sábado, novembro 18, 2006

aaliás, e que me sirvam todos os aliás e sua capacidade etmológica de voltar no tempo, o intuito era começar assim: por favor, estamos na pós-modernidade, me poupe de falsos moralismos, aliás, me poupe de moralismo algum.

e descartamos todos os padrões afim de podermos utlizarmos todos de uma só vez.

e de uma só vez engulimos, sem mastigar, até porque mastigar perde um tempão, e tempo é dinheiro, ou tempo é alguma coisa relativa que importa pra alguma outra coisa. na verdade ele, o tempo, é uma abstração futurista, sempre adiante, tentando alcançá-lo, correndo e correndo e sempre avante, não sei o que faria se o pegasse de fato, venderia, ou displicentemente deixaria escorrer pelas minhas mãos, atônito, pasmo, olhando alguma coisa colorida-animada-interativa, e o tempo voltaria a si, correndo e correndo e se distanciando, e deixando pra trás a gente e nossas preocupações, e aquele pé-de-galinha, e aquele diploma, e aquela chance, e a hora de decidir enquanto ele some no horizonte.

o tempo volta amanhã. logo de manhã com o barulho do despertador.
e enquanto nos espreguiçamos, lavamos o rosto, e pensamos sinceramente, se, de fato, vale a pena levantar e fazer de novo tudo aquilo que já fizemos e fazemos e não sabemos aonde vai, daí o malandro dispara na nossa frente, quieto, na surdina, e quando olhamos no relógio, não temos tempo de pensar que ele já fugiu de novo.

uma vez eu peguei uma gaiola velha, uma ratoeira e um pega-mosca, daqueles grudentos mesmo, e fiquei de plantão pra ver se eu pegava e aprisionava o tempo.
enquanto armava a armadilha, o tempo passou e passou e passou e eu não percebi. passou que cansou, grisalhou. perdi um tempão.

na segunda foi fantástico. tive certeza que ele, em sua façanha ardil, seja lá o que isso signifique, deu, de leve, um passo pra trás. cara-de-pau, na minha frente. depois da quarta ele é mais disciplinado, na segunda, me provoca, ao melhor estilo governamental, dois passos pra frente, um passo pra trás.

ficar velho não é o problema. o problema é a contínua existência de pessoas mais jovens. engraçado pensar que eles vão continuar mesmo depois que o tempo espalhar por aí que eu já fui, e fazer com que me esqueçam.

tem tempo pra tudo. tem tempo passado, tempo fresquinho. o meu tempo é na chapa junto com uma média.

o Paulo me deu bom conselho. amanhã não existe. coloco um dia de cada vez no meu calendário. por isso me atrapalho com datas festivas e feriados. meu calendário só fica pronto no último dia do ano, quando o ano acontece e surge ali no seu próprio fim. um dia de cada vez. e o ano nasce simbolicamente pra acabar. e é pra isso que eu uso tempo, pra acabar com ele. gasto na hora, pra não deixar ele sair na frente, e eu voltar a correr atrás;
franca mania de doido: correr atrás do tempo é se situar pra trás.
e no atrás,do tempo, está o passado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estou lendo sua crônica sobre o tempo ao mesmo tempo em que o super conhecedor de todos os assuntos Dráuzio Varella está apresentando de forma super didática no Fantástico uma série sobre o mesmo tema.
Gosto mais da sua apresentação aspirante-à-filósofo-questionador-sobre-todas-as-coisas.
Invejei.

Crido Santos disse...

Cara, esse texto sobre o tempo está fantástico! Melhor crônica sobre o tema que vi até agora! Parabéns!