segunda-feira, outubro 02, 2006

Pollock e o Lula

Depois que eu entendi que trabalhar, de fato, não é o meu forte, e até compreendo se eu receber uma carta em casa me convidando pra receber o prêmio "the worst employee awards 2006" (já que faço tudo devagar e errado), resolvi, então, investir na minha carreira de artista. Porém, após assistir "Pollock" e seu final trágico, digno de "artista angustiados mal-resolvidos além de seu tempo", pensei seriamente em parar de beber. mas daí lembrei que eu não sei dirigir, então tudo bem.

jamais faria campanha pro Lula, mas acho essa história de segundo turno um saco. primeiro que eles deveriam fazer a eleição numa segunda, não num domingo (não tem nem jogo de futebol pra gente se distrair). segundo porque depois que eu votei eu não faço idéia onde eu deixei meu título de eleitor, já perdi meu rg, e como já disse que não sei dirigir, obviamente não tenho carteira de motorista.

essa eleição está parecendo a copa do mundo: bem sem graça, sem clima, com um pouco menos de bandeira do Brasil, e alguns santinhos espalhados nos colégios eleitorais. essa coisa de votar é tão démodé, tão revolução francesa e seus sufrágios universais; coisa da modernidade antiga.
não vejo a hora que inventarem um serviço terceirizado de votar. pela internet, talvez pelo celular.

acho que as pessoas estão percebendo que não faz muita diferença em quem votar ou ganhar a eleição. como se já estivesse subentendido que existem outras partes poderosas e de influência no campo político-econômico que vai além do representante oficial das eleições.
eu por exemplo, apertei os botões da urna com a mesma displicência que eu aperto botão do elevador ou escrevo essas crônicas.

pra quem já teve Maluf como prefeito, deputado federal tá de bom tamanho, analisando a conjutura corrupta-política geral. e enfim, o mais legal de votar é tomar um caldo-de-cana, ver o povo do seu bairro, comer um acarajé. pra isso funciona.

voltando à história do Pollock, eu tava pensando que se ser artista-artista é estar em contato com sua complexidade subjetiva, sensível ao modo da construção simbólica-comunicativa de sua época, e sofrer com a angústia da pressa e incompreensão, bem, me deu uma certa preguiça de ser assim. porque, se você consegue ser sensível às mazelas, à bomba atômica, à fragmentação e às significações banalizadas, talvez seja uma boa, o cara canalizar a sensibilidade dele pra umas coisas mais animadas, como o samba por exemplo, o futebol, e essas coisas confraternas que fazemos. mas será que aí, com a alegria da espontaneidade e irreverência, anulamos ou pelo menos amenizamos significativamente a angústia-motor artística, e não teremos grandes impulsos de expressão? nada na tela, a vida é muito boa;
ou seja, sofra bastante e ponha isso num quadro, ou busque a alegria e fique conformado.
ou seja novamente, porque o meu pai não é rico?

se bem que se meu pai fosse rico eu não deixaria de trabalhar pra ser artista, mas provavelmente gastaria tudo em cocaína, ou me candidataria a algum cargo público, ou talvez os dois ao mesmo tempo.

deixa eu ver: pra ser um artista eu preciso, ser angustiado, ter tinta colorida, tela, pobre no começo, angustiado pra sempre, imconpreendido, muitas mulheres, e dependendo da época, envolvido com o partido comunista.
acho que estou quase lá. tem umas tintas sobrando no quintal, uma cortina velha pra pintar, o corinthians me deixa angustiado, arara na minha carteira é tão rara quanto na floresta, e eu conheço um monte de comunistas. além disso ninguém me compreende direito que só pensar e fazer as coisas que você gosta já é trabalhar.

enfim, o Lula só precisa de mais uns dois ou três porcento de votos válidos no segundo turno pra se reeleger. e com o provável segundo mandato-bravata dele, fica claro pra mim que o povo é quem nem pomba: é só você dar umas migalhas que ele se aglomera em torno de ti.

:(

hahahahaahaha, como se eu realmente estivesse ligando.
estou muito concentrado me angustiando e pensando além do minha época pra perder meu tempo com eleições-fast food-péssimo-cardápio. nossa, como eu ando crítico. se eu não conseguir ser artista, pelo menos me tornarei aqueles críticos amargurados e frustrados que metem o pau geral. "isso é arte? aonde?"
não me importa fazer arte, importa só ser "artista".
- oi, você é o quê?
- eu sou engenheiro.
- puxa, legal. e você?
- eu sou advogado.
- ótimo. e você?
- eu sou médico.
- opa, sempre bom. e você com a túnica laranja na cabeça fumando um cachimbo bizarro?
- eu sou um artista ué.
- e como você faz pra se manter montado num tamanduá-bandeira e fazer essa expressão de "tudo é tão previsível e entediante"?

é mais ou menos este o ponto.

5 comentários:

Anônimo disse...

Como assim
Falou do Maluf
Mas não falou do Collor reeleito
Tão bizarro ou mais.

Rafael disse...

o Collor é só mais um corrupto comum. Acontece que o Maluf foi pra xadrez, durmiu na cadeia; é de Marcola pra cima essa eleição.
sem contar que o nordeste é voto de cabresto total. tudo lá é na base dos 70%. ninguém ganha apertado...

Anônimo disse...

Sei de outro bom
O Clodovil
Cada país tem os políticos que merece....

Rafael disse...

mas... vcs não têm uma sensação de que isso de fato aconteceria mais cedo ou mais tarde? o Brasil, definitivamente, não é referência pra coisas sérias... um global, um músico pop, um estranhão se candidata e é eleito. é um voto no feitiche (e eu respeito muito os feitiches). como se a própria política fosse um simples feitiche, puro e alegórico, como se de fato nada mudasse com a eleição de ninguém. detesto ser pessimista (detesto mesmo) mas parece que um 1984 versão coorporações globais está cada vz mais próximo... o jeito é se divertir pra esquecer...tipo votando no Clodovil...

Anônimo disse...

Então....