quinta-feira, março 29, 2007

cappuccino, urubus e gol mil.

é fato que quando se estuda Publicidade você acaba desenvolvendo um "olhar" diferente pra avaliar um anúncio. até sua postura passiva muda pra um olhar ativo buscando entender conceitos, técnicas e qualquer outra coisa que você possa incorporar num próximo anúncio seu. quero dizer que quando a coca-cola faz um anúncio, eu sou mais influenciado pela tipografia e linguagem usada do que pelas gotículas sensualmente refrescantes que cobrem a garrafa.
mas como tudo na vida, existem exceções, claro. eu que só bebo café quando estou morimbundo e precisando urgentemente ficar acordado ou quando faço um charminho tomando um cappuccino depois de um PF aqui perto, fiquei realmene sensibilizado em adquirir a Cafeteira Espresso Digital Dolce Aroma, "a melhor desculpa para ficar até tarde no escritório". Tá certo que custa seus R$2,639 (o que inviabilizaria meu sonho de lambreta, de Machu Piccu, e de umas reformas no telhado que está precisando) mas peraí, aqui diz que "guarda na memória o jeito exato como você prefere seu café espresso". eu sou fascinado por tecnologias que remetem à coisas tradicionais. não é uma máquina que inventou um café com chá verde ou água gaseificada sabor limão acompanhando as última tendências. estamos falando do velho cappuccino, mas numa máquina di-gi-tal, que guarda coisas na memória. imagina se tocasse mp3 durante o processo! adoro as coisas antigas: cafeteira, vitrola, baú, meu pai...

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a natureza é bem coerente: deitado na cama, levo em torno de uma meia hora perdido em pensamentos pra conseguir dormir. quando eu acordo (que coisa!) não é que eu também levo uma meia hora pra levantar?? (depois de uma relação dialética com o despertador, numa negociação duríssma de adiamento).

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O Romário, como todo bom jogador craque e reconhecido pela mídia, tem o hábito de ser vaidoso e arrogante em determinados momentos, de se meter em escândalos, de falar qualquer bobagem digna de jogador de futebol, e entreter a gente com comentários do tipo "o gol mil vai ser bom pra sociedade. ela tá precisando. a violência, a corrupção deixam as pessoas muito tristes. o gol mil vai vir numa boa hora". foi mais ou menos assim. mas para leigos jogadores de vôlei e video-game, explico que o futebol e todo o seu universo espetaculoso-fabuloso, possui sua própria linguagem, regras e valores. bobagens de jogador de futebol num país com tanto político borra-linguiça, não significa nada. o gol mil do Romário não vai aliviar as tensões sociais, os conflitos, e o medo institucional das cidades grandes. mas vai representar o triunfo do bom futebol, do futebol brasileiro, maroto, malandro, esperto, caprichado. não importa quantos gols ele fez no amador, num society ou num time da arábia qualquer. importa que ele é craque, e de uma safra raríssima. quem teve o Parreira como técnico numa seleção que tinha Dunga de capitão, Zinho no meio (!) e Viola no banco e faz o gol da vitória contra a Suécia de cabeça, numa zaga nórdica que dobrava ele em altura, só pode ser um jogador matador. inesquecível.
enfim, Romário é um deliquente-desbocado. e daí? ele é craque, estilo MAradona, e um símbolo do meu universo futebolístico infantil. por isso que quando se der o gol mil eu vou pra galera. vou comemorar o título de "últimos craques vivos" e não vou querer que o dia acabe.
tenho uma tese que não haverá mais gols mils. olha essa última Copa que ridícula.
o futebol míope europeu é um atentado aos bons costumes boleiros. qualquer beck-de-esquina é craque lá, qualquer técnico opta por um 5-3-2, recuado, procurando primeiramente conservar o empate. e o Brasil, na sua condição de eterna-colônia, acha fantástico copiar europeu. nas cafeteiras de cappuccino até vai, mas não naquele futebol tosco. o gol mil do Romário é uma homenagem ao bom gosto, é símbolo de uma era que acaba, o fim do homem de área ágil e habilidoso, é o fim dos 'baixinhos'.
o gol mil vem coroar uma espécie em extinção.
no mil do Romário o dia não vai acabar.