sexta-feira, abril 27, 2007

pero-pilo-pscia

tá legal, a lei de transformar a cidade de São Paulo num ambiente minimamente mais agradável proibindo outdoors e totens megalomaníacos, abandonando a impressão de que a nossa cidade parece um capacete de motoboy é ótima.
fechar os bingos, mesmo encerrando de vez com as minhas tentativas de fonte de renda alternativa ao patronato, mesmo que as velhinhas da cidade entrem em colapso de tédio, é ainda uma boa proposta.
agora, inventar que com dezesseis anos o moleque deve ser tratado como maior de idade é babaquice pura, digna da nossa bancada conservadora, branca e burra.
além de um problema social, de falta de alternativas, de um projeto econômico que de fato desenvolva a nação em sua plena capacidade, um menor de idade ainda é vítima de sua própria condição biológica de ser um adolescente, ou seja, uma criança com pêlos no corpo, cheio de hormônios que o induzem a se comportar como um macaco no cio, numa rebeldia gratuita, caracterizando a babaquice generalizada que é o comportamento padrão nessa época da vida.

eu por exemplo, com dezesseis anos, achava que jogar uma pedra numa vidraça do McDonald's era "avisar" pros capitalistas americanos que se eles quisessem roubar a Amazônia da gente enfrentariam uma resistência violenta.
achava que o punk rock era um movimento legítimo dos jovens inconformados com a imposição de um comportamento consumista e de uma aparência bonita.
achava que minhas acnes era sinal de que Deus não gostava de mim e por isso eu rompi com Ele!
achava pagode pobreza de espírito e Ramones o balaustre da música boa.

enfim. coitado. eu tinha dezesseis anos. ainda bem que não existia essa lei na minha época.

eu tinha um time de futsal no colégio chamado "the junkies". nossas referências eram o Iggy Pop e o Transpotting. modéstia à parte, bem à parte, como eu era o único boleiro da turma, eu levei o time nas costas pra gente ganhar do outro time da sala, composto pelos dançarinos de axé. e eles dançavam mesmo, sabiam coreografia e tudo. eles eram malhados, gel no cabelo, roupa de surfista. eu, praticamente, era um padre perto dos caras do meu time, que realmente levavam a sério essa história "the junkies". imagina, era um time perdidaço, fora de forma, um bando de cheirador de benzina, sem pontaria nenhuma: dois caras perdidos lá na frente, eu e um outro amigo que jogava futebol de calça social e sapato(!), e um goleiro que, por mais que fosse grande, não deixa nada a desejar a mulher do Tapa na Pantera. e o "the junkies" ganhou por um gol de diferença, com uma raça descomunal.

dezesseis anos é o fim-da-picada. ainda bem que é só uma vez na vida.
eu acho que eu era muito burro. li um livro do Bukowsky, não entendi porra nenhuma. li um livro do Lênin, não entendi porra nenhuma. tentei aprender a dar um "oli" no skate, abri o pulso duas vezes e desencanei. só aprendi mesmo a fazer uma linha de baixo pra tocar as músicas do Ramones.
enfim, essa lei só serve se for pra prender os muleques durante uns dois anos pra depois soltar. e de preferência dar um emprego pra eles, senão vão ficar vadiando por aí escrevendo crônicas infundadas...

2 comentários:

Anônimo disse...

Sério mesmo que eles vão estabelecer a maior idade penal aos 16 em SP? E o lance dos outdoors, já está sendo colocado em prática?

beijo,

Rafael disse...

então, eu não sei se é só em SP a parada dos 16 anos, mas os outdoors e mega fachadas estão sendo de fato retiradas...