terça-feira, maio 15, 2007

eu juro que o plausível me basta.
e o repetitivo também me cansa.
caso encerrado.

quarta-feira, maio 09, 2007

me surpreendo com a minha capacidade me atrasar em todos os compromissos que eu posso. todos. mantenho uma margem de atraso que varia de 10 a 20% do tempo total do comprimisso. é um relógio-interno-britânico de atraso. não falha.
daí, numa insubordinação à minha natureza, consigo chegar, ingenuamente, meia hora antes do show gratuito (isso diz tudo) do Zimbo Trio no Teatro Municipal.
como bom paulistano, eu nunca entrei no Teatro Municipal. só no de Porto Alegre há uns cinco anos atrás, mas o ingresso mais barato pro espetáculo era de umas quase-poltronas lá em cimão, meio inclinadas, que era tão ruim de ver o palco, que a gente se revezava na ponta pra enxergar alguma coisa. se eu estivesse pendurado na clarabóia estaria melhor.
daí aqueles lanterninhas, muito gentilmente, perguntaram se a gente não queria sentar num andar abaixo, mais civilizado, por um trocado módico. tchau sótão, olá espetáculo.
adiei o dia de ver o Municipal Paulista quando reparei num rocambole de seres humanos em volta do edifício, numa fila que não dava nem pra supôr onde começava ou onde terminava.
cheguei a suspeitar que estivessem distribuindo cesta básica de graça.
ainda bem que colocaram um telão do lado de fora. com som, claro.

se eu sou ingênuo de pensar que conseguiria entrar no show do Zimbo Trio, o que dizer do espertão que colocou os Racionais pra tocar na Sé lá pelas 3h da matina, depois que todo mundo já tinha passado o dia inteiro, pelo menos, enchendo a lata.
todo show estava lotado. o centro movimentado, bem família. isso me fez pensar que, tirando doar sangue, tudo que é de graça é altamente cobiçado. até o show da Zélia Duncan, vulgo abajur dos Mutantes, foi bem procurado (pelo menos nos cinco minutos que eu fiquei por ali).

inacreditável, o Papa é bem mais popular que o Corinthians. desde o show dos Flinstons que o Pacaembu não colocava 40 mil neguinhos lá dentro. e agora o Frei Galvão é o primeiro santo brasileiro, o que significa que é o primeiro santo que dá um migué, e a gente nem precisa pagar promessa, a gente põe na conta.

quarta-feira, maio 02, 2007

fora 1
quando eu descobri que o André Laurentino tinha um blog com suas crônicas, assim como eu, e ele não é nerd, ele é cult, assim como eu, resolvi deixar um singelo comentário. escrevi algo do tipo "seu livro foi muito elogiado por um publicitário reconhecido no meio, e bem, realmente deve ser bom, porque você sabe, publicitários não costumam elogiar mais coisas que o próprio umbigo". buenas, estava eu achando que era o supra-sumo do estudande crítico-sarcástico quando um amigo meu me avisa: cara, o André Laurentino é publicitário.

aprendi uma lição: mesmo que um publicitário faça um trabalho de merda pra qualquer empresinha-nojenta, provavelmente o cara terá uma veia criativa de escape, e isso faz dele um ser-humano melhor, principalmente se ele plantar árvores por aí. assim como eu!
eu, por exemplo, gosto de escrever com a mão esquerda (sou destro) em guardanapos. um dia aquelas formas grotescas vão ganhar o mundo nos principais salões da alta classe artística. nem que seja no second life.

fora 2
alguém algum dia me falou pra descolar uns ídolos e se espelhar neles. ídolos são bons quando em doses homeopáticas. nada de idolatria, mas faz parte da relação que temos com os mitos. o problema (e aí é que bate uma certa depressãozinha) é quando você se dá conta que seus ídolos ou se suicidaram ou beberam até morrer precocemente vivendo na casa de seus pais. ou mantinham relações sexuais com o cachorro.
eca...

fora3
Fernando Meireles, o cineasta de "cidade de deus", aproveitou-se, em sua juventude universitária desvinculada de organizações políticas (ao qual, eu suspeito que deviam ser bem sacais) mas em plena ditadura militar, para restaurar a escultura do apreciadíssimo Flávio de Carvalho, roubando-a dos depósito de sucata da prefeitura e instalando-a em praça pública.
fazendo os cálculos, eu, na minha atual juventude universitária, que sempre quis ser o cara do "curtindo a vida adoidado", o máximo que consegui foi roubar uns copos de vidro de uns botecos da vila, e por sinal, não tinha nenhum fim cultural ou solidário. foi só pra somar minha coleção de copo americano tradicional de beber cerveja.
enfim, daí você já pode tirar algumas conclusões sobre o futuro.
o fracasso não é um destino, é um estilo de vida.

sexta-feira, abril 27, 2007

pero-pilo-pscia

tá legal, a lei de transformar a cidade de São Paulo num ambiente minimamente mais agradável proibindo outdoors e totens megalomaníacos, abandonando a impressão de que a nossa cidade parece um capacete de motoboy é ótima.
fechar os bingos, mesmo encerrando de vez com as minhas tentativas de fonte de renda alternativa ao patronato, mesmo que as velhinhas da cidade entrem em colapso de tédio, é ainda uma boa proposta.
agora, inventar que com dezesseis anos o moleque deve ser tratado como maior de idade é babaquice pura, digna da nossa bancada conservadora, branca e burra.
além de um problema social, de falta de alternativas, de um projeto econômico que de fato desenvolva a nação em sua plena capacidade, um menor de idade ainda é vítima de sua própria condição biológica de ser um adolescente, ou seja, uma criança com pêlos no corpo, cheio de hormônios que o induzem a se comportar como um macaco no cio, numa rebeldia gratuita, caracterizando a babaquice generalizada que é o comportamento padrão nessa época da vida.

eu por exemplo, com dezesseis anos, achava que jogar uma pedra numa vidraça do McDonald's era "avisar" pros capitalistas americanos que se eles quisessem roubar a Amazônia da gente enfrentariam uma resistência violenta.
achava que o punk rock era um movimento legítimo dos jovens inconformados com a imposição de um comportamento consumista e de uma aparência bonita.
achava que minhas acnes era sinal de que Deus não gostava de mim e por isso eu rompi com Ele!
achava pagode pobreza de espírito e Ramones o balaustre da música boa.

enfim. coitado. eu tinha dezesseis anos. ainda bem que não existia essa lei na minha época.

eu tinha um time de futsal no colégio chamado "the junkies". nossas referências eram o Iggy Pop e o Transpotting. modéstia à parte, bem à parte, como eu era o único boleiro da turma, eu levei o time nas costas pra gente ganhar do outro time da sala, composto pelos dançarinos de axé. e eles dançavam mesmo, sabiam coreografia e tudo. eles eram malhados, gel no cabelo, roupa de surfista. eu, praticamente, era um padre perto dos caras do meu time, que realmente levavam a sério essa história "the junkies". imagina, era um time perdidaço, fora de forma, um bando de cheirador de benzina, sem pontaria nenhuma: dois caras perdidos lá na frente, eu e um outro amigo que jogava futebol de calça social e sapato(!), e um goleiro que, por mais que fosse grande, não deixa nada a desejar a mulher do Tapa na Pantera. e o "the junkies" ganhou por um gol de diferença, com uma raça descomunal.

dezesseis anos é o fim-da-picada. ainda bem que é só uma vez na vida.
eu acho que eu era muito burro. li um livro do Bukowsky, não entendi porra nenhuma. li um livro do Lênin, não entendi porra nenhuma. tentei aprender a dar um "oli" no skate, abri o pulso duas vezes e desencanei. só aprendi mesmo a fazer uma linha de baixo pra tocar as músicas do Ramones.
enfim, essa lei só serve se for pra prender os muleques durante uns dois anos pra depois soltar. e de preferência dar um emprego pra eles, senão vão ficar vadiando por aí escrevendo crônicas infundadas...

terça-feira, abril 24, 2007

agora eu tenho uma parceira: www.sequandorimaalforria.blogspot.com

quinta-feira, abril 19, 2007

de dia faz calor, tem trânsito, barulho, telefone tocando, gente na porta, alguém te perguntando, alguém te oferecendo, música ao lado, música alta, tem helicóptero, tem motor de moto, furadeira, construção, suor, confusão, pessoas com pressa e uma alta carga de informação-poluição-distração dispersos no ambiente.

claro que eu me atraso. pra qualquer compromisso.

agora, a noite é bem mais agradável.
só escuto os ponteiros dos segundos. temperatura amena-ótima.
sem telefone. sem barulho. sem pessoas te passando tarefas ou pedindo favores.
ou simplesmente te interrompendo avisando que estão saindo ou chegando.
não tem latido, grunido, pisadas pesadas, programas péssimos de tv, ou barulho da louça sendo lavada ou da porta do armário das panelas que não fecha, range e sacode a lataria.

a noite é o melhor horário pra pensar, refletir, concluir e deixar o dia, com o seu trio elétrico social, atrapalhar, atrasar, entorpecer e fazer esquecer. se dependesse só da noite eu já teria me desculpado geral com a galera, seria mais ponderado, sóbrio (num sentido lattu sensu), aberto a processos mais humanos de evolução e quem sabe vegetariano. acho que até teria uma religião.

de dia se trabalha, pelo amor de deus, já começa por aí.

já dizia um amigo meu que pra dormir a gente terá a morte inteira pra isso.
e se pensar que em média dormimos oito horas por dia (ah, qualé trabalhador-do-brasil, pode contar com aqueles domingos-ressaqueiros que o seu café-da-manhã é a sobemesa da casa), ou seja, um terço do dia, não é difícil concluir que dormimos um terço da nossa vida. vivendo até o sessenta, mais ou menos vinte anos se passaram dormindo. vinte anos! quanto tempo passou a bela adormecida? pelo menos ela tinha aquele príncipe... pra me acordar eu só tenho o mini-system da minha irmã em alturas obscenas em momentos absurdos.

seria ótimo associar qualquer tipo de atividade produtiva ao sono. sono remunerado é a definitiva extinção do trabalho de dia e o meu projeto de vida (além de jazzista em re-new orleans). tenho know-how ontológico e mais de sete anos de experiência. trabalho aos fins-de-semana e feriado. trabalho até em horário de almoço!
isso me lembra aqueles spams que te sugestionam: emagreça dormindo!
como? contraia dengue e cheire um pano bezuntado de éter. por uns três meses. ou entre em coma com hepatite que também funciona.
me poupe. depois dos evangélicos, os gordinhos são a categoria mais fácil de ser enganada...
"use um broche ridículo. pergunte-me como"
não, obrigado. de noite não tem essas coisas.

domingo, abril 15, 2007

eu, Romário e dois vaidosos...

bola, chute, arquibancada. bola chute, arquibancada. bola, chute, sistema de eletrecidade do ginásio.
nove em cada dez chutes meus fazem o goleiro bocejar. a metáfora, coerente, alerta pra dada situação de desacordos, desarranjos e desajustes pessoais em geral, que culminam num mês antes do seu próprio aniversário. desnecessário e inexplicável, senhoras e senhores, nosso amigo inferno astral.

inferno astral?

sempre achei o PAulo Coelho, o alquimista que tranforma auto-ajuda em ouro, lero-lero pra recém-divorciada (nesse caso o homem bebe). "escute sua voz que vem do seu interior, mas sem desrespeitar o sotaque". me poupe.
nunca fui muito católico e nunca compreendi bem a diferença entre astronomia e astrologia. daí dá pra concluir que não faz sentido pra mim essa história de inferno astral. bom, até acontecer comigo... você percebe que está perdendo o controle e a autonomia sobre sua própria vida e destino quando começa a ler a coluna do Quiroga no Estadão.

insatisfeito com a atual situação, e com as complexas metáforas na análise de Touro, resolvi pular uma casa e só ler o de Gêmeos, que eu me idenfico bem mais.
aí sim fica interessante ler o zodíaco: quando é um serviço self-service. você vê, dá uma lida, e "pega" o signo que você achar melhor. a vida já é injusta mesmo. a gente não escolhe nosso nome, nossa altura e principalmente, nossos parentes. portanto, nada mais justo que se apropriar de um signo que você ache mais adequado.

isso me lembra a história de um filho de um preso político argentino, que tendo os pais presos e mortos, os militares deixaram o nenê ser criado por uma empregada doméstica. vinte anos depois ele descobriu a verdade, e se arrependeu de ter lido a vida inteira o horóscopo, já que a certidão dele era datada dois meses mais tarde do seu nascimento verdadeiro.

meu quarto ainda não tem incensos e cristais da boa energia, e não faço numerologia pra sair de casa, até porque, passou de quatro dígitos já me complico (por isso não consigo pagar minhas contas).
mas confesso que até o dia de São Jorge, estarei resignado na segurança (psico-física-finaceira) do meu lar.

acho até, se me permitem a presunção, que o Romário ainda não fez o milésimo por culpa minha.
aliás, nessas minhas andanças por essa vida errante, concluí que quanto mais sem-graça é uma pessoa mais vaidosa ela é.

sim, foi uma auto-crítica.

inferno astral...tsc,tsc.
o que vem depois do aniversário? o limbo dos prazeres?
espero muito.