reconhecido pela mídia, tem o hábito de ser vaidoso e arrogante em determinados momentos, de se meter em escândalos, de falar qualquer bobagem digna de jogador de futebol, e entreter a gente com comentários do tipo "o gol mil vai ser bom pra sociedade. ela tá precisando. a violência, a corrupção deixam as pessoas muito tristes. o gol mil vai vir numa boa hora". foi mais ou menos assim. mas para leigos jogadores de vôlei e video-game, explico que o futebol e todo o seu universo espetaculoso-fabuloso, possui sua própria linguagem, regras e valores. bobagens de jogador de futebol num país com tanto político borra-linguiça, não significa nada. o gol mil do Romário não vai aliviar as tensões sociais, os conflitos, e o medo institucional das cidades grandes. mas vai representar o triunfo do bom futebol, do futebol brasileiro, maroto, malandro, esperto, caprichado. não importa quantos gols ele fez no amador, num society ou num time da arábia qualquer. importa que ele é craque, e de uma safra raríssima. quem teve o Parreira como técnico numa seleção que tinha Dunga de capitão, Zinho no meio (!) e Viola no banco e faz o gol da vitória contra a Suécia de cabeça, numa zaga nórdica que dobrava ele em altura, só pode ser um jogador matador. inesquecível.
enfim, Romário é um deliquente-desbocado. e daí? ele é craque, estilo MAradona, e um símbolo do meu universo futebolístico infantil. por isso que quando se der o gol mil eu vou pra galera. vou comemorar o título de "últimos craques vivos" e não vou querer que o dia acabe.
tenho uma tese que não haverá mais gols mils. olha essa última Copa que ridícula.
o futebol míope europeu é um atentado aos bons costumes boleiros. qualquer beck-de-esquina é craque lá, qualquer técnico opta por um 5-3-2, recuado, procurando primeiramente conservar o empate. e o Brasil, na sua condição de eterna-colônia, acha fantástico copiar europeu. nas cafeteiras de cappuccino até vai, mas não naquele futebol tosco. o gol mil do Romário é uma homenagem ao bom gosto, é símbolo de uma era que acaba, o fim do homem de área ágil e habilidoso, é o fim dos 'baixinhos'.
o gol mil vem coroar uma espécie em extinção.
no mil do Romário o dia não vai acabar.

domingo, março 25, 2007

aforismos

pulsando, seguindo o som do tantã - um surdo ansioso -, eu tenho dito:
sapeca nêga. sapeca até doer nas ancas, como dizia minha vó.
sapeca sem pensar em mais nada e conduz nosso cordão do irreparável, do improvável jeito já previsível, mas sempre excitante da possibilidade, apenas da chance de tocá-la, lá bem alto, e colocá-la no bolso e sair correndo.
o problema é o pouco que já alegra. pouco e barato, que nem os almoços do meu pai.
não dá nem tempo de ficar triste. quando eu vi, já tô no meio da pavunça.
glacê é bom mas não enche a pança, já dizia aquele ditado carioca.
a gente fica lambendo a tigela do bolo de chocolate, e esquece do arroz com feijão. depois dá gastrite, asia e até diabete. se eu tivesse uma Tia Bete com diabete seria um eterno trocadilho redundante. eu ia enlouquecer a velha. mas quem sabe avisa: almoça menino, saco vazio não pára em pé. é verdade, não pára em pé. a gente cai mas levanta depois, na dialética do joão-bobo. glacê, glacê, glacê. às vezes enjôa. mas demora...
comigo é assim, o Paulinho falou tá falado: "que tal felicidade, sempre tão fulgaz, a gente tem que conquistar". o problema é quando a gente confunde felicidade com estar contente o tempo inteiro. aí dá no que dá. o bloco 'dos que não aconteceram' engrossa suas fileiras; basicamente defasados em relação ao bloco 'do não pergunte minha opinião, eu apenos sigo', que já dobra a esquina lá na frente, num carro zerinho, da hora. o momento agora é de plantar, depois a gente colhe, com calma. essa história de querer colher antes de plantar está tornando meus domingos impossíveis de qualquer tipo de aproveitamento físico-intelectual.
fui mirim: joguei biribinha na largada achando que estava só me aquecendo. quando vi explodi ela! pois se "não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar", a gente vai indo, indo e quando vê, já foi. seguindo essa linha de raciocínio, que a grosso modo quer dizer, "enfim, a culpa não é minha", tem uma poetisa, da pegada, que diz: "a vida é que nos tem: nada mais temos".
ou seja, essa experiência momentânea, imediata de submersão sígnica de fenômenos que nos envolvem e atingem, na produção racional-emocional de uma compostura de ser e estar, na realização da consciência humana em sua plena condição efêmera e mortal que entendemos como vida, é muito mais abrangente de possiblidades que nossa percepção objetiva, ingênua em sua megalomania, postulando assim, a essência de viver, que é se entregar na sua impossibilidade de equacionar, possuir ou delimitar o que virá, e sendo assim, apenas como espectadores ativos e agentes do agora, de um mundo de possibilidades que podemos ou não obter, dependendo de quanto estamos nos poupando, sabe-se lá pra quê. mas, o tentar já é incrivelmente divertido, seja lá o que for que estamos tentando.
e assim, precisando de apenas um mês na esbórnia pra jogar no lixo as resoluções do ano inteiro, ampliando verticalmente a capacidade de fazer as coisas equivocadamente num tempo excessivo, a gente vai enrolando.
sapeca nêga, sapeca que o carnaval só acaba quando Paulinho mandar.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

um carnaval

Parte 1 - como reconhecer um paulista no Rio

A idéia era sair meia-noite, dormir no ônibus e chegar de manhã cedo, mas no meio do caminho tinha um bar, alguns bons amigos, cerveja malvada, e enfim, dormi três horas, levanto às cinco, pegando o ônibus às seis e pouco e lá pela uma da tarde estou na rodoviária tentando achar minha base paulista no Rio. que gracinha! eles estão na praia! Ipanema, tomando um sol.
como meus amigos estavam no mel da praia, eu é que tive que encontrá-los, e ainda a partir dos meus trajes formais de paulista: tênis, calça de sarja, uma camiseta regata debaixo de uma camiseta branca comum e uma mochila cheia nas costas. e foi assim, desse jeito, nesse estado, que mordi a língua sobre o jeito ridículo dos gringos irem a praia, e, branquelo e suado, me dirijo ao coqueirão do posto nove, talvez o único ser humano visto de calça em Ipanema desde que o Dom João VI fugiu pro Brasil. fui ao encontro da carioca e o barbudão acompanhado do careca.
cinco minutos pra eu largar minha - a partir de agora inseparável - silhueta de gringo, e por instantes de cueca coloco uma bermuda e me recolho na escura segurança da sombra do guarda-sol, popularmente chamado de 'barraca'.
se pra um carioca guarda-sol é 'barraca', provavelmente um barraca eles devem chamar de 'casa'. vai nessa: "alugo casa, três lugares, no leblon" e cai no conto do camping da pracinha...

mas no fundo é fácil distinguir um paulista de um gringo no calçadão do Rio. enquanto os paulistas tentam parecer cariocas (não no nosso caso que ainda não temos pêlos no peito suficiente pra podermos raspá-los) tentando um bronzeado e um jeitão descontraído numa bermuda de surf, os gringos investem mais pesado e tentam, de uma forma confesso até constrangedora, se parecer 'brasileiro'.
eu não sei o que eles entendem por brasileiro, mas nem todo mundo aqui de fato usa havaianas. existe toda uma gama de genéricos de havaianas, raiders quase obsoletos, e boa parte do povão no Rio anda sim, descalço, principalmente vendedores ambulantes.
os gringos se bezuntam em protetor solar, sambam que nem boneco de olinda e ainda pegam umas mulatas criaturas crente que estão por cima da fina flor da brasilidade. gringos costumam socar, machucar e afligir pandeiros, com golpes jurássicos numa tentativa pra lá de tosca de tentar uma intimidade.

a noite teve um bloco que 'concentra mas não sai', teve muita cerveja pra esquecer o outro bloco principal que deveríamos ter ido, e uma pracinha de bairro com marchinas de carnaval. a partir daí, dá pra começar a entender a diferença da Paulicéia-dos-lugares-fechados e o Rio-dos-lugares-abertos.

Parte 2 - como mostrar aos cariocas que a pegada é bruta

minha formação meio-católica meio-pepperoni nunca foi tão forte pra eu desejar casar na Igreja. mas confesso que sempre tive vontade de me vestir de noiva, com véu e tudo. nossas fantasias - realizadas - de noivas, com direito a buquê, fez um sucesso do metrô ao bola preta. além de provocações, poses pra fotos estrangeiras e apertos no bumbum, nosso 'bloco paulista da madeira pesada' foi uma sensação no carnaval. travestis, gringos, funcionários do metrô e até policiais foram aliciados na malícia pejorativa-permissiva do carnaval.
num calor absurdo que evapora o álcool do teu corpo numa velocidade que impõe uma relação de equivalência cerveja-água, fomos parar num almoço meia-boca na Lapa, e por sorte Dionisíaca (amém!), saía ali um dos melhores blocos desse carnaval, dada as músicas e o tamanho do público.

teve um bloco que eu encontrei um cara de pandeiro e comecei a tocar com ele qualquer coisa, e e àquela altura estava tão à vontade no Rio que passeava no bloco de cueca. a gente tinha uma pinga mineira da boa, e quando me encontrei sem querer com o cara do pandeiro (não existem nomes no Carnaval) ele me chamou de "aquele paulista-sinistro", com o típico "s" com som "x" carioca. eu aceitei os "xinistro" e ofereci a pinga, que de tão forte, disse que havia gasolina misturada, logo depois que ele tinha dado um gole. o cara arregalou o olho e deu passo pra trás me perguntando: "você tá de sacanagem né?"
"só um dedo de gasolina pra dar um grauzinho..." respondi.

uma vez no metrô, pegamos um horário bem família pra irmos pra um bloco, e num vagão repleto, havia uma Geni (obrigado, caprichei na maquiagem), uma mulher dos anos setenta barbuda e uma carioca vestida de menino. a provocação começou por parte deles, um grupo de caras rindo das 'mulheres feias'. terminou com a gente levando a sério o papel (esse é um dado importante, como as pessoas assumem seus personagens travestidos nos blocos de rua) e quase sentando no colo de um pobre coitado que ficou isolado dos amigos, com as pessoas do vagão rindo impressionados, e com aplausos unânimes quando saímos na nossa parada. acho que nem quando eu cantava num coral beneficiente eu recebi aplausos tão sinceros.

o que me fascina no Rio é sua complexa relação província-metrópole, como se bolsões de características interioranas sobrevivessem agrupadas num todo que ganha uma face urbana-cidade-grande. LApa, Santa Teresa, parecem que vivem num ritmo próprio, interligada com a loucura ao redor, mas não necessariamente vinculada ou dependente.
é quase uma cidade esquizofrênica. tão grande e tão pequena que até encontramos alguns outros paulistas conhecidos pulando por lá.

PArte 3 - como fazer um pedido a um garçom carioca

tome nota: leve um estilingue e umas palavras cruzadas. mire na cabeça e depois fique esperando um tempo, se distraia, e quando hegar nem tente reclamar que "era light" ou "eu disse frango não sopa" que até ele voltar você já comeu sua própria mão.
morteiros são opcionais.

não sei se é bom ou ruim, mas o carioca não é muito vidrado em ganhar dinheiro. não é qualquer taxi que sobe Santa Teresa, as lanchonetes da rodoviária nem aceitam cartão, e acreditem, uma mulher de um caixa de um supermercado em bairro nobre, passou a tarefa dela de dividir o valor pra dois cartões, logo pra mim, o cliente. o barbudo e seus cálculos mentais salvaram ela. em são paulo é rua na hora e se bobear dá cadeia pra coitada.
-- sessenta e cinco e trinta e quatro.
-- cobra metade nesse cartão e metade no outro.
-- ah! tô cansada. divide aí vocês. (cruzando os braços)
-- moça, já pensou em usar essa maquininha? (apontei pra calculadora que tem no balcão)
-- tá quebrada.

é vero...

o Rio é muito moderno, é um auto-atendimento generalizado: eu compro, eu pago, eu faço as contas pra dividir o valor...tipo a Holanda, só que com um poquinho mais de prostitutas e travestis.

PArte 4 - o que fazem dez milhões de paulistanos parados no trânsito??

no Rio, se você vai comprar um pipoca, se depara com um cartão postal.
se se perde num canto, cai num samba.
se tá cansado, senta numa praça.
do nada uma pedrona, uma trilha, sagüis e uma algum edifício da história nacional.
ah... cidades turísticas... uma árvore a cada três metros, e aquela bizonha impressão que todos seus habitantes tem o mesmo acesso a seus bens naturais-culturais...

tá certo que às vezes dá impressão que só o Centro e a Zona Sul são interessantes, e dadas as proporções destes bairros, o Rio fica bem pequeno.
tá certo que ser branco-fps-trinta declara publicamente que você é de fora, e te faz correr todos os riscos adjascentes.
tá certo que o futebol carioca é medonho beirando o deprimente.
tá certo também que carioca não dá muito bola pra paulista.
tá certo que café no Rio é uma espécie de água amarronzada (sem contar a idéia equivocada deles sobre pizza).

mas se tem uma coisa que não está certo é achar que a vida se resume a viver num treco de concreto superhabitado, cara e quente, com uma pressa neurótica e sem sentido. sem contar o orgulho paulista de ficar trabalhando o dia inteiro. eu hein...

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

ovo cozido

coloca-se o ovo (de galinha) numa panela cheia d'água.
até a água começar a fever vai uns cinco minutos. deixe borbulhar. daí leva mais quase dez minutos pro ovo ficar inteiramente cozido. isso se você gosta da gema consistente, sólida. se preferir a gema melequenta, tira com uns cinco minutos depois que ferver.
o ovo vai estar muito quente pra comer. deixe esfriar uns três minutos e comece a retirar a casca, que como estará grudada no ovo, levará pelo menos uns dois minutos pra tirar toda se você não tem prática.
pronto. pode comer.

em geral leva quase vinte minutos o processo completo de cozir e comer o ovo.
quem, nos dias neuróticos de hoje perde vinte minutos pra comer um ovo cozido?
o custo-benefício em relação ao tempo não compensa.
em vinte minutos dá pra fazer dez pipocas de microondas.
em vinte minutos dá pra fazer uns seis miojos.
e se tua pizzaria for perto dá pra chegar uma muzzarela.

não se come ovo cozido na pós-modernidade.
o ovo cozido é o símbolo da vida tranquila, sem neuroses com o relógio.
não se 'perde' vinte minutos. o tempo é abstrato demais pra possuirmos pra podermos perdê-lo.
viva o ovo cozido.
viva a vida no campo.
viva o sapo, o grilo e a malária.
viva.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

acabou o assunto.
conversa de elevador e a velha a fiar.

no mais, continua tudo marromeno.
vou aproveitar que meu talento tirou férias
e vou atrás dele; quando raptá-lo e guardá-lo no bolso (daqueles com zíper pra não escapulir) eu volto.

adianto o que provavelmente seria as próximas quinze pseudo-crônicas:
eu sou um vagabundo, eu gosto do zé carioca, trabalhar é uma merda.

um bocejo

PS: agora todo mundo quer ser bipolar. se você é uma pessoa visivelmente desequilibrada com tendências frenéticas-empolgantes sucetíveis ao repentino suicídio, então você é cult.
você não é um fracassado porque seu emprego é muito do meia-boca, e todo mundo já tinha pegado sua mina. na verdade você tem um distúrbio psicológico que só pessoas muito inteligentes e sensíveis têm. a mudança drástica de humor não te deixa fazer nada direito. não é culpa sua...

-- olha mamãe, eu sou bipolar!
:)
:(

já vi gente inventar desculpa pra ser vagabundo, mas cada dia eu me surpreendo mais.

terça-feira, janeiro 16, 2007

ser ansioso é extremamente cansativo. não digo que sou aqueles que ficam batendo o pé freneticamente no chão, ou chacoalhando o joelho pra-cima-pra-baixo, mas sou o ansioso do tipo vagabundo, aquele que se marcar qualquer coisa pra fazer no dia seguinte fica alerta na cama, olhando pro teto, na maçante espera do inédito dia seguinte.
até pra tirar a segunda via do meu RG eu perco o sono:
imagino a fila que vou pegar e imagino o livro que vou tentar ler e imagino o sono que vai começar a me dar já que eu acordei cedíssimo exatamente pra não pegar fila mas isso é são paulo e não existe a possibilidade de você sentar para amarrar o tênis sem pegar uma filhinha, e como ficarei irritado com isso então já penso numa resposta de antemão pra evitar meu aborrecimento já que fui eu que perdi minha carteira naquele balada que eu exagerei e porque eu exagerei? e agora já foi, e só me resta esperar pra acordar cedo bem cedo pra pegar o mínimo de fila possível pra me livrar logo desse encargo de tirar a segunda a via do rg e vou aproveitar o ensejo e resolver aquela coisa no centro pra já fazer tudo de uma vez e não ter que escolher outra data e esperar tudo de novo já me livro de outro encargo e eu espero que todos os documentos estejam certos e que não falte nada e que eu resolva logo e que eu pense em outra coisa pra fazer amanhã mas eu não sei quanto tempo isso vai me levar então eu não vou marcar nada por equanto e provavelmente vai ser um dia perdido e porque a droga do sono não vem, acho que vou beber uma água pra ajudar e de repente ler um pouco daquele meu livro pra ir pegando no sono e já são duas e meia caralho vou dormir pouquíssimo com certeza será um dia perdido amanhã mesmo que eu faça as coisas rápidas porque me dará um sono mais tarde já que vou dormir tão pouco e é melhor eu pensar em alguma coisa que me relaxe e como eu faço pra desligar meu cérebro frenético-neurótico com uma avalanche de pensamentos dispersos e desconexos que não me levam a nenhuma conclusão além de aumentar minha ansiedade em querer que amanhã chegue e logo pra eu me livrar dessa tarefa tediosa e me dedicar à alguma coisa mais...puff

e olha que coisa, consegui ficar acordado.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

teses infundadas para momentos em família

eu tenho a impressão de que no futuro se classificarem nossa geração de burra, sairemos no mínimo, no lucro. burra ou, com educação, o eufemismo de historicidas. isso porque parece que esquecemos ou negligenciamos todo desenvolvimentos científico no campo social-humano-filosófico-artístico. dá impressão que ninguém leva em consideração o que freud falou sobre o inconsciente, o que os arquitetos buscaram com o modernismo, o que duchamp dizia sobre a arte, e, principalmente, que essa história de trabalhar oito horas por dia é coisa de proletário de cem anos atrás.
enfim, sugiro então, que tentemos nos salvar historicamente, condicionando e viabilizando nossas pulsões sexuais, derrubando paredes e ornamentos desnecessários, matando de vez a natureza-morta (de um modo conceituado) e claro, trabalhando o mínimo possível.
esses são meus votos para dois mil e sete.

antes que eu me esqueça

ignorância é boa quando plena; o duro são aqueles flashs intelectuais que te fazem perceber que existem alguns que sabem menos ainda, e sabe-se lá como, mandam mais na sociedade.
(qualquer identificação com teu patrão, prefeito ou teu vizinho que ganha muito mais que você não é mera coincidência).

ano-novo

antes eu achava que ano-novo servia só pra te constranger com familiares distantes ou pra justificar ficar bêbado na frente da tua vó. mas agora percebo, que além disso, a função social do ano-novo é revitalizar as crenças do indivíduo na sociedade. se o ano não acabasse uma hora, o tempo pareceria incrivelmente monótono (aumentando nossa angústia existencial e consequentemente provocando homicídios em massa) ou infinito (aumentando nossa megalomania de seres imortais e complexo de tirano e consequentemente provocando homicídios em massa). mas como uma hora o ano acaba e em seguida ele começa de novo (o tempo é o funcionário-modelo) sempre que um ano começa temos um motivo de achar que 'agora sim a coisa vai': o regime, o namoro, o time e até o trabalho.
serve também como desencargo de consciência: o que foi feito foi, ficou lá atrás no ano que passou. ou seja, se fiquei em dívida com alguém, um abraço! foi o meu alter-ego-2006 que fez a dívida, não é problema meu. ano-novo-vida-nova.
(uma tese um tanto esquizofrênica)