segunda-feira, maio 15, 2006

um relato e um relatório

Sabe que eu fico feliz pelas pessoas que perguntaram sobre as minhas pseudo-crônicas, e pediram pra eu voltar, porque eu percebi que, de fato, EU acho engraçado as coisas que eu escrevo. Desculpe se eu não fui humilde, mas é que o meu humor é a minha cara. Eu rio de mim mesmo. E mesmo que às vezes os anônimos me desistimulem, agora é tarde, porque estou convencido, em minha desvairada vaidade kerouacniana, que tem tanta porcaria publicada por aí, que então minhas pseudo-crônicas são fichinhas.

Semana passada tive que faltar à faculdade pois fui ver uma palestra que dizia discutir a Propaganda Social. Quando fui jsutificar minha falta à minha professora querida, ela disse que "tudo bem" que ela "também queria ter visto", por isso fiz esse relatório pra ela:

Tio Patinhas vai pro Céu
Prometi à mim mesmo que não perderia mais o meu tempo assistindo palestras de publicitários. Depois de ver e ouvir, no 8º Top de Criação Publicitária, aplausos e expressões como "genial!" para um dos anúnios mais machistas que já vi na minha vida, percebi que essas palestras apenas reunem publicitários com o egos maiores que o auditório, e um auditório com uma capacidade crítica menor que a humildade destes publicitários "geniais".
Mas quando recebi um convite sobre a Propaganda e a Cultura de Paz, com um debate sobre a importância da propaganda social, imaginei que esta valeria à pena, quando a discussão fosse a função social da Propaganda, e como trabalhar com esta filosofia.
O auditório do MIS estava cheio, havia o Olivetto, câmeras, máquinas fotográficas, e um público menos jovem do que esperava. Com um atraso habitual tupiniquim, do qual não critíco porque compartilho do hábito, uma representante do IPAZ fez uma interessante introdução ao debate. Questionou a propaganda e sugeriu que, se a Publicidade atinge em média 80% da população mundial, se a Publicidade consegue incutir vontades e desejos (ou pelo menos despertar estes desejos), deveríamos reinventar a Propaganda, para disseminar a Cultura de Paz, incutir valores de PAz, além de valores consumistas, e utilizar a mídia como um veículo de transformação social.
Depois desta espetada, convidou 3 representantes da Mìdia, onde em frustrantes 10 minutos, cada um disse, do seu modo, que a Paz era uma sensação boa e necessária, e comentou algo de sua própria atuação em relação ao 3º setor: a Rádio Eldorado com suas campanhas de cidadania, a Rede Record reformando praças ou algo assim, e um interessante jornalista que criou uma revista para divulgar os trabalhos de ONGs e fundações no 3º setor.
Função social da Publicidade? Poderia ter sido agora quando subiram ao palco Olivetto, o Luis Lara e Paulo Zoega da QG. MAs não. O Olivetto com seu carisma e pressa, foi o primeiro a falar. Comentou que sempre achou importante as propagandas para entidades sociais, desde o começo de sua carreira já tinha esta postura, elogiou a geração de publicitários passada, mostrou um vídeo seu premiado sobre o preconceito contra trabalhadores com mais de 40 anos, comoveu as pessoas, recebeu aplausos, agradeceu e foi embora. Anotei sua frase que para criarmos uma linguagem internacional devemos ser o mais local possível. E ainda que as campanhas sociais devem ter propostas paupáveis, que com a propaganda possam de fato criar algum efeito, produzir alguma coisa, e não ser apenas um "bonitinho vídeo comovente e passageiro". Lembrou que a Responsabilidade Social das Empresas era para ganhar dinheiro e fazer uma imagem boa com os consumidores.
Tchau Olivetto, foi um prazer te ver de perto e reparar como você parece o Denny DeVitto. Aí começou o Luís Lara. Vou resumir o blá blá blá dele, que por sinal era um discurso muito semelhante com o de um político: não basta a marca focar apenas o funcional e o emocional, deve ir além, chegar num campo filosófico. A identificação do consumidor com a marca deve ser muito mais forte que apenas no campo emocional. Este é o século da Gestão de Marcas, onde o consumidor deverá escolher sua marca em relação ao compromisso social dela, e que a Publicidade deve introduzir os valores da Responsabilidade Social nas marcas. Devemos "ganhar dinheiro fazendo responsabilidade social". Uma frase um tanto contraditória para o sistema capitalista, a não ser que eu esteja levando muito a sério o marxismo.
Luis Lara defendia a Natura e o Banco Real como exemplos de responsabilidade social, quase como se fosse um membro destas empresas. Uma ragasção de seda enjoativa, um discursinho mole onde dizia nas entrelinhas: a Natura e o Banco Real têm, em seus valores como empresa, a solidariedade, a Paz, e o desenvolvimento sustentável. "São valores deles, não foi a Lew, Lara que disse para eles serem assim". Ok, LUis, eu acredito. O tímido moço da QG, um tanto sem jeito, complementou a fala do Luis, exemplificou sua agência que não trabalha com Álcool e Cigarros (interessante), e disse que, usando o exemplo dos anúncios da FININVEST - se prepara - " a propaganda ajuda a criar critérios e informações que ajudam os espectadores". Poxa, esse deveria ser um papel social interessante da Publicidade, mas por favor, está longe de acontecer. Ainda mais ele que mostrou este anúncio que a QG fez (olha o mau gosto!): http://www.ccsp.com.br/ultimas/noticia.php?id=20448
Quando tudo parecia ser aquela velha conversinha de publicitários bem-sucedidos, do nada, aparece ao palco Stephen Kinitz, que mesmo com um discurso meio neo-liberal, fez uma crítica dura e direta à Natura e ao Banco Real, dizendo que estas empresas, com suas próprias fundações, acabaram com o 3º setor. Além de criticar o Estado por cobrar altos impostos e não devovler à população, com um bom-humor e de modo mais coloquial, explicou que as Empresas grandes nunca tratam de assuntos "cabeludos", como prostituição infantil, abuso sexual dentro de casa, e etc. Lembrou que as fundações das próprias empresas são apenas mais uma forma de melhorar a imagem das próprias, com o intuito mais comercial ( em aumentar suas vendas) do que social. E com isso, atrapalhou e concorreu com a busca por recursos com entidades "100% sociais" como a AACD, a APAE e etc.
Os publicitários ficaram numa saia-justa, houve uma discussão civilizadíssima e promessa de novas discussões. A platéia reforçou à críticas aos anúncios e às empresas (que não expoem negros e outras minorias em seus comerciais e que de fato, seus interesses são puramente comerciais).
Para encerrar, um tal de Eino Feijó, politicamente correto, não tomou partido e apenas disse que debates como esse enobrecem as pessoas, e vão ajudar a construir um país melhor e qualquer blá blá blá parecido.
Para quem já fazia caricaturas em seu caderno ao invés de anotar a rasgação de seda dos publicitários, até que este final de discussão, saia-justa, e, vamos ser francos, o tirar a máscara de "somos uma empresa boazinha" foi interessante. Aprendi um pouco sobre ONGs e seus trabalhos no 3º setor. Aprendi que publicitários bem-sucedidos continuam sendo publicitários bem-sucedidos, e que ser publicitário é propagandear os seus clientes mesmo que pessoalmente, mesmo numa palestra, não importa aonde.
E espero que a função social da Publicidade não se resuma a defender um banco que refloresta um pé de eucalipto enquanto obtém um dos maiores lucros líquidos do país, o mesmo com uma desigualdade social gritante.

5 comentários:

Anônimo disse...

como assim "os anônimos me desestimulam"? estou ofendida.

mas o "relatório" até que ficou bom.

vc ainda está desempregado?

Rafael disse...

desculpe anônima... esqueci, você é das boas...
pois é, continuo desempregado, talvez seja um índice o fato de publicar uns 3 textos por semana...
mas sem disciplina, claro.

Anônimo disse...

I say briefly: Best! Useful information. Good job guys.
»

Anônimo disse...

Relatório?
Longo e cansativo..

Rafael disse...

é porque vo-cê-não-é-da-á-re-a.
quer um relatório curto, então vai ler sinopse de filme do SBT.