domingo, agosto 27, 2006

duas teorias, um maluco e nenhuma conclusão

eu sempre quis falar sobre a minha teoria da exceção, que tava acabando com qualquer tipo de projeto meu de sucesso social-profissional. Ela vem acompanhada da teoria dos 15 minutos, que no lugar de me reconhecer como um enrolado que vive atrasado, eu prefiro entender como um reforço social da brasilidade em sua essência mais anti-britânica, ou seja, pra tudo na vida, em suas devidas proporções de sazonidade e importância social, acredito que há uma tolerância recíproca de 15 minutos. pontualidade é mania de relógio, digital ainda, porque o meu da cozinha começa atrasar quando a pilha vai acabando. exatidão é coisa de máquina, mas deixa meu cabelereiro errar na simetria pra ver o escândalo que eu faço! uahuahuahauahuah
sério, depois da industrialização, da produção em massa, do modus operandi que a humanidade assumiu, a gente pegou a mania (mania mesmo, daqui há pouco passa, se Deus quiser!) de querer imitar as máquinas. bater cartão? só se for no centro, de um magnata distraído. parei com essas coisas, agora eu trabalho.

das últimas entrevistas que eu tinha feito, 4 de 5 eu apliquei a teoria dos 15 minutos. pensei comigo mesmo, "é Brasil, trânsito caótico. eles vão compreender, afinal, se eu trabalhar aqui vou com certeza chegar 15 minutos atrasados." bom, talvez eles não sejam tão brasileiros quanto eu. azar o deles, na minha rede do quintal só cabe uma pessoa mesmo. Curiosamente este estágio que eu consegui agora não houve uma combinação militar do horário pra entrevista. foi mais um "passa aqui daqui uma hora".

agora, a teoria da exceção é quase infalível. seja criativo e pense num motivo pra você fazer algo muito mais prazeroso ( e despendioso $$$) do que normalmente você faria. é simples, abuse de alguma situação explicando pra sua consciência (que provavelmente está sendo enviada pra cama mais cedo pela álcool. sempre tem cerveja a história.) que "faz tempo que você não via ele", "só hoje", ou "tô confiante que vou conseguir aquele trampo, depois eu pago".
Depois da terceira cerveja, de fato estamos quimicamente mais confiantes pra fazer qualquer coisa. foi assim que a minha mãe casou com o meu pai e o Lula deixou de ser operário pra virar político, mas no caso dele era pinga. brincadeira.

eu por exemplo já usei pra mim mesmo todos argumentos possíveis pra justificar baladas de segunda-feira, cheque especial e minas feias. uahuahuahauhauha... tô brincando, nada de minas feias. (perco a própria moral mas não perco a piada! humor antropofágico!)
e assim eu fui minando as possibilidades de uma evolução técnico-intelectual, já que me atrasava pra tudo, quando não, deixava de fazer o mais "ponderado" no momento. rotina e responsabilidades são jogados pra escanteio. pode ser um complexo Peter-Pan. opa, mas criança não bebe! então esquece...

o pior que é uma mania quase intrínseca. com o trabalho e a faculdade você não tem tempo nem pra fazer bobagem (além da própria atividade de trabalhar) nem mesmo energia. você entra "nos eixos" à força. imaginando que meu comprimisso com o estudos, que está ligado à uma atividade prazerosa, seria mantida nos fins-de-semana, pareceu-me, momentaneamente o fim da tese da exceção. pouco tempo, muitos compromisso. fazendo uso daquela cadernetinha pra fins de compromissos chamada a-g-e-n-d-a.

pois é, mas como a vida é interassante exatamente por não ser lógica-racional -- como o Henry Ford gostaria que fosse -- a tese continua em pé. semana passada driblei os deveres e aplique a tese com um argumento fácil "aniversário do cara, pô. uma vez por ano". agora esse sábado que até o meio-dia, uma hora, tinha uma programação cultural, se resumiu a passar vontade em ver incríveis e coloridos tênis de futsal e se contentar comprando um simplão, pra uma pelada meia-boca no fim da tarde com grandes amigos. ah, eu usei esse argumento também "pô Rafa, os caras são como irmãos pra você. aproveita o tempo que você tem com eles". uahuahuauaha usei mesmo. e fui terminar meu trabalho da facul lá pela meia-noite.

é justo. já tinha bebido a cerveja do sábado numa exceção na quinta. nesse dia o argumento foi "ah, já que estou aqui mesmo...", emendando um "você trabalhou a semana inteira, você merece vai...".
e assim vou levando a vida. David Harvey fala da nossa sociedade da acumulação flexível e desregulamentação do processo produtivo. faz sentido, sou bem flexível na acumulação de coisas e acredito que levo a sério a desregulamentação. até porque o que é regulamentado geralmente não é a meu favor.

falando em pós-modernidade, tem essa rapidinha.
tudo te estimula a ser o primeiro ou o melhor. se é que existe algum "número 1" por aí, evidente que não sou eu. desencanei de ser o the best. tentei o caminho contrário: ser o anti-melhor-anti-herói (estilo Jean-Paul Belmondo no Acossado); o importante é ser (ou aparentar ser, já que estamos no século XXI) o "mais" em alguma coisa. buenas, depois de naufragar alguns relacioamentos pessoais, comecei a questionar a minha razão, e em alguns momentos, pensei na possibilidade de eu ser meio doido mesmo. daí, numa bela manhã, eu abro o jornal e leio uma matéria sobre um cara que seqüestrou uma menina de 10 anos e a trancou no porão por oito anos. mano, eu sou o louco? impossível competir com uns caras desses.

é, é isso mesmo. esse é o problema dessa sociedade pós-moderna refém das grandes corporações: competição desleal.

então tá. todos os comentários chulos são brincadeiras, e todos os argumentos de exceção são verdadeiros mesmo. é uma conversa difícil que eu tenho que ter com a minha consciência. antes do primeiro copo é preciso de bons argumentos aristotélicos pra persuadi-la.
é possível uma revogação da lei teoria da exceção, porém, a teoria dos 15 minutos, continua intacta.
só não páro de beber porque senão não teria mais nada pra escrever aqui.
isso que eu poupo vocês das piores histórias. (sei lá, meu irmão lê isso aqui, e vocês sabem, ele conhece minha mãe).
já dizia a carroceria de um caminhão:
"todo mundo vê as pingas que eu tomo, niguém vê os tombos que eu levo."

5 comentários:

Anônimo disse...

pelo geito vc já tem tese pro mestrado

Anônimo disse...

sonhei q vc era o elvis.
de capa branca e tudo.

Rafael disse...

eita!
seja você quem for, eu te amo.
até hoje eu sei imitar ele cantando "If I Can Dream" de terno branco e cabelo lambido. (nesse momento escorre uma lágrima do meu rosto).
tenho um quadro do Elvis no meu quarto, junto com o do Fidel e do Charles Chaplin. do lado do meu calendário pornô de borracharia...uhauahuahauh (brincadeira).
outro dia eu tive um sonho muito louco com meu pai, meu irmão, Deus e Jesus Cristo assistindo à "1984" numa versão, acreditem, mais punk.
sério. sonho maluco. até registrei no papel.

Anônimo disse...

Eu tambem tenho 1 teoria. A teoria de que quando param de comentar por aqui é pra vc escrever mais, pq o texto anterior já surtiu o efeito esperado.

Rafael disse...

hmmm...boa teoria.