sábado, outubro 28, 2006

quando você pensa que segunda-feira de manhã, a caminho do serviço, é o pior momento para se estar consciente da vida, chega teu chefe, às 17h50 na SEXTA e te pede pra vir no sábado trabalhar. realmente, sábado de manhã, a caminho do serviço, consegue ser o pior momento para se estar conciente da vida.

se o Allan Sieber não tivesse feito aquele quadrinho "vida de estagiário" eu descorreria todo um diário aqui das peripécias emocionantes de ser um estagiário, ou, como eu prefiro, auxiliar de tarefas que não precisam ser feitas.

patrão: "precisa pintar a parede?"
qualquer pessoa da firma que com certeza você é subordinado: "acho que não, pintamos ano passado, a aparência ainda está conservada"
patrão: "então chama o estagiário e pede pra trazer o rolinho de espuma"

é mais ou menos assim.

pessoas interessantes x pessoas desinteressantes (ou 'normais', no eufemismo nosso-de-cada-dia), round 2:

outro dia revi um amigo, do tempo de colegial, que tinha acabado de voltar do Machu Picchu, passando pela Bolívia e Argentina.
meu professor e amigo já morou em três estados diferentes e ele ainda nem tem trinta anos.
meu pai, 'na minha idade', fazia qualquer coisa mais interessante que escrever pseudo-crônicas.
pessoas interessantes. ponto.

se os estados do brasil que você já conheceu (não vale passar só pela rodoviária) limitam-se aos dedos de uma mão só, você é desinteressante.
se o único estrangeiro que você já chegou mais perto, foi quando criança numa festinha com o Ronald McDonald, você é desinteressante.
se você não sabe tocar nenhum instrumento (ou sabe mais de um, mas nenhum bem), você é desinteressante.

se você tem só uma boa história pra contar pros amigos, mas o sujeito principal é aquele seu tio alcoólatra, você é desinteressante. teu tio não.

e se você é desinteressante, então, bem, junte-se à mim, estarei sentado num bar próximo falando mal das pessoas interessantes com suas vidas interessantes. até porque, 'eles', os interessantes, sempre estão fazendo alguma coisa nova, então nosso assunto nunca se esgota.

Deus salve os interessantes, que servem (como se não bastasse!) pra eu me ocupar de alguma coisa na vida.

outro dia me perguntaram, com os olhos brilhando: "nossa, você sabe cozinhar?"
detesto decepcionar as pessoas, mas mentir é coisa de criança; "bem, eu sei fritar um ovo, fazer um arroz". olhos opacos: "ah tá..."

à milanesa, parmeggiana, putanesca... bah... quem dera.
outro dia tentei fazer uma cebola empanada, mas coloquei muita farinha, e nem cortei a cebola muito fina. resultado, virou uma rosquinha de cebola com uma camada tão espessa empanada quem nem conseguiu fritar a cebola, que com seu caráter cru, gerou um certo desentendimento com meu sistema digestivo. tive uma conversa séria com o troninho.

e pra finalizar, porque sou muito ocupado pensando em alguma coisa interessante pra fazer, venho por meio desta frisar que, não, eu não tapeio feinhas, o escuro que me tapeia (pra sorte delas) e o álcool tapeia meu superego regulador de bons modos e pudor.
e é muito mais legal ficar do lado de uma feinha pra se sentir bonito, do que de uma mina interessante e ficar bodiado ouvindo suas histórias de viagens, piratas e tesouros, e uma foto com o Mickey Mouse. Odeio o Mickey Mouse!

se inveja matasse, o mundo seria um marasmo.

terça-feira, outubro 24, 2006

eu já comentei aqui, que a idéia desse blog (ai que vergonha!) era pra colocar minhas teses e não pra fuxicar sobre beber cerveja, resmungar do trabalho e aprontar no samba? (se bem que eu poupo bastante vocês).
pois é... quando menos eu leio, menos eu penso e menos teses eu faço. e quanto mais eu trabalho, menos eu leio. logo: .

enfim. primeiramente, meus sinceros cumprimentos ao Freud que é muito mais subversivo que MArx. E vejam que este é um comentário de um leitor que nunca leu nenhuma obra inteira de nehum dos dois! hahahahahaha.... só li o Manifesto do Partido Comunista, mas nem achei graça. Já disse que entre os comunistinhas meu predileto é Lafargue, pela sua condição trabalhista pós-moderna; e Sartre, que eu tenho certeza que por algum motivo, quando eu lê-lo, vou gostar dele.
pois bem. Muito do que disse MArx faz bastante sentido até hoje. ok, mérito do homi. agora, Freud, chutou o pau e incendiou a barraca. enquanto você se olha no espelho e tentar se identificar conforme sua classe, muitas angústias surgirão e pouco você conseguirá entender. agora, se freudianamente você se compreender como um neurótico, como condição ontológica do ser, tudo faz muito mais sentido. aceite sua neurose, permita teus pensamentos insuportáveis, reconheça sua fragilidade no teu equilíbrio psico-emocional. procure um psicólogo, em outras palavras.

outro dia eu conheci uma pessoa bem interessante. você até pode dizer: "que bom! uma pessoa interessante, no meio desse mar de marasmo, no festival do senso comum".
não, não é nada interessante, conhecer alguém interessante. simplesmente porque eu me senti um completo desinteressante do seu lado.
meu monólogo:
- ah, que legal você faz isso? não, nunca fiz...
- sério? e você não ficou com medo... nossa...
- não acredito... sempre quis conhecer ele... como é que ele é?
- um dia vou fazer isso também... só estou esperando a hora certa...

pois é. tem gente incrível, que nasce com uma capacidade perspicaz de compreender o modo como a sociedade se organiza, e como há as ideologias de classe submetem as outras. tem outros, que com o mesmo talento, identificam um caráter neurótico, como pressuposto natural (isso sem falar do inconsciente, que já é demais pra minha cabecinha).

daí no campo do seres humanos 'normais' sobram aqueles, que, sabe-se lá como, desenvolveram, geralmente desde a infância, uma série de atividades legais, extremamente legais, que os tornam hoje super interessantes: pró-ativos, multi-culturais, habilidosos e talentosos na produção de alguma coisa.
por outro lado, vem caras como eu, puxando o bonde da simpricidade, do é que é feito de "coração", e bem, depois de duas horas de conversas num bar, percebe que acabaram suas histórias interessantes, sendo que metade delas são sobre seus amigos, e a outra metade (as suas) tem um leve exagero nas emoções.

ok. não sintam pena de mim. tem dois engradados de Itaipava na geladeira. sintam pena da feinha que eu vou enganar...
hahahahahahahahahahhahahahah

:(
eu sou sem graça.

domingo, outubro 15, 2006

Respondendo aos comentários últimos

1- olha, ser o cara da "conversa-mole-pedinte-pedante" não foi a coisa mais agrádavel que já disseram sobre minha pessoa, porém, relevo, e compartilho da tua postura ambiciosa de obter o mínimo necessário para beber no final do mês. ah, e os meninos do farol não são desnutridos e remelentos, são profissionais. uns, perto aqui de casa, deixam uma sacola com os tênis deles encostado/escondido junto do muro, e vestem uma sandália pra parecer mais necessitado. é puro circo, tem até figurino.

2- porque eu não adoto o look Fidel? primeiro, para não me confundirem com comunista. segundo, porque a idéia de aparentar oitenta anos e supostas doenças não combinam muito com minhas camisetas coloridas cheias de vida.

3- querida, dia das crianças não existe mais pra mim, desde aquela vez em que eu roubei os "comandos em ação" do meu priminho, só de inveja, porque minha mãe achava que com "treze anos eu já estava muito grandinho pra essas coisas". (toda vez que eu disser "meu priminho" estou mentindo, porque eu não tenho primos menores, na verdade surgiu um há uns quatro anos atrás, mas mora em outro Estado, portanto só reproduzo uma idéia generalizada de uma família-cotidiana-comum, com priminhos pentelhos, tias alcoólatras, avós precoces e ex-presidiário cunhado de alguém)
no dia doze eu só ganhei mais uns dígitos vermelhos depois do cheque que eu dei no samba. nada digno de uma pseudo-crônica, talvez as gringas com seu visual "eu corto meu próprio cabelo" que me fez pensar, de início, que eram um casal sapata, mas depois que eu vi que elas sambavam com o mesmo critério da história do cabelo, vi que eram de fora e que portanto "elas são assim mesmo..."

4- querida Mira, não, não sou míope ainda. no meio da esculhambação falta-me um óculos discreto, nem do tipo "ora-por-favor" muito menos do tipo "godard no cinusp é bárbaro", para aparentar o mínimo de cultura que minhas camisetas manchadas de qualquer coisa fazem questão de negar. a idéia do distúrbio é muito boa. primeiro me apeguei ao meu distúrbio bipolar, depois que eu vi que era moda, abandonei, e fiquei só com minha pseudo-epilepsia-laborial, que insiste em me atacar em momentos próximos à atividade operária. me disseram que o modo como eu me relaciono com meu ego é uma espécie de distúrbio, mas sei que isso é ciúmes, daí saí com ele pra jantar, peguei um cinema e me esqueci.

5- pode ser. talvez pintar algo bem banal reforce a produção sígnica-insignificante (godard é bárbaro no cinusp) que permeia e conduz nossos prognósticos. vou pintar um "Nissin Cup Noodles", isopor sabor camarão sobre tela. obrigado pelo incentivo.

6- pós-moderno demais pra minha mentalidade humilde do campo. próxima.

7- a idéia era competir com o blog do Kfouri, e estabelecer uma média de cem, cento e cinquenta recados pra poder postar outra coisa. hoje em dia dei uma guinada literária onde eu foco no microambiente, e a partir de um "bom dia" do porteiro eu acho que já posso escrever outra pseudo-crônica.

8- sou péssimo com números. já me perdi nos primeiros trezes. mas obrigado pela informação inútil (o que é contraditório). fui perceber que era sexta-feira treze lá pelas sete da tarde, e nem me sensibilizei. como dizia Verissimo, o filho: "mau presságio. não sou supersticioso, apenas espalho amuletos pelo meu corpo pra afastar o mau-olhado."


espero ter respondido tudo certinho que eu faço muita questão.
o feriadão já está acabando e eu percebi que eu não sou muito criativo; acumulei muita cerveja, samba e dívida. minha única tentativa de estabelecer algum diálogo mais profundo, foi sobre política com uma petista, que me resumiu como um "lúmpen com discurso pequeno-burguês".
eu disse que eu conhecia uns comunistinhas... se eu ganhasse um real pra cada vez que alguém me chamasse de lúmpen ou discursor pequeno-burguês, eu compraria um Pegout, turbinado e insulfilmado e daria um altíssimo cavalinho-de-pau às três da manhã na porta da casa dessas pessoas só pra confirmar que de fato eu sou um lúmpen com discurso pequeno-burguês.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Depois da minha tentativa frustrada de ser artista (alguém me avisou que pra ser artista, tem que, pelo menos, saber quais são as cores primárias, e na hora não tinha nenhum computador conectado no google pra eu poder perguntar), resolvi me assumir naquilo que faço de melhor: ser um belo vagabundo. criaturas-bon-vivant, como já dizia um amigo. e da pior raça, como diria Bornhausen: vagabundo petista.

Depois do debate de ontem, assistir aquela cara nojenta do Alckmin, representando toda aquela elite branca paulista, burguesinho-quero-ir-a-miami, que chamando o garçom pelo nome acredita superar quinhentos anos de exclusão social (parafraseando Antonio Prata), me obrigou a votar no Lula só pra ele não ganhar. gosto muito de SãoPaulo mas aqui se cultivou um povinho meio europeu, meio conservador do interior leitor de veja que é nojento.
A gota d'água foi dizer que a Bolívia humilhou o Brasil, e o Lula foi bastante sensível dizendo que os caras são miseráveis e o único patrimônio deles é o gás. isso me tocou. sou um eleitor emocional, compro meus produtos conforme sua capacidade de atingir o campo filosófico-emocional. isso é puro "top of mind", branding... e outros blá blá blá em inglês da publicidade.

não tenho nada a comentar sobre a capa da época e da veja dessa semana. muito menos sobre seus leitores.

ando repetitivo... nada de novo... já falei que, depois da bomba atômica, trabalhar é a coisa mais estúpida do século XX?

ou eu começo a decorar as cores primárias ou eu aprendo a fazer malabarismo em farol.
como eu tenho mais memória do que coordenação, vou dar um talento naquela cortina velha na minha última tentativa de me tornar um artista.

(tudo isso não passa de obra ficcional, de um brilho eterno de uma mente leviana, plagiadora,
viciada em mate, que definitivamente não tem nada mais interessante pra fazer. até porque quem me dizia isso "você não tem mais nada interessante pra fazer" são exatamente aqueles que acham "interessante" trabalhar)

achei o VHS de Twin Picks por um real. adoro uma barganha. e uma fofoca também!
então se souberem de fofocas e barganhas me contem:
rafael_o_mentiroso@paroquiadalorota.net.pum


antes que eu me esqueça: fora Alckimin, Discman, Ipod e qualquer coisa que substitua a vitrola. viva o Lula e o saudosismo revolucionário.

PS: estou deixando a barba crescer, e aqueles boatos sobre o câncer terminal do interminável titio Fidel é pura intriga da oposição (daquela que conseguiu sobreviver).

segunda-feira, outubro 02, 2006

Pollock e o Lula

Depois que eu entendi que trabalhar, de fato, não é o meu forte, e até compreendo se eu receber uma carta em casa me convidando pra receber o prêmio "the worst employee awards 2006" (já que faço tudo devagar e errado), resolvi, então, investir na minha carreira de artista. Porém, após assistir "Pollock" e seu final trágico, digno de "artista angustiados mal-resolvidos além de seu tempo", pensei seriamente em parar de beber. mas daí lembrei que eu não sei dirigir, então tudo bem.

jamais faria campanha pro Lula, mas acho essa história de segundo turno um saco. primeiro que eles deveriam fazer a eleição numa segunda, não num domingo (não tem nem jogo de futebol pra gente se distrair). segundo porque depois que eu votei eu não faço idéia onde eu deixei meu título de eleitor, já perdi meu rg, e como já disse que não sei dirigir, obviamente não tenho carteira de motorista.

essa eleição está parecendo a copa do mundo: bem sem graça, sem clima, com um pouco menos de bandeira do Brasil, e alguns santinhos espalhados nos colégios eleitorais. essa coisa de votar é tão démodé, tão revolução francesa e seus sufrágios universais; coisa da modernidade antiga.
não vejo a hora que inventarem um serviço terceirizado de votar. pela internet, talvez pelo celular.

acho que as pessoas estão percebendo que não faz muita diferença em quem votar ou ganhar a eleição. como se já estivesse subentendido que existem outras partes poderosas e de influência no campo político-econômico que vai além do representante oficial das eleições.
eu por exemplo, apertei os botões da urna com a mesma displicência que eu aperto botão do elevador ou escrevo essas crônicas.

pra quem já teve Maluf como prefeito, deputado federal tá de bom tamanho, analisando a conjutura corrupta-política geral. e enfim, o mais legal de votar é tomar um caldo-de-cana, ver o povo do seu bairro, comer um acarajé. pra isso funciona.

voltando à história do Pollock, eu tava pensando que se ser artista-artista é estar em contato com sua complexidade subjetiva, sensível ao modo da construção simbólica-comunicativa de sua época, e sofrer com a angústia da pressa e incompreensão, bem, me deu uma certa preguiça de ser assim. porque, se você consegue ser sensível às mazelas, à bomba atômica, à fragmentação e às significações banalizadas, talvez seja uma boa, o cara canalizar a sensibilidade dele pra umas coisas mais animadas, como o samba por exemplo, o futebol, e essas coisas confraternas que fazemos. mas será que aí, com a alegria da espontaneidade e irreverência, anulamos ou pelo menos amenizamos significativamente a angústia-motor artística, e não teremos grandes impulsos de expressão? nada na tela, a vida é muito boa;
ou seja, sofra bastante e ponha isso num quadro, ou busque a alegria e fique conformado.
ou seja novamente, porque o meu pai não é rico?

se bem que se meu pai fosse rico eu não deixaria de trabalhar pra ser artista, mas provavelmente gastaria tudo em cocaína, ou me candidataria a algum cargo público, ou talvez os dois ao mesmo tempo.

deixa eu ver: pra ser um artista eu preciso, ser angustiado, ter tinta colorida, tela, pobre no começo, angustiado pra sempre, imconpreendido, muitas mulheres, e dependendo da época, envolvido com o partido comunista.
acho que estou quase lá. tem umas tintas sobrando no quintal, uma cortina velha pra pintar, o corinthians me deixa angustiado, arara na minha carteira é tão rara quanto na floresta, e eu conheço um monte de comunistas. além disso ninguém me compreende direito que só pensar e fazer as coisas que você gosta já é trabalhar.

enfim, o Lula só precisa de mais uns dois ou três porcento de votos válidos no segundo turno pra se reeleger. e com o provável segundo mandato-bravata dele, fica claro pra mim que o povo é quem nem pomba: é só você dar umas migalhas que ele se aglomera em torno de ti.

:(

hahahahaahaha, como se eu realmente estivesse ligando.
estou muito concentrado me angustiando e pensando além do minha época pra perder meu tempo com eleições-fast food-péssimo-cardápio. nossa, como eu ando crítico. se eu não conseguir ser artista, pelo menos me tornarei aqueles críticos amargurados e frustrados que metem o pau geral. "isso é arte? aonde?"
não me importa fazer arte, importa só ser "artista".
- oi, você é o quê?
- eu sou engenheiro.
- puxa, legal. e você?
- eu sou advogado.
- ótimo. e você?
- eu sou médico.
- opa, sempre bom. e você com a túnica laranja na cabeça fumando um cachimbo bizarro?
- eu sou um artista ué.
- e como você faz pra se manter montado num tamanduá-bandeira e fazer essa expressão de "tudo é tão previsível e entediante"?

é mais ou menos este o ponto.