domingo, agosto 13, 2006

cooptado pelo sistema - afinal, cerveja não se paga sozinha

o problema mesmo foi quando alguém resolveu nomear o trabalho como entidade transcedental de auto-realização supra-humana. como se tivéssemos uma ânsia ontológica ao trabalho. eu até diria que isto é ideologia 'tio patinhas', algo ligado à culpa judaico-cristã, porém os japoneses com aquela mania deles de serem ultra-trabalhadores joga minha teses pelo ralo. o pior é que até os clássicos inimigos do capitalismo (os vermelhos) também defendem o trabalho como 'forma de emancipação' ou talvez de 'formação social' ou, sei lá, algo do gênero, não lembro o título da cartilha que me deram.
lembro que lá pelos 16 anos, onde eu apenas ia pro colégio de manhã e nadava/malhava/dormia na rede à tarde, meu irmão mais velho me deu um texto do Engels pra ler. Se chamava algo do tipo 'como o trabalho transforma o macaco em ser humano'. li, li, não entendi muita coisa, e continuei na mesma. macaco é macaco, ser humano é ser humano e trabalhar continua sendo um saco. minha sorte foi que, movido por sentimentos profundos, distraído pelos livros de casa, topei com uma clássico, que pelo título me cativou: O Direito à Preguiça, do já citado aqui, Paul Lafargue. me tornei imune à ideologia do trabalho e ao próprio trabalho em si.

pois bem. então o trabalho, sabe-se lá porquê, é um tipo de benção social. agora dizer que é natural já é provocação. os próprios índios brasileiros não tinham essa concepção. não trabalhavam pra acumular excedente (tudo em excesso faz mal, já dizia minha mãe), nem tinham Estado pra se subordinarem. trabalhavam só o necessário. talvez por isso foram dizimados: mão-de-obra-barata-porém conscientemente-desqualificada.
acho que o índio brasileiro está para os colonizadores assim como o lúmpen está para os comunistas...

meu ponto é o seguinte: se eu acordo cedo, faço alguma atividade, e ao meio-da eu almoço, logo em seguida eu tenho vontade de DORMIR e não de trabalhar! natural é a sesta, não o trabalho!
é uma palhaçada a sesta não estar na Constituição. por isso o país não vai pra frente.

enfim. contrariando todas as expectativas, fazendo o DowJOnes e a Bovespa despencarem em suas ações, eu, que vos escrevo, voltei a trabalhar, depois de um período de férias, e um migué na Prefeitura.
você percebe que leva jeito pra coisa logo de cara: no segundo dia de trabalho meu colega disse que eu devia morar no Rio de Janeiro.
e trabalhar é aquele parodoxozinho: desempregado você tem tempo pra estudar um monte de coisa, mas não tem meios ($$$) de aplicar. trabalhando você obtém os meios mas não tem mais tempo.
e a bebedeira no final-de-semana é consentida e aceita socialmente. não é mais um "porre existencial", você não tem mais tempo pra pensar nisso, é apenas um porre de "tô cansado".

a arte, o futebol, a música, agora foram preteridos pelo trabalho. fim-de-semana ainda preciso estudar e fazer trabalhos da faculdade (instuição e mental).
quase que minha psicóloga dança também. até ela foi prejudicada. na última sessão eu queria falar umas coisas mais existencialistas, até tristes, mas pra sair do trabalho e chegar à tempo lá, eu tive que, literalmente, ir correndo. a real é que eu comecei a liberar endorfina pelo atividade física e cheguei bem feliz na terapia. meu bom humor repentino não possibilitou analisar umas coisas meio tristes...uhauhauahuahauhauh

buenas. me voy, que amanhã é dia de branco (que nojo!).
é bem provável que eu demore um pouco mais pra escrever. espero voltar a escrever aida empregado. no fundo, no fundo, eu tenho receio do meu chefe descobrir logo que eu sou uma farsa.
enquanto isso continua a dialética: trabalho pra beber x bebo porque trabalho.

tchau.

11 comentários:

Anônimo disse...

Pq vc ñ experimenta trabalhar bêbado?

Anônimo disse...

Poha, perfeito, anonimo numero um, assim ele junta o inutil ao desagradavel
Aposto que sugestoes como esta que estimulam ele a escrever mais por aqui

Rafael disse...

uhauahuahau
pode ter certeza. queria muito perder us 10 minutos na porta do trampo tentando colocar a chave pra abrir. ou então mijar na tampa da privada, não dar descarga, não lavar as mãos e sair cumprimentando o pessoal. mas legal que isso só se o meu próprio chefe trabalhasse breaco e deixasse a gente criar do jeito que quiséssemos! no dia que eu ver meu chefe bêbado não chego mais no trabalho antes das 11h...

Anônimo disse...

Porres existenciais são os melhores!
Vc já viu alguem filosofar melhor que um bebado?

Anônimo disse...

Depois eu que sou engraçado né véio?

Rafael disse...

sinceramente filosofia de bêbado e discursos de intelectuais-de-piscina já não me agradam tanto.Se bem que a última que eu escutei fez bastante sentido. Meu amigo bêbado, voltando da balada, meio puto, me disse: ' o que significa a sociedade quando você não se sente parte dela?'
foi de bêbado frustrado na balada, mas fez bastante sentido pra mim. De fato, o conceito de sociedade se perde quando vc não se vê inserido nela, ou pertencente à ela. Ele lançou essa pérola, mas depois falou mais umas dez bobagens até chegarmos em casa...

Anônimo disse...

Filosofia de bebado eu conhecia, mas o que é discurso de intelectuais de piscina? Tem algo haver com muito sol na cabeça?

falows

Anônimo disse...

Ah, agora acabou o papo existencialista-duas-pedras-na-mao...
ufa, finalmente, nao tava aguentando mais
agora vc já pode me convidar pra tomar umas cervejas e me livrar da maisa,que é outra que eu nao aguento mais.

Anônimo disse...

gostei!

Rafael disse...

respondendo aos anônimos:
1- intelectual de piscina são aqueles caras que estudam muito, mas não fazem nada muito significativo na prática; gostam da pompa de serem pós-graduados-doutorados na Academia, e vivem atrás do muro de seus condomínios fechados. Bebendo seus uísques, sabem o porquê da sociedade, a solução dela, filosofando tudo isso na beira da piscina. Estilo Fernando Henrique, Arnaldo Jabor...
2- Gustavo, sou sentimental mas não sou a Oprah, portanto não posso resolver seus problemas matrimoniais. Jogue mais bola e leia mais livro. Discutir relacionamento não leva à nada, só a mais discussões. ALiás, namorar é a aceitação social da discussão do relacionamento. em nenhum outro relcionamento (amizade ou profissional patrão/trabalhador) se discute tanto o relacionamento quanto no namoro. O casamento não, porque o casamento já não é mais um relacionamento... uahuahua (tô brincando).
3- obrigado.

Anônimo disse...

Você escreve muito bem. Continue sendo louco. Continue fazendo parte das exceções. É um pouco estranho mas acho q assim podemos ver o mundo do lado de fora. Pode ser ruim, mas acho q pode ser bem melhor. Se é que você me entende.
A normalidade não existe...uau!